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Francisco Cartaxo

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A morte do tenente João Cartaxo (4)

15/02/2015 às 14h37

Povoado de Santa Fé. Ainda hoje há quem faça confusão entre Santa Fé e a cidade de Bonito de Santa Fé. Volto ao assunto para atender, também, algumas mensagens de leitores desta série de artigos, pedindo mais informações a respeito daquele minúsculo pedaço do sertão do Piranhas. Santa Fé é hoje um lugarejo meio isolado na serra do Bongá, ao qual se chega a partir da saída de São José de Piranhas rumo a Carrapateira. Fui lá conferir o que restou do famoso povoado. Tive o privilégio da companhia do professor Francisco Pereira, tendo como cicerone Messias Lima, mestre e escritor, que, aliás, já sistematizou em livros dados importantes acerca de Santa Fé e sua história. Na origem, tal como Cajazeiras e São José de Piranhas, Santa Fé pertenceu ao município de Sousa. Já foi distrito de Bonito e hoje integra o município de Monte Horebe. 

Desde que se tornou arruado, no século XIX, fez-se passagem e parada de comboios de tropeiros vindos do Pajeú e do vale do Piancó com destino ao Ceará. O clima ameno ajudou a atrair para Santa Fé fazendeiros e comerciantes, um fator de impulso para o povoado, fazendo-o florescente núcleo comercial, a ponto de suplantar, segundo historiadores, o antigo distrito de São José de Piranhas. Entre os homens ricos que foram morar em Santa Fé estava o coronel José Ferreira Guimarães (Cazuza Marinheiro), avô de Otacílio Jurema, de José Rolim Guimarães e bisavô do oftalmologista Sabino Filho. O coronel Guimarães, hoje nome de rua em Cajazeiras, saiu de Santa Fé, fugindo das brigas de família e, sobretudo, da presença de grupos de cangaceiros, a exemplo dos Viriatos, o mais famoso.  

Quem eram os Viriatos?

Eram muitos irmãos, segundo Gustavo Barroso, salteadores de estrada e guerreiros. Colocavam em prática os ardis dos ladrões, obrigando os comboieiros a pagar tributos de barreira, pedágio ou passagem. Os Viriatos tinham base em Boa Esperança (atual cidade de Iara) e agiam de preferência na divisa do Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte, sendo “as comarcas do Icó, Cajazeiras, Sousa e Pau dos Ferros as áreas de operação da horda de facínoras”, segundo Abelardo Montenegro. Eles eram assíduos em Santa Fé. Existem muitas referências aos Viriatos nas disputas, brigas, roubos e outras traquinagens, sem contar a acusação de que uma parte do grupo teria ajudado o alferes João Pires Ferreira a invadir Cajazeiras, no dia da eleição municipal, em 18 de agosto de 1872, quando morreu o tenente João Cartaxo.

Pois bem, as disputas econômicas, a presença dos Viriatos e outros grupos de cangaceiros, acoitados por fazendeiros, transformou Santa Fé num lugar insuportável. Tanto é que dois vigários de lá (os padre Manoel Lins de Albuquerque e padre José Tomaz de Albuquerque) lançaram maldição sobre Santa Fé e foram embora. Junte-se a isso, a grande seca de 1877 e está formado o quadro que levou Santa Fé à completa decadência. Na vila, hoje reconstruída, atuais restam poucos sinais de sua antiga pujança. Um cruzeiro, pedaços de parede de casa seculares, um cemitério e a vista de rara beleza natural voltada para “a serra que te abraça, a aurora que te acorda, o rio que te enlaça como grande corda”, nos versos do advogado e compositor Luiz Ramalho, ao querer imortalizar sua terra na canção “Santa Fé”, gravada por Amelhinha, disponível no You Tube.

P S – O escritor Otacílio Cartaxo, em conto do livro “Homens e bichos”, pela voz de personagem fala que os Guimarães são os antigos Viriatos… 

Francisco Cartaxo

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Francisco Sales Cartaxo Rolim foi secretário de planejamento do governo de Ivan Bichara, secretário-adjunto da fazenda de Pernambuco – governo de Miguel Arraes. É escritor, filiado à UBE/PE e membro-fundador da Academia Cajazeirense de Artes e Letras – ACAL. Autor de, entre outros livros, Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras no cerco ao padre Cícero.

Contato: [email protected]

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Francisco Sales Cartaxo Rolim foi secretário de planejamento do governo de Ivan Bichara, secretário-adjunto da fazenda de Pernambuco – governo de Miguel Arraes. É escritor, filiado à UBE/PE e membro-fundador da Academia Cajazeirense de Artes e Letras – ACAL. Autor de, entre outros livros, Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras no cerco ao padre Cícero.

Contato: [email protected]

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