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Francisco Cartaxo

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A nova coalizão governista

25/07/2016 às 19h13

O mandato-tampão do presidente da Câmara Federal, apesar de ter apenas sete meses, torna-se importante porque ocorre em meio à transição política, a passagem para um novo arranjo do poder, após 13 anos de hegemonia do Partido dos Trabalhadores. Hegemonia compartilhada com um conjunto heterogêneo de partidos,ensacados quase todo o período preferencialmente com o PMDB, coadjuvado pela antiga “esquerda” (PC do B, PSB, PDT) e siglas amorfas (PP, PR, PRB, PSC, PSD e outras), peritas na arte de “sobreviver” (ou expandir-se) à sombra do poder.

Essa aliança não se fez em torno de programas reformistas,a fim de eliminar gargalos estruturais da economia, modernizar a gestão pública,racionalizar o funcionamento dos partidos políticos, viabilizar a previdência social, enfim, dar feição nova ao Brasil. Não, não foi para isso que se reuniu esse monte de partidos. O objetivo da coalizão foi subalterno. A argamassan foi o rateio de fatias de pequenas parcelas do poder, representadas pela ocupação de cargos no governo. Para quê? Para cumprir um projeto de desenvolvimento? Um programa de modernização da gestão pública? Nada disso.

Houve tão somente apego ao poder pelo poder.

Deu no que deu. Aí está a escandalosa apropriação de recursos públicos,desviados para alimentar campanhas políticas e servir, também,de enriquecimento pessoal de políticos, doleiros, empresários, executivos de empresas públicas e privadas.Nunca tivemos exemplo mais sórdido de patrimonialismo! O PT – que propiciou notáveis avanços na redução da pobreza, que ampliou as oportunidades de ensino no interior do Brasil e se credenciou em outros campos da defesa dos direitos humanos -, deixou-se seduzir pela “mosca azul”, na expressão usado pelo insuspeito Frei Betto. O PT não aproveitou, lamentavelmente, o enorme prestígio e a larga popularidade de Lula para comandar as reformas necessárias à uma guinada positiva na vida brasileira. Enrolou-se na estratégia de “comprar” apoio parlamentar e político. Fez-se igual, ele que propalou ser diferente.

Por isso, o PT volta à oposição.

Volta sem brilho nos olhos. Sem encarar o futuro, como no passado, quando reuniu sindicalistas, comunidades eclesiais de base e intelectuais desencantados com o desmanche das ilusões do socialismo real, congregando-os em um partido político diferente. Teve sucesso.Impôs uma agenda voltada para os pobres e a participação. Ao conviver no dia a dia com poderosos,no entanto, optou por amoldar-se ao submundo dominante na política brasileira.

Não contava, porém, com circunstâncias adversas nascidas nas sombras. E o mais grave: menosprezou a emergência de novos valores firmados a partir da Constituição de 1988, quanto ao equilíbrio entre poderes da República.Nessa brecha entra o mensalão e, sobretudo, a Lava Jato, como símbolo. Símbolo que pode transformar-se em teste para a nova coalizão, já desenhada com a eleição do deputado Rodrigo Maia (DEM) para presidir a Câmara Federal, inclusive com os votos do PT e do PC do B, numa convergência de interesses, cujo elo frágil era Eduardo Cunha e seus bonecos do baixo clero.

Desses detalhes a História pouco falará.

O foco está na formação de nova aliança partidária, o PMDB à frente, tendo a seu lado as forças derrotadas nas urnas de 2014. A incógnita para este cronista é:como a sociedade vai reagir diante da inclinação à direita, agora que o tema corrupção entrou na agenda do brasileiro médio. Persiste a dúvida, o eleitor que torce pela Lava Jato, pela Andaime terá lucidez na hora de votar?

Francisco Cartaxo

Francisco Cartaxo

Francisco Sales Cartaxo Rolim foi secretário de planejamento do governo de Ivan Bichara, secretário-adjunto da fazenda de Pernambuco – governo de Miguel Arraes. É escritor, filiado à UBE/PE e membro-fundador da Academia Cajazeirense de Artes e Letras – ACAL. Autor de, entre outros livros, Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras no cerco ao padre Cícero.

Contato: [email protected]

Francisco Cartaxo

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Francisco Sales Cartaxo Rolim foi secretário de planejamento do governo de Ivan Bichara, secretário-adjunto da fazenda de Pernambuco – governo de Miguel Arraes. É escritor, filiado à UBE/PE e membro-fundador da Academia Cajazeirense de Artes e Letras – ACAL. Autor de, entre outros livros, Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras no cerco ao padre Cícero.

Contato: [email protected]

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