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Damião Fernandes

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Folião ou Cliente? o carnaval pré-pago em Cajazeiras

22/01/2016 às 19h25

Como em todo o mundo ocidental, o capitalismo chegou nas terras das “cajaranas do padre rolim” e se estabeleceu como sistema econômico desde as épocas do Coronel Justino Bezerra, primeiro prefeito intendente de Cajazeiras. Desde esse tempo que o poder do capital já reinava por essas bodegas. Por capitalismo se entende, um tipo de sistema econômico em que os meios de produção, a distribuição das riquezas, as decisões sobre oferta, demanda, preço e investimentos são em grande parte ou totalmente de propriedade privada com fins lucrativos ou seja, são aqueles que possuem alto poder aquisitivo que possuem também poder de decisão sobre a produção e o devido consumo de bens de cultura, ou seja, o acesso à cultura de um determinado povo não acontece de forma livre e irrestrita. As atrações culturais nativos de um grupo ou de um coletividade, não é mais propriedade cultural da grande massa. Pelo contrário, o modelo capitalista predatório de apropriará e fará dele o que melhor irá produzir um retorno lucroso.

Esse parágrafo um pouco cumprido, foi somente para lhe dizer que o Carnaval de Cajazeiras está privatizado e não há homem ou mulher no mundo que impeça a roda do capitalismo guloso de girar ao contrário e nem mesmo fazer com que aqueles que sobrevivem do lucros deixem de pensar que o carnaval de Cajazeiras não é mais propriedade “do povo”; mas sim do capital. Pois é próprio do capitalismo apropriar-se dos bens culturais, reproduzi-lo, empacota-lo e vendê-lo como novo produto a ser consumido. E um dos pré-requisitos capitais do capital para o consumo de um determinado bem é que o sujeito que deseja consumir seja possuidor daquilo que lhe dará acesso ao bem desejado: O capital.

O Carnaval de Cajazeiras tornou-se em um bem de consumo que somente terá acesso aqueles que pagarem por ele; e pagarem bem. Para isso é necessário que o consumidor que deseje consumi-lo, necessário de faz que ele compre o kit folia de 40 ou 20 reais. Daí você deve estar se perguntando: Mas e a grande massa? E o povo de baixa renda? E o carnaval que é a tradição cultural de um povo na sua expressão mais genuína de folclore? O capitalismo pegou tudo isso, colocou da máquina da moenda da privatização e transformou em depredação lucrativa, pseudprogresso cultural e agora já não existe mais o “povo” ou a “grande massa”, mas apenas o cliente.

Para a nova estrutura capitalista e privatizada do carnaval de Cajazeiras, não existe mais “folião que brinca”, mas somente “o cliente que compra”. Pagou, leva. Não pagou, dança. Quer dizer, dança desde que não seja no corredor pré-pago da folia, mas sim na praça dos blocos e desde que seja somente até as 22h, porque o capitalismo vive de oferta, demanda e procura. Ou seja, se a folia na praça dos blocos entrar madrugada a dentro pode estragar "o negócio" dos empresários licitados. Houve licitação para qual empresa administrará a cultura do povo? Não sei. Saberemos só em 2020.

Quem me conhece, sabe que não sou adepto de nenhum tipo de folia carnavalesca secular. Não “pulo” em carnavais de rua ou de clubes. Por opção religiosa, minha escolha sempre é de estar participando de "retiros de carnaval" nesse período. Porém, fico com os dedos coçando e as ideias se rebulindo, para escrever sobre temas atuais discutidos.

Portanto em Cajazeiras, uma coisa está clara: Terá acesso ao corredor da folia ou a outros corredores de atrações culturais e de outros bens de cultura, somente aqueles que tiverem condições econômicas para comprar e consumir. Ponto final. Poderá ser diferente algum dia? Poderá. Se alguém conseguir criar um outro modelo de sistema econômico que não sobreviva da propriedade privada, do lucro, da economia de mercado e da divisão de classes.

Damião Fernandes

Damião Fernandes

Damião Fernandes. Poeta. Escritor e Professor Universitário. Graduado em Filosofia. Pós Graduado em Filosofia da Educação. Mestre e Doutorando em Educação pela (UFPB). Autor do livro: COISAS COMUNS: o sagrado que abriga dentro. (Penalux, 2014).

Contato: [email protected]

Damião Fernandes

Damião Fernandes

Damião Fernandes. Poeta. Escritor e Professor Universitário. Graduado em Filosofia. Pós Graduado em Filosofia da Educação. Mestre e Doutorando em Educação pela (UFPB). Autor do livro: COISAS COMUNS: o sagrado que abriga dentro. (Penalux, 2014).

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