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Damião Fernandes

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A Piscina de Siloé

30/03/2009 às 19h29

Quando pensamos em uma piscina, logo a nossa imaginação associa á uma bela manhã de sol, onde estamos deitados numa gostosa cadeira tomando aquele bronze ou bebendo um gostoso suco de laranja ou um delicioso refrigerante. Claro, lendo um belo livro. Inegavelmente, uma piscina, mesmo sendo privilégios de uns poucos, traz em si a significação de um descanso merecido ou somente desejado, lugar onde posso renovar minhas forças. A figura simbólica de uma piscina nos conduz á significações infinitas.

É igualmente impossível, pensarmos uma piscina sem água, visto que o que faz a piscina ser piscina é justamente a água que nela habita. Portanto, água sem piscina continua sendo água, mas piscina sem água, não é piscina. É apenas um espaço vazio necessitando ser habitado, persuadido, perscrutado. A figura simbólica da água possibilita ao homem, pensamentos mistagógicos, por isso, sagrado.

Historicamente, na vida do povo de Israel, há notícias de uma piscina ou de um reservatório de água – visto que ainda não havia esta expressão linguistica entre os israelitas – que chamavam: Reservatório de Siloé que era chamado em Hebraico de Selá (Enviado ou Remetente). Este reservatório estava na verdade situado na parte inferior da inclinação sul Ophel, este local fazia parte da Antiga Jerusalém, a oeste do vale do Cédron e da antiga Cidade de Davi.

Este reservatório ou Piscina de Siloé era um abrigo, refúgio, um receptáculo para as águas da Fonte de Gion, que eram lavados para lá por dois aquedutos: O canal da Idade do Bronze e o túnel de Ezequias. O maravilhoso de tudo isso é que esta piscina é mencionado diversas vezes na Bíblia. Em Isaias capitulo oito e versículo seis (8:6) menciona as águas deste reservatório, e Isaias capitulo vinte e dois e versículo nove (22:9) ele faz referência á construção do túnel de Ezequias. Para um povo que vivia em uma região sofrivelmente seca e desértica era de importância vital a existência de tais reservatórios, para saciar a sede deles e de quem necessitasse.

Para nós, Cristãos, a menção mais importante da Piscina de Siloé se encontra no Evangelho de João (9:1-7), quando menciona o belíssimo ato de Jesus de curar o cego de nascença apenas com lodo e saliva. ". . .Ora, quando ia passando, viu um homem cego de nascença…. Depois de dizer estas coisas, cuspiu no chão e fez barro com a saliva, e pôs este barro sobre os olhos [do homem] e lhe disse: “Vai lavar-te no reservatório de água de Siloé” (que é traduzido ‘Enviado’). E ele foi então e lavou-se, e voltou vendo".

De acordo com um dos mais renomados estudiosos da Universidade de Haifa em Israel, Ronny Reich, a presença de Jesus na Piscina de Siloé deveria está ligado á uma exigência que havia entre os Judeus de lavar-se antes de subir ao Templo. Era uma exigência da lei religiosa Judaica. Onde os judeus deveriam fazer ao menos uma peregrinação á Jerusalém. Para nós da Comunidade Católica Siloé, a mistagogia revela-se nas ações de Jesus que faz uso do lodo – nossa humanidade – unida á sua saliva – sua divindade – para revelar seu plano de Amor e de Salvação àquele homem que não podia contemplar a luz.

O Reservatório de Siloé não é uma lenda, nem muito menos um mito criado pela consciência coletiva do antigos cristãos. Ele de fato existiu. Relatos biblicos indicam que a cidade de Jerusalem recebia de forma subterranea um suprimento de água da Piscina de Siloé, e o profeta Ezequias teria construido uma muralha externa para que o Reservatório de Siloé pudesse ficar dentro da cidade. (ver Isaias 22:11 ou II Cronicas 32:2-5). O que é possivel a partir disso? Quando a Cidade de Jerusalem estava em combate com os povos inimigos, toda a população de Jerusalem era abastecida com as água do Reservatório de Siloé. Como este reservatório ficava dentro da cidade, era impossivel que ele fosse destruído ou interrompido. As água do reservatório de Siloé eram subterraneas, silenciosas, calmas.

Além disso, outros registros bíblicos e a tradição judaica indicam que este reservatório teria sido usando durante festividades na era pré-cristã, e também no tempo de Jesus. Por exemplo, durante a Festividade do Recolhimento, era costume um sacerdote levita ir ao reservatório de água de Siloé com um jarro de ouro, enchendo-o com água e retornando ao templo, e derramando-o numa bacia junto à base do altar. Nesta ocasião, havia grande alegria, tanto que dizia-se que aquele que nunca viu o derramamento da água de Siloé nunca viu alegria na sua vida.

Esta Piscina de Siloé tem ainda muito a revelar ao mundo.  Reservatório que trás em si águas que purificam e que dá a vida, águas que fecundam e que curam. Àguas mansas e calmas, profundas e silenciosas que ainda necessitam alcançar muitos homens e mulheres de boa vontade do nosso tempo.

Damião Fernandes

Damião Fernandes

Damião Fernandes. Poeta. Escritor e Professor Universitário. Graduado em Filosofia. Pós Graduado em Filosofia da Educação. Mestre e Doutorando em Educação pela (UFPB). Autor do livro: COISAS COMUNS: o sagrado que abriga dentro. (Penalux, 2014).

Contato: [email protected]

Damião Fernandes

Damião Fernandes

Damião Fernandes. Poeta. Escritor e Professor Universitário. Graduado em Filosofia. Pós Graduado em Filosofia da Educação. Mestre e Doutorando em Educação pela (UFPB). Autor do livro: COISAS COMUNS: o sagrado que abriga dentro. (Penalux, 2014).

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