header top bar

Francisco Cartaxo

section content

Corruptos: falta o eleitor entrar em campo

07/07/2015 às 19h33

Por Francisco Cartaxo

Dia desse, foi preso poderoso empresário, que opera em vários ramos de atividades no mundo inteiro e é o mais importante empreiteiro de obras públicas do Brasil. Dono de um dos maiores conglomerados de empresas atuantes dentro e fora do País, detém boa parcela dos empréstimos do BNDES. Foi preso e algemado, suspeito de integrar esquema de corrupção de autoridades públicas, políticos, partidos e doleiros. Nunca vi isso.

O leitor também não. Aliás, ninguém, por mais velho ou interessado na vida brasileira, presenciou nada igual. Da mesma forma como ninguém vira, há poucos anos, aquele desfile de ex-ministros, deputados, dirigentes de partidos políticos no poder rumo ao presídio da Papuda, em Brasília, após serem investigados, processados, julgados, condenados e apenados. Acompanhamos pela televisão imagens inusitadas de antigos guerrilheiros na companhia de banqueiros e figuras menores da cena política. O que estamos vemos hoje até parece ficção, filme de artista e bandido mostrado no cinema ou na telinha.

Então o Brasil mudou?

Ainda é cedo para dizer que sim. Faz pouco tempo, a sociedade brasileira mobilizada em torno das “diretas já” deu um passo decisivo para a consolidação da democracia, muito embora a derrota da emenda constitucional do deputado Dante de Oliveira tenha deixado enorme frustração no povo. Um descompasso terrível entre a vontade da maioria da população e o Congresso Nacional. Frustração, aliás, amenizada pela eleição de Tancredo Neves no Colégio Eleitoral, depois de negociação e acordo de gabinete. Pior foi a morte prematura do mineiro ilustre e a consequente ascensão de Sarney, ex-líder da Arena, o partido da ditadura.

E teve mais. Na primeira eleição direta para presidente, a escolha de Fernando Collor. Que horror! Ainda bem que foi logo afastado do cargo pela pressão de caras pintadas de traços verdes e amarelas. Tudo, porém, no estrito marco democrático. Valeu a experiência, conquanto a corrupção tenha prosperado como nunca, instalando-se firmemente no cotidiano da vida dos brasileiros, no dia a dia dos partidos, em toda parte. Nem a Petrobras respeitaram. A democracia, no entanto, avança, agora, ao impulso de novos ventos.

Então agora é diferente? 

O comando do processo migra da órbita da sociedade política viciada para escalões técnicos, menos comprometidos com a roubalheira. Órgãos republicanos, fortalecidos pela Constituição de 1988, exercem hoje, com razoável autonomia, suas funções de forma articulada. Daí o cerco a delinquentes que, sem gravata, ficam de cócoras na privada em momento de reflexão solitária. Disso não escapou sequer o maior empreiteiro do Brasil.

A Justiça, a Polícia Federal, o Ministério Público, a CGU e outras entidades realizam a diferença. Até fruto de roubo já retorna aos cofres públicos. Em meio a centenas de Operações, existem algumas com apelidos singulares – como a Operação Catuaba, a Operação Andaime -, duas pequenas intervenções no sertão da Paraíba destinadas a prender corruptos. Inexpressivos, é verdade, mas corruptos tanto quanto os da Lava Jata. 

Aí está o fio da meada que ainda carece de tempo e de apoio generalizado para afirmar-se como instrumento da mudança na vida política brasileira. Mas falta uma atitude fundamental: o povo sair da torcida e entrar no campo. No campo eleitoral. Mostrar cartão vermelho aos corruptos. Corruptos transitados em julgado ou não.

Francisco Cartaxo

Francisco Cartaxo

Francisco Sales Cartaxo Rolim foi secretário de planejamento do governo de Ivan Bichara, secretário-adjunto da fazenda de Pernambuco – governo de Miguel Arraes. É escritor, filiado à UBE/PE e membro-fundador da Academia Cajazeirense de Artes e Letras – ACAL. Autor de, entre outros livros, Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras no cerco ao padre Cícero.

Contato: [email protected]

Francisco Cartaxo

Francisco Cartaxo

Francisco Sales Cartaxo Rolim foi secretário de planejamento do governo de Ivan Bichara, secretário-adjunto da fazenda de Pernambuco – governo de Miguel Arraes. É escritor, filiado à UBE/PE e membro-fundador da Academia Cajazeirense de Artes e Letras – ACAL. Autor de, entre outros livros, Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras no cerco ao padre Cícero.

Contato: [email protected]

Recomendado pelo Google: