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Gildemar Pontes

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A Lógica do Burro, por Carlos Gildemar Pontes

12/08/2018 às 18h20

Foto: Google

Por Carlos Gildemar Pontes

Todo burro que se preza é teimoso. Se tiver capim de um lado da rua, ele vai pro outro lado, atravessando no meio dos carros e causando perigo de morrer e de provocar acidentes. Será que o burro gosta de levar cargas pesadas? Pera aí, gosta não, ele as recebe no lombo. Agora eu fiquei em dúvida! De todo modo, o burro carrega o fardo dos outros, geralmente sem ganhar mais do que uma ração de capim, milho ou é solto para comer migalhas pela rua. Os que se aventuram pelos campos atrás de liberdade têm que fazer longas caminhadas atrás de água e comida, exercendo, por assim dizer, a sua natureza animal.

Até aí concordamos que a natureza leva o seu curso há milhares de anos, providenciando as mudanças que o planeta precisa para estabilizar a vida. E quando falamos em homens, seres dotados de razão, que segundo algumas crenças são a imagem e semelhança de Deus? Os homens interferem na natureza desde que os nossos primos ficavam pendurados nos galhos, olhando a paisagem. Neste momento, um ser supremo diferenciou esses antropoides de nós, fazendo-nos de argila e sopro. Uns dizem que somos bem parecidos com o criador, outros dizem que somos seres desviantes criados por Prometeu, o titã metido a deus que desafiou Zeus e criou criaturas como ele, revoltadas pela necessidade de usufruir do fogo da sabedoria. Essas são apenas duas teorias míticas ligadas à necessidade que o homem tem de justificar a sua natureza de subserviência ou rebeldia.

E fomos nos misturando na terra, homens, macacos, burros, papagaios, jacarés, tatus e outros bichos da natureza. Dos que desenvolveram estratégia de sobrevivência, apenas o burro saiu em desvantagem. Fora do seu habitat sobrevive com a ajuda do homem. E sabemos nós que existem homens bons e homens maus. Os homens bons são a imagem e semelhança de Deus e os homens maus são a imagem e semelhança de…? Agora deu um nó na minha cabeça. Quem criou o bem e quem criou o mal? Talvez o burro possa responder, ou melhor, possa justificar. Se tudo que há foi criado por Deus, então tudo que somos, fazemos, recriamos herdamos dele. Não precisa teoria para entender isso. Mas o burro não sabe teoria. Tudo que precisa saber é o que está na sua natureza de burro.

Agora vou ter que perguntar aos homens, que sabem tudo, que explicam tudo, que criam até teorias para separar os homens, segundo as suas crenças, raças, etnias… talvez seja preferível pensar como o papagaio.
Uma descoberta que me deixou muito curioso foi a de que os papagaios têm mais neurônios que os primatas. E como ficamos nesta angústia de compreender o bem e o mal?

A cientista brasileira Suzana Herculano-Houzel, professora de neurociências, apresentou como resultado da sua pesquisa na universidade de Vanderbild um estudo que revela em alguns pássaros uma quantidade maior de neurônios que em primatas.

Pensemos, pois, que, se com a nossa capacidade mimética podemos cantar, com a nossa racionalidade podemos criar instrumentos para auxiliar o canto e com a nossa consciência escolher o bem e o mal, por que aprisionamos os pássaros que cantam?

Enquanto penso tudo isso, o burro faz o seu trabalho de carregar o fardo no lombo. Pobre burro. Sem consciência, sem saber o por quê das coisas, continua levando peia no lombo por homens que apanham de outros homens, que estão no topo da opressão. São os homens de bem que estão acima do mal. Eles sabem o que é bom para macacos, papagaios e até para os homens que estão abaixo, na miséria da ignorância.

Gildemar Pontes

Gildemar Pontes

Escritor e Poeta. Ensaísta e Professor de Literatura da Universidade Federal de Campina Grande – UFCG, em Cajazeiras. Graduado em Letras pela UFC, Mestre em Letras UERN. Doutorando em Letras UERN. Editor da Revista Acauã e do Selo Acauã. Tem 22 livros publicados e oito cordéis.

É traduzido para o espanhol e publicado em Cuba nas Revistas Bohemia e Antenas. Vencedor de Prêmios Literários locais e nacionais. Foi indicado para o Prêmio Portugal Telecom, 2005, o principal prêmio literário em Língua Portuguesa no mundo. Ministra Cursos, Palestras, Oficinas, Comunicações em Eventos nacionais e internacionais. Faixa Preta de Karate Shotokan 3º Dan.

Contato: [email protected]

Gildemar Pontes

Gildemar Pontes

Escritor e Poeta. Ensaísta e Professor de Literatura da Universidade Federal de Campina Grande – UFCG, em Cajazeiras. Graduado em Letras pela UFC, Mestre em Letras UERN. Doutorando em Letras UERN. Editor da Revista Acauã e do Selo Acauã. Tem 22 livros publicados e oito cordéis.

É traduzido para o espanhol e publicado em Cuba nas Revistas Bohemia e Antenas. Vencedor de Prêmios Literários locais e nacionais. Foi indicado para o Prêmio Portugal Telecom, 2005, o principal prêmio literário em Língua Portuguesa no mundo. Ministra Cursos, Palestras, Oficinas, Comunicações em Eventos nacionais e internacionais. Faixa Preta de Karate Shotokan 3º Dan.

Contato: [email protected]

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