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Damião Fernandes

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Dúvidas Inquietantes ou Certezas Empoeiradas?

05/08/2013 às 23h30

Sempre me senti impulsionado pelas dúvidas. Tão qual um imenso barco a navegar em mar revolto, as dúvidas que me envolvem, significam ventos norteadores a conduzir minha embarcação existencial. A dúvida nos instiga a pensar bem no que sabemos e saber bem sobre o que pensamos. Como um separador de grãos, poderíamos dizer que o processo da dúvida nos ajuda a separamos o “joio do trigo”, a “catar o feijão cotidiano” ou ainda não “misturar alho com bugalho”. Duvidar é a atitude daqueles que reconhecem sua incapacidade de entender os fenômenos e os instantes enquanto são, enquanto estão postos em nossa realidade “nua e crua”. Muitos mais que pessoas de certezas, somos gerados na dúvida, na contradição e na inexatidão.

Em nossa vida, colecionamos muito mais dúvidas que certezas. Se formos abrir o baú de nossas coleções de “riquezas” – o termo riqueza aqui empregado, não está significando bens matérias ou até mesmo espirituais, mas riqueza, está relacionada àquelas experiências vivenciais e cotidianas – veremos que as nossas maiores experiências sempre estão relacionadas àquelas sensações de dúvidas, de incertezas ou contradição que através do nosso enfrentamento vão se construindo em conclusões, conceitos ou ideias.

As nossas dúvidas inquietantes são parturientes de novas visões e entendimento futuros. “Quem sou eu?” “De onde vim?”, “Para onde vou?”. Será que há entre nós alguém que nunca tenha se feito ou ainda se faça estas perguntas? Talvez não nesta ordem, mas sim com tamanha intensidade duvídica. Somos regidos por perguntas. Somos interpelados pelas nossas dúvidas. As grandes respostas, nascem das grandes perguntas e as grandes perguntas nascem das grandes dúvidas e as grandes dúvidas habitam nos corações inquietados pelas dores de sí mesmo, do Outro e do Mundo.

A dúvida nos coração daqueles existencialmente inquietados com as dores mundanas, não representam lugar de estadia perene, mas sim lugar de travessia entre aquilo que é e o que ainda não é. Entre o que está humanamente realizado e o que está divinamente gestado, pronto a nascer, a existir. No coração dos existencialmente inquietos, a dúvida muitas vezes se apresenta como o trajeto obrigatoriamente a ser percorrido e desvendado. Não serão nossas certezas empoeiradas que deverá nos mover ou nos lançar para o novo, para o ainda não vivenciado. Mas sim, serão aquelas dúvidas inaugurais que tal qual uma catapulta, nos arremessará para o que está á frente. A dúvida, em muitas ocasiões, foi requerida pelos santos, como uma ferramenta pedagogicamente metanoica. Possibilitadora de mudança.

Lembro-me de São Francisco de Assis, quando não conseguindo entender o que o Senhor queria dele e para ele, vai até o Monte Alverne, na Itália, em profunda angústia numa de suas orações e pergunta: “Senhor, o que queres de mim”? Francisco era movido pela dúvida e não pelas certezas empoeiradas e antigas. No mesmo contexto, o grande Rei Davi, também demostra seu espanto questionador diante do Senhor Iahweh quando interpela: “Que é o homem, para dele te lembrares, e um filho de Adão, para vires visita-lo?”(Salmo 8,5).

Como dissemos, nos corações inquietados, a dúvida é porto de passagem e não de residência fixa. Pois os que por aqui ficam, se transformam em ateus pragmáticos e resistentes e os que por aqui passam, tornam-se cristãos de posturas firmes e de uma fé resistente.

“Qual o meu lugar, pelo que esperar”? Assim começa uma das canções do meu irmão Fundador da Comunidade Católica Siloé, Iarley Pereira. De forma intuitiva, traz engendrado em si mesmo uma dúvida ontológica, característico daqueles corações inquieto-existenciais. A dúvida como caminho de buscas e não como posse de certezas. Aquele coração que deve ser movido muito mais pelas dúvidas inquietantes-existenciais do que pelas certezas empoeiradas que nos defrontamos no dia a dia de nossa história cíclica e não linear.

“O que perguntar? Nem preciso falar”. A vida daqueles que trazem em sí a inquietude de sí mesmo, a inquietude do Outro e a inquietude do Mundo é movida não por simples retórica interrogativa, não por palavras empoeiradas de certezas também empoeiradas, mas suas vidas se tornam constantes perguntas novas, geradas por dúvidas inquietantes também evangelicamente novas. Abra-se ás dúvidas inquietantes e se despeça das certezas empoeiradas e paralisantes.

Damião Fernandes

Damião Fernandes

Damião Fernandes. Poeta. Escritor e Professor Universitário. Graduado em Filosofia. Pós Graduado em Filosofia da Educação. Mestre e Doutorando em Educação pela (UFPB). Autor do livro: COISAS COMUNS: o sagrado que abriga dentro. (Penalux, 2014).

Contato: [email protected]

Damião Fernandes

Damião Fernandes

Damião Fernandes. Poeta. Escritor e Professor Universitário. Graduado em Filosofia. Pós Graduado em Filosofia da Educação. Mestre e Doutorando em Educação pela (UFPB). Autor do livro: COISAS COMUNS: o sagrado que abriga dentro. (Penalux, 2014).

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