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José Antonio

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A moderna Indústria da Seca

16/02/2013 às 12h30

O ministério da Integração encaminhou um relatório ao TCU e ao Ministério Público Federal, onde aponta que a principal obra do PAC no Nordeste, tem indícios de fraude em cinco dos 14 lotes da transposição do São Francisco. Em outras palavras: mais dinheiro no bolso das empreiteiras sem realizar os serviços.

Foram listadas irregularidades nos lotes 1, 2, 3, 9, 10 e 11. Qual o tamanho do prejuízo aos cofres públicos, esta resposta quem vai nos fornecer é o TCU, depois que realizar os cálculos. Esta obra que foi prometida e iniciada pelo ex-presidente há dez anos, em 200,  e vem desde então se arrastando feito cobra pelo chão quente do nordeste.

O mais grave ainda é que o governo contratou uma empresa para fiscalizar a obra e está sendo também acusada de acobertar as falhas. As empresas, que participaram do conluio, além da devolução de valores recebidos, poderão ficar de fora por dois anos de participar de concorrências públicas. Os casos apurados são relativos ao período de março a dezembro de 2010 e deve ser esta a principal causa da paralisação destas obras aqui na nossa região. Mas será que serão mesmo punidas?

Dez anos depois, já foram gastos oito bilhões e quatrocentos milhões de reais nas obras da transposição e até esta data não chegou por aqui nenhuma gota d´água. Todo este volume de recursos daria para construir em cada propriedade do nordeste brasileiro um grande açude, além de poços artesianos e barragens subterrâneas. Dez anos depois e gastos 8,4 bilhões de reais, nem um pingo d´água e pelo andar da carruagem ainda serão cosumidos mais alguns bilhões de reais e talvez, mais outros dez anos ainda pra frente.

Até esta obra ser concluída terão que ser executados 314 quilômetros de canais; 25 quilômetros de túneis; 13 quilômetros de aquedutos; 27 reservatórios; nove estações elevatórias; e depois percorrer dois mil quilômetros de rios. Estudiosos do assunto revelam que o consumo de energia para que as águas cheguem aos canais será da ordem de 360 Megawatts/h (MWh), diz um especialista: “energia que seria suficiente para abastecer 1,8 milhão de residências (considerando o padrão de consumo médio igual a 150 kWh/mês)”.

Depois que as águas, captadas do leito do Velho Chico, percorrer dois mil quilômetros e começar a encher o leito do nosso Rio Piranhas o que vamos fazer delas? Quanto vai custar a cada um dos usuários um metro cúbico d´água? Prevê-se que o custo da obra, inicialmente orçada em 11 bilhões de reais, poderá atingir no seu final 20 bilhões de reais, ou seja, o dobro do previsto. Aí sim, a água vai ficar mais cara ainda.

Quem esteve visitando ultimamente as obras sente um misto de tristeza e desilusão ao vê-la abandonada, virando pó, se deteriorando, se acabando antes mesmo de ser usada e isto significa que para recuperar o que já se desmanchou vão ser precisos mais alguns bilhões de reais.

Neste país existe um time formado de craques em torrar o dinheiro do povo, time sem técnico, sem fiscal, sem controle nenhum, que com grandes e belos dribles, atinge a grande área onde estão os recursos da Nação e do povo brasileiro e faz gols e transforma este triste espetáculo na alegria dos donos das grandes empreiteiras, num país donatário de grandes e imensas riquezas, mas de filhos pobres e miseráveis.

Mais triste ainda é se ter conhecimento que as apurações são feitas, a roubalheira é comprovada, mas ninguém é punido. As punições que deveriam ser aplicadas se evaporam iguais as águas do São Francisco, antes de chegar ao sertão da Paraíba.

Tenho a mais absoluta certeza, se é que um dia haverei de ver as águas de o velho Chico correr pelas veias secas do nosso Rio Piranhas, que o nosso suado dinheiro ainda vai ser torrado pelas nossas autoridades e muitas empreiteiras vão ficar cada vez mais ricas realizando serviços ilícitos, como se constatou nas investigações já realizadas e que fizeram com que as obras fossem paralisadas.

Quantos de nós sertanejos não estamos sendo penalizados ao atravessarmos mais um período de estiagem e que com medidas muito mais simples e objetivas poderiam ser minimizado este sofrimento? Antes eram os coronéis dos sertões nordestinos, que em seus barracões de comércio, “roubavam” o dinheiro dos cassacos da seca, hoje são as grandes empreiteiras, cujos proprietários são os coronéis engravatados que em gabinetes com tapetes de veludo assaltam o povo sofrido do nordeste, superfaturando obras, fraudando serviços e vivendo nababescamente, enquanto o povo está bebendo a mesma água barrenta do gado, quando ela existe.

Será que um dia vou deixar de ver a “indústria da seca” no cenário do nordeste? Ou será que outros Lulas vão continuar abastecendo-a por todos os séculos? A Indústria da Seca ganha modernidade e se antes eram tostões que os coronéis ganhavam, hoje são bilhões.

José Antonio

José Antonio

Professor Universitário, Diretor Presidente do Sistema Alto Piranhas de Comunicação e Presidente da Associação Comercial de Cajazeiras.

Contato: [email protected]

José Antonio

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Professor Universitário, Diretor Presidente do Sistema Alto Piranhas de Comunicação e Presidente da Associação Comercial de Cajazeiras.

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