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Damião Fernandes

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A estupidez do Pastor e o Boticário

05/06/2015 às 12h00

Diante das atuais discussões – beirando um radicalismo intolerante em muitas delas – sobre o homossexualismo e um comercial de o Boticário para o dia dos namorados, onde traz casais homossexuais e heterossexuais, configurando entre eles uma mesma liberdade pessoal da troca de presentes e afirmando, mesmo que subjetivamente, a possibilidade de uma união equiparada entre os dois grupos, foi motivo suficiente para que desencadeasse uma campanha, principalmente por parte dos evangélicos, de boicoite aos produtos da perfumaria O Boticário. Até mesmo um líder religioso protestante, empunhou com afinco bélico, a bandeira em defesa de um moralismo religioso embasado por um fundamentalismo puritanista.

Sobre a “moralidade religiosa” é preciso esclarecer, que em nenhum momento, das vezes em que Jesus se encontra com aqueles pecadores públicos, transgressores de um  tipo de moralidade pública – Madalena, Mateus, Zaqueu, etc – trata-os de maneira intolerante, agressiva e intransigente, onde fica misturado numa coisa só o “pecador” e a sua prática. O mestre sabia muito bem que a “prática de pecado” daqueles, não tinha poder em definir diabólica e eternamente a sua condição de pessoa-filho de Deus.

Portanto, nenhum homem pode ser enjaulado numa gaiola de normas e sentenciado à perdição total, sem que seja garantido a sua irreversível condição de possuidor de uma dignidade ontológica. Se Madalena, Mateus e Zaqueu são Pessoa-filho de Deus, todos as lésbicas, gays, bissexuais, travestis e Transexuais também o são. Não podemos confundir o que eles são – Pessoa-filho de Deus – com o que eles fazem com a sua sexualidade. Com isso, não quero afirmar, que se deva ignorar o corpo doutrinário das diferentes religiões cristãs, em hipótese nenhuma. Apenas é preciso não abrir mão de se ter um olhar de misericórdia que deva estar acima das sentenças moralizadoras. Como afirma o Papa Francisco que o anúncio do Evangelho não deve ser o anuncio de uma ideologia, mas de uma pessoa.

Deixando bem claro. Particularmente, vejo a prática homossexual como pecado. Tenho amigos, colegas de estudo e de trabalho que tem práticas homossexuais e nunca me furtei de deixar clara essa minha posição, que está baseada não somente nos textos biblicos, mas também na Sagrada Tradição e no Magistério da  Igreja, que apresentam posições claras com relação à pecaminosidade da prática homossexual. Não considero-me homofóbico. Apenas tenho um conceito formado a partir de uma cosmovisão biblica e que isso não me dá o direito de julgar ou condenar àqueles que tem a liberdade de pensar o contrário e optar pelo contrário. Penso que a recomendação de Jesus sobre "tirar primeiro a trave do teu olho para que depois seja possivel ver com clareza o cisco do olho do teu irmão", também serve para estes casos.

A Igreja Católica compreende que aqueles que apresentam tendências homessexuais, vivem uma angustiante provação: “Um número considerável de homens e de mulheres apresenta tendências homossexuais profundamente radicadas. Esta propensão, objetivamente desordenada, constitui, para a maior parte deles, uma provação”. (CIC, parágrafo 2358). Portanto, a questão não está apenas no campo da discussão simplista e moralista do "permitido ou proibido". É preciso, antes de tudo, um olhar de compaixão e misericordia que gerem atitudes de respeito e delicadeza para com estes irmãos e irmãs.

E ainda sobre os homossexuais, a Igreja afirma que,

            “Devem ser acolhidos com respeito, compaixão e delicadeza. Evitar-se-á, em relação a eles, qualquer sinal de discriminação injusta. Estas pessoas são chamadas a realizar na sua vida a vontade de Deus e, se forem cristãs, a unir ao sacrifício da cruz do Senhor as dificuldades que podem encontrar devido à sua condição”. (CIC, parágrafo 2358)

Atualmente, a opinião pública vê a Igreja como a grande perseguidora dos homossexuais, algo desmentido pelo Catecismo da Igreja Católica, que usa palavras de proximidade e amor quando fala deste tema. De fato, mostra como estas pessoas devem "ser acolhidas com respeito, compaixão e delicadeza".

E o Magistério ainda continua afirmando que "A Igreja oferece ao atendimento da pessoa humana aquele contexto de que hoje se sente a exigência extrema, e o faz exatamente quando se recusa a considerar a pessoa meramente como um 'heterossexual' ou um 'homossexual', sublinhando que todos têm uma mesma identidade fundamental: ser criatura e, pela graça, filho de Deus, herdeiro da vida eterna" (cf. Carta sobre o atendimento pastoral das pessoas homossexuais, § 16).

Portanto, as verbalizações intolerantes do Pastor presidente da Igreja Vitória em Cristo, o Sr. Silas Malafaia, representam apenas as suas subjetividades ortodoxas individuais. Nem mesmo considero que tais pensamentos, tenham fundamentos cristão, visto que, tais anúncios são carregados de violência desproporcial. Toda palavra ou ação que expressem ou induzam à uma violência desproporcional ao outro não se assemelha em nada às palavras e ações do Cristo, que preferiu sofrer a violência dos seus algozes que levantar a espada contra estes.

Por isso, não acredito num tipo de Cristianismo, que é transformado em regimento de quartel, onde o policiamento do erro é mais importante que o estímulo ao acerto e a promoção do Outro que luta para acertar. Não acredito num tipo de Cristianismo que instrumentaliza a Revelação Bíblica, transformando-a num amontoado de prescrições moralistas que serve mais para 'punir' os desviados do que para acolher os distantes ou consolar os que choram. Não acredito num tipo de Cristianismo que entende o Reino dos Céus como um lindo condomínio fechado, onde entram somente aqueles que participantes da minha agregação, me bajulam e massageiam o meu ego. Não acredito num tipo de Cristianismo que retira do seu centro Cristo e o coração do seu Evangelho: A misericórdia. Não acredito num Cristianismo, mais parecido como máquina separadora de corpos.

Damião Fernandes

Damião Fernandes

Damião Fernandes. Poeta. Escritor e Professor Universitário. Graduado em Filosofia. Pós Graduado em Filosofia da Educação. Mestre e Doutorando em Educação pela (UFPB). Autor do livro: COISAS COMUNS: o sagrado que abriga dentro. (Penalux, 2014).

Contato: [email protected]

Damião Fernandes

Damião Fernandes

Damião Fernandes. Poeta. Escritor e Professor Universitário. Graduado em Filosofia. Pós Graduado em Filosofia da Educação. Mestre e Doutorando em Educação pela (UFPB). Autor do livro: COISAS COMUNS: o sagrado que abriga dentro. (Penalux, 2014).

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