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Damião Fernandes

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Baleia Azul, o véu de Maya e Schopenhauer

19/04/2017 às 17h38 • atualizado em 19/04/2017 às 17h39

Arthur Schopenhauer (1788 - 1860)

Infelizmente, todos nós pagamos o grande preço pela ausência do diálogo afetivo e pela presença impositiva de uma intolerância radical nas inter-relações pessoais. A ausência do diálogo, desumaniza o ser humano e embrutece a vida, gerando indivíduos que não resistindo a uma tamanha secura de afetos e de valores, resolve ele mesmo dar cabo a tal processo, matando a si mesmo. Nesse caso, o suicídio é sempre uma tentativa de resposta ao ‘não-sentido da existência’, ao ‘absurdo do agora’ ou ao embrutecimento da vida. A atual sociedade do suicídio é a mesma que é indiferente à dor do ‘outro-semelhante’ que cruza por ele na rua, no supermercado, no estacionamento ou na Igreja.

A sociedade do suicídio é a mesma que discrimina negros, pobres e mulheres. É a mesma que levanta a bandeira do infanticídio para promover o empoderamento do feminino. A sociedade do suicídio é a mesma que assassina Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais ou Transgêneros. O “Baleia Azul” é mais um triste processo sociocultural de autocídio que silenciosamente se aloja nas mais diversas estruturas de nossa sociedade tecnológica.

No caso específico do “Jogo Baleia Azul”, o que nos estarrece é justamente a dureza e a violência da realidade que ele re-produz: nossa sociedade atual está inserida num processo silencioso de suicídio contínuo, mas não sistemático. Algumas vezes, um suicídio social e político, suicídio moral e religioso, outras vezes apenas um suicídio subjetivo individual. O “Jogo Baleia Azul”, devendo ser um jogo lúdico e de entretenimento, apresenta-se como a revelação quase apocalíptica da sociedade fissurada, confusa e adoecida em que vivemos.

O “Baleia Azul” por mais trágico que se nos apresente, ao mesmo tempo nos possibilita o descortinamento da condição humana atual. É o grande véu de Maya que se levanta sob os nossos olhos para que seja possível assim, enxergarmos a realidade, desembrutecer a vida e quem sabe tornarmo-nos mais cheios de compaixão pela dor alheia.

Segundo o filósofo alemão Schopenhauer: “Quando o véu de Maya, o princípio de individuação, se levanta diante dos olhos de um homem, a ponto de este homem já não fazer uma distinção egoísta entre a sua pessoa e a de um outro, quando ele participa tanto nas dores do outro como se fossem suas, e assim chega a ser, não só muito caridoso, mas completamente pronto a sacrificar a sua pessoa, se pode com isso salvar a de muitos outros, então é evidente que este homem, que em cada ser reconhece a si mesmo no que tem de mais íntimo e mais verdadeiro, considera também as dores infinitas de tudo aquilo que vive como sendo as suas próprias dores, e assim faz sua a miséria do mundo inteiro. Daí em diante, nenhum sofrimento lhe é estranho. Todas as dores dos outros (…) pesam sobre o seu coração como se fossem suas.”

O Jogo Baleia Azul é um tipo de véu de Maya que é levantado sob os nossos olhos, que nos inquieta e nos instiga a sairmos do egoísmo e participarmos da dor do outro, chegando ao ponto de tornar-se caridoso e “pronto a sacrificar a sua pessoa, podendo com isso salvar a vida de muitos outros”. De acordo com Schopenhauer, de tempo em tempos históricos, torna-se necessário que na vida da humanidade, seja levantado o véu de Maya que nos ajuda a enxergarmos a realidade de forma honesta e assim, nos tornarmos em seres de compaixão.

Damião Fernandes

Damião Fernandes

Damião Fernandes. Poeta. Escritor e Professor Universitário. Graduado em Filosofia. Pós Graduado em Filosofia da Educação. Mestre e Doutorando em Educação pela (UFPB). Autor do livro: COISAS COMUNS: o sagrado que abriga dentro. (Penalux, 2014).

Contato: [email protected]

Damião Fernandes

Damião Fernandes

Damião Fernandes. Poeta. Escritor e Professor Universitário. Graduado em Filosofia. Pós Graduado em Filosofia da Educação. Mestre e Doutorando em Educação pela (UFPB). Autor do livro: COISAS COMUNS: o sagrado que abriga dentro. (Penalux, 2014).

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