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Damião Fernandes

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Júlia Roberta e o WhatsApp

16/11/2013 às 08h14

A Polícia Civil do Piauí investiga a morte de uma adolescente de 17 anos na cidade de Parnaíba do Estado do Piauí. A suspeita é que a jovem tenha se matado depois que um vídeo íntimo em que ela aparece fazendo sexo vazou na internet através do WhatsApp. A jovem Julia Rebeca teria filmado o vídeo íntimo, no qual ela aparece tendo relações com um rapaz e outra adolescente. A adolescente se matou neste último domingo, dia 10 de Novembro, depois de deixar mensagens no Twitter anunciando a própria morte, se despedindo e pedindo desculpas.

Ela foi encontrada morta dentro do quarto, enrolada no fio de uma chapa de alisar cabelos, que teria usado para se enforcar. Nas redes sociais, ela escreveu primeiro "É daqui a pouco que tudo acaba". Ainda no mesmo texto, Julia postou "Eu te amo, desculpa eu n ser a filha perfeita mas eu tentei… desculpa desculpa eu te amo muito", e em seguida "E tô com medo mas acho que é tchau pra sempre”.

Cada vez mais cedo, as Redes Sociais passam a fazer parte do cotidiano de centenas de milhares de jovens. É grande o número deles que possuem perfis em uma ou mais de uma Rede Social (Facebook, Skipe, Twitter, Youtube, Blogger, etc). Muitos destes jovens alunos se antecipam bem antes que educadores, coordenadores e gestores e pais  no uso destas ferramentas tecnológicas. Essa é uma realidade que não pode ser em hipótese nenhuma ignorada ou negligenciada pela sociedade e muito menos pela Escola. Mas pelo contrário, o ambiente escolar é, portanto o lugar por excelência onde deve ser construído os significados e o sentidos das Redes Sociais e sobre a sua utilização em vista da construção democrática e cidadã do sujeito.

A escola não pode cristalizar-se numa só concepção de cultura. Ela precisa abrir-se para novas manifestações culturais, no sentido do próprio respeito pelo outro (…). Por isso, é preciso trabalhar, entre outros, os conceitos de identidade, cultura popular, cultura elaborada, cultura da cidadania e mostrar que o êxito ou fracasso do aluno e da aluna — principalmente os que provêm das classes populares — depende do equacionamento da relação entre identidade cultural e itinerário educativo. A escola deve ser local como ponto de partida, mas deve ser nacional e internacional como ponto de chegada.” (Gadotti e Romão, 1997).

Torna-se urgente que a sociedade civil organizada, associações, clubes de serviço, Igrejas e profissionais da Educação em geral lancem-se numa séria discussão sobre o fenômeno e a utilização das Redes Sociais por uma juventude necessitada de modelos e de referenciais de moldes moral dentro e fora dos seus lares. A partir dessas discussões é urgente propostas e ações que esteja em vista de uma utilização consciente e crítica das redes sociais, com a promoção de posturas cidadãs no interior do ambiente escolar e por consequência, fora dos seus muros. Posturas cidadãs que demonstrem uma compreessão e uma utilização das redes sociais, não apenas como ferramenta de entretenimento ou qualquer forma de exibicionismo narcisista. Mas, sobretudo, fazer uso das redes sócias tendo sempre em vista a promoção da cidadania no ambiente escolar e em especial, evidenciando que tal propositura pode fazer a diferença enquanto nova postura na leitura do mundo e na transformação da realidade.

A cada dia lemos noticias de jovens, que numa postura exibicionista e egocentrica, tiram suas roupas e sua dignidade em produções de vídeos ou albúns caseiros sem nenhum respeito a sí mesmo e ao pudor coletivo. A cada dia sabemos de jovens, assim como Júlia Roberta, que após de praticarem atos impensados atraves das Redes Sociais, colocam um fim em suas proprias vidas com uma rapidez inconsequente.

As Redes Sociais deveriam servir para qualificar as relações entre as pessoas e aproximar cada vez, por meio do diálogo, os distantes e os distintos. Infelismente o que vemos é a utilização destes meios para expressar uma "infatilidade adormecida e uma meninesse patológica" que necessita cada vez mais da exposição narcisista e de uma aceitação social dos seus sentimentos como condição para uma auto-aceitação ou auto-afirmação social. Nossos jovens estão gritando por socorro.Estão perdidos em seus labirintos existenciais e em suas dores agudas que muitas das vezes não existem "porques" exatos ou respostas óbvias.

Salvemos as "Júlias e os Júlios" dos seus WhatsApp'S!

 

Damião Fernandes

Damião Fernandes

Damião Fernandes. Poeta. Escritor e Professor Universitário. Graduado em Filosofia. Pós Graduado em Filosofia da Educação. Mestre e Doutorando em Educação pela (UFPB). Autor do livro: COISAS COMUNS: o sagrado que abriga dentro. (Penalux, 2014).

Contato: [email protected]

Damião Fernandes

Damião Fernandes

Damião Fernandes. Poeta. Escritor e Professor Universitário. Graduado em Filosofia. Pós Graduado em Filosofia da Educação. Mestre e Doutorando em Educação pela (UFPB). Autor do livro: COISAS COMUNS: o sagrado que abriga dentro. (Penalux, 2014).

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