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Francisco Cartaxo

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50 anos do golpe (2)

01/04/2014 às 17h01

Tramava-se a deposição de Getúlio Vargas desde sua posse. Tudo se encaminhava para esse desfecho, após o atentado ao jornalista Carlos Lacerda, em 5 de agosto de 1954, no qual morreu o major Rubens Vaz. O episódio desencadeou o processo final que incluiu à caça paralela aos executores e mandantes e, de quebra, a descoberta de malfeitorias praticadas pela Guarda Pessoal de Vargas, chefiada por Gregório Fortunato, gaucho de sua inteira confiança. Os chefes militares exigiram a renúncia de Getúlio, o governo então já imobilizado e tonto. Seria o fim do populismo de esquerda no Brasil. 

Mas não ainda. Com um tiro no próprio peito, Getúlio mudou o rumo da história. Radicalmente. O tiro e uma carta. A carta-testamento. Escrita para as massas, a carta virou peça de resistência popular. A comoção provocada pelo suicídio já bastaria para mobilizar a população contra os golpistas. Mas as razões do gesto, contidas na carta, traçaram o roteiro das manifestações do povo, impactado pela morte trágica do grande chefe. 

Vale a pena lembrar trechos da última carta de Vargas. 

“Sigo o destino que me é imposto. Depois de decênios de domínio e espoliação dos grupos econômicos e financeiros internacionais, fiz-me chefe de uma revolução e venci. Iniciei o trabalho de libertação e instaurei o regime de liberdade social. Tive de renunciar. Voltei ao governo nos braços do povo. A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho.” (…) “Quis criar a liberdade nacional na potencialização de nossas riquezas através da Petrobras, mal esta começa a funcionar, a onda de agitação se avoluma.” 

“Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo, renunciando a mim mesmo, para defender o povo que agora se queda desamparado. Nada mais vos posso dar a não ser meu sangue. Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto minha vida. Escolho esse meio de estar sempre convosco. Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado. Quando a fome bater a à vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e vossos filhos. Quando vos vilipendiarem, sentireis no meu pensamento a força para a reação. Meu sacrifício vos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta. Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência. Ao ódio respondo com o perdão. E aos que pensam que me derrotaram respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém.”

“Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei minha vida. Agora ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História.”

O resultado, todos conhecemos. O povo ocupou as ruas no Brasil inteiro, deixando acuados os que, horas antes, impunham a renúncia de Vargas. Não teve jeito. Tiveram que esperar 10 anos.  E ventos mutantes do curso da história. Conseguiram com o golpe de1964, dado em nome família, com Deus pela liberdade. Contra a corrupção e a subversão.

Francisco Cartaxo

Francisco Cartaxo

Francisco Sales Cartaxo Rolim foi secretário de planejamento do governo de Ivan Bichara, secretário-adjunto da fazenda de Pernambuco – governo de Miguel Arraes. É escritor, filiado à UBE/PE e membro-fundador da Academia Cajazeirense de Artes e Letras – ACAL. Autor de, entre outros livros, Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras no cerco ao padre Cícero.

Contato: [email protected]

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Francisco Cartaxo

Francisco Sales Cartaxo Rolim foi secretário de planejamento do governo de Ivan Bichara, secretário-adjunto da fazenda de Pernambuco – governo de Miguel Arraes. É escritor, filiado à UBE/PE e membro-fundador da Academia Cajazeirense de Artes e Letras – ACAL. Autor de, entre outros livros, Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras no cerco ao padre Cícero.

Contato: [email protected]

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