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Mariana Moreira

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O Celibato em Questão

21/08/2009 às 06h57

Por Padre Janilson Rolim

Gosto de ler artigos antigos! Faço isso para acompanhar a evolução intelectual dos colunistas frente às novidades da Língua, da Sociedade, do Estado e da Religião. Assim, li recentemente num artigo de um jornal paraibano, na coluna opinião, o parecer de um advogado a respeito do celibato eclesiástico católico (Correio da Paraíba 26/05/2004). Dentre tantos trechos de sua opinião, permitam-me destacar e comentar alguns: Primeiro, dizia o autor, “entendo o celibato como um crime contra a natureza humana”. Certamente, nem precisa refletir muito para constatar o conceito que o advogado tem dos celibatários. Ora, se é “um crime contra a natureza humana”, Jesus, que foi plenamente humano e celibatário, era um criminoso que pecava contra a própria criação divina. Com quem Jesus era comparado? Com Elias, João Batista, Jeremias, todos solteiros e, ao que parece, celibatários. Como entender os Batistas (seguidores de João)? Como entender a comunidade de Qumrã? Como entender os celibatários ortodoxos e hindus, os monges orientais, Dalai Lama, Ghandi, etc? Seriam todos criminosos?

Na Tradição judaica o celibato é uma condição de assiduidade com Deus. Nos fundamentos judaicos (veterotestamentários) destaco Lv 22,1-3: os sacerdotes deviam ficar continentes durante o serviço sagrado. E ainda Ex 19,14-17, a saber, para o encontro com Deus era necessária a abstenção sexual do povo. Já na Nova Aliança, o celibato só pode ser entendido por graça (Mt 19,12), sendo uma fala do próprio Jesus. Poderia citar ainda o testemunho de S. Paulo, que também era celibatário.

Depois, voltando ao texto do jornal, ao referir-se à ordenação de oito diáconos católicos, interroga o advogado aos leitores: “quantos deles irão cumprir o preceito?”. Ao que parece, uma angústia psicológica invade a mente das pessoas que dia-a-dia vão criando uma redoma em torno de si e apontando uma arma para todos os outros que as circundam, tornando-se juízes e sondando – numa tentativa de uma atitude divina – os mais profundos sentimentos e desejos das pessoas. Dizem que vemos nos outros os defeitos que não enxergamos em nós!! Às vezes, o que mais me irrita nas pessoas é aquilo que tenho e também as irrita.

Por fim, o autor apresenta a pedofilia e o homossexualismo como conseqüências do celibato eclesiástico, chamando este de “indigno e ilegítimo”. A pedofilia só acontece com os celibatários? Seriam todos os cidadãos, presos por tal crime, celibatários? Consultando os dados com a comissão que trabalha com a exploração sexual de menores se constata, na maioria quase absoluta dos casos, a incidência de homens casados. Estes também convidados religiosamente a viver a castidade matrimonial e a fidelidade. Sobre a prática sexual dos clérigos (homo ou heterossexualmente falando) é uma realidade que perpassa toda a história da humanidade. Seria uma injustiça pensar que, por exemplo, 139 padres acusados de abusos sexuais no Brasil, nos últimos 10 anos, representassem a atitude de quase 18 mil padres que exercem o ministério nestas terras. Caso o número chegasse a 180, seria 1% dos sacerdotes católicos. E os outros 99%? Estes números mínimos, que isoladamente surpreendem, colocados num contexto católico (universal) não chamam tanto a atenção. No próprio “seminário” formado por Jesus aconteceram desvios em virtude da fragilidade humana dos escolhidos. Dos 12 convocados, um traiu, a saber, Judas, outro duvidou, Tomé e outro ainda negou: Pedro. Seria um erro do Mestre ou uma oportunidade de salientar a beleza da liberdade humana? “Deus não escolhe os capacitados, mas capacita os escolhidos”. Portanto, como ver o celibato apenas como uma privação sexual? Ser celibatário hoje, em um mundo erotizado, é uma condição profética! O celibato é certamente difícil de ser vivido, mas é uma atuação do amor de Deus com toda a radicalidade e beleza do Evangelho.

Vive o celibato quem sabe amar. Amar não é um absurdo, nem mesmo uma relação sexual. Amar é uma arte! Não é impulso, nem instinto!

Mariana Moreira

Mariana Moreira

Professora Universitária e Jornalista

Contato: [email protected]

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