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Damião Fernandes

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Em Cajazeiras, existe Promoção Social pra quem?

28/07/2014 às 20h36

Já era por volta das 16h, quando eu minha esposa caminhávamos pelos arredores do Leblon, num deserto sábado à tarde em Cajazeiras. Caminhávamos, quando de repetente avistamos ao longe um homem de pele morena e com aparência de estar embriagado ou drogado. Nenhumas das impressões se confirmaram. Ele estava sentado em umas das calçadas, com suas bolsas e coisas jogadas ao chão. Quando nos aproximamos, rapidamente ele olha para nós e nos dirige o pedido: “Moço me ajude! Me ajude! Nos aproximamos e começamos a conversar.

Sentamos na calçada com ele e ouvimos sua história. Como era de se esperar, uma história bastante sofrida recheada de humilhações, traições, abandono e insensibilidade por parte de tantos quantos deveriam oferecer acolhida e amor. Seu nome era João Gonsalves da Silva, natural da cidade de Patos. Estava naquela situação porque fora enganado por uma mulher que prometera ser sua companheira e havia roubado todo o dinheiro que tinha. Ele estava sem dinheiro e sem nenhum lugar para suas necessidades mais básicas. Estava só.

Minha esposa e eu, conversamos com João e decidimos, junto com ele, que iríamos providenciar um lugar para que ele tomasse um banho, trocasse de roupa e que pudesse fazer a primeira refeição do dia. Lembramos que em Cajazeiras havia um lugar de apoio às essas pessoas emergencialmente necessitadas. Com ajuda de uma amiga saímos á procura. Chegamos no abrigo JOCA CLAUDINO que é competentemente administrado pelo amigo Cabo Maciel que prontamente nos recebeu e ouvia atentamente enquanto falávamos sobre as necessidades do amigo João Gonsalves que havíamos encontrado jogado na rua. Mesmo diante com muita boa vontade em nos ajudar, ele nos explica que de acordo com o Estatuto do Idoso, os abrigos somente podem acolher pessoas a partir de 60 anos e que o Ministério Público é exigente neste aspecto.

Então, tivemos que pensar em outra solução para o amigo João Gonsalves de 47 anos.

É aqui que começa a grande saga em busca de um abrigo institucional, que seja administrado pela Secretaria de Promoção Social de Cajazeiras e que pudesse salvar aquela situação e acolher o pobre andarilho mendicante que estava jogado na rua desde o inicio do final de semana. Pensamos, pensamos e pensamos qual o lugar onde a Secretaria de Promoção Social de Cajazeiras acolhe aquelas pessoas que de fato precisam ser promovidas na sua dignidade? Será que a “promoção social” promovido por essa secretaria se resume em apenas dar uma feira e um prato de sopa á alguns poucos “sortudos” e predestinados? e os outros?

Pasmem senhores leitores!

Entramos em contato com responsáveis pela secretaria de Promoção Social de Cajazeiras e o que ficamos sabendo é simplesmente constragedor. Primeiro, quando durante a semana, eles – da referida secretaria – recebem chamados de casos como este, é aberto um processo para que juntos – Secretaria, Policia Militar e Ministério Público  – averiguem se as codições sociais colocadas pelo cidadão é verídica. Sendo verdadeiro os fatos, ao processo é dado encaminhamento. No entanto, não nos foi dado nenhum posicionamento sobre o que deveríamos fazer com a questão do João Gonsalves, visto ser final de semana e a secretaria não dispunha de condições técnica e humanas para trazer nenhum tipo de solução para esse caso. Então, em finais de semana, mendigos e/ou andarilho não podem aparecer pelas praças ou calçadas de Cajazeiras sob o risco de ficarem abandonados pelas ruas.

A partir disso, concluímos que os pobres, mendigos e andarilhos cajazeirenses ou cajazeirados, são tratados logo de cara, como persona non grata que não merecem ter um mínimo de dignidade em acolhida. Dessa maneira, pobres e mendigos jamais podem ser consideradas como pessoas de boa  índole ou de bom caráter. Se estiverem na rua é porque são vagabundos, vadios, sujeitos libertinos, de maus costumes ou naturalmente delitosas. Essa é a lógica talvez que predomina. A secretaria de promoção social de cajazeiras não tem um lugar adequado para acolher os pobres que moram aqui ou que por aqui passam. Se estes quiserem sobreviver da fome e do frio da madrugada, precisam se esconder em prédios abandonados ou em patamares de Igrejas. Infelismente, estas secretarias redobram seus serviços de “promoção social”, somente quando o retorno eleitoreiro é bem evidente. Se não, o “negócio” é difícil e burocrático.

O caso do amigo João Gonsalves foi resolvido graças a solicitude e presteza do amigo Cabo Maciel.  O João, já deve estar em casa de parentes neste momento. Quanto a secretaria de Promoção Social de Cajazeiras!? Continua no mesmo lugar da indiferença.

Damião Fernandes

Damião Fernandes

Damião Fernandes. Poeta. Escritor e Professor Universitário. Graduado em Filosofia. Pós Graduado em Filosofia da Educação. Mestre e Doutorando em Educação pela (UFPB). Autor do livro: COISAS COMUNS: o sagrado que abriga dentro. (Penalux, 2014).

Contato: [email protected]

Damião Fernandes

Damião Fernandes

Damião Fernandes. Poeta. Escritor e Professor Universitário. Graduado em Filosofia. Pós Graduado em Filosofia da Educação. Mestre e Doutorando em Educação pela (UFPB). Autor do livro: COISAS COMUNS: o sagrado que abriga dentro. (Penalux, 2014).

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