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Francisco Cartaxo

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O inimigo e os iguais

24/07/2017 às 09h12 • atualizado em 24/07/2017 às 09h14

Antes o inimigo tinha a pele escura. Vestia capa preta, falava a seus pares com cerimoniosos pedidos de vênias. Joaquim Barbosa, o primeiro afrodescendente a figurar no Supremo Tribunal Federal, foi posto no topo do judiciário pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nordestino que escapou de morrer de inanição. Os dois, o ministro e o presidente, têm muito em comum. Poderiam ter ficado pelo caminho, perdidos nas malhas das desgraças do mundo. Não foi assim. Enfrentaram preconceitos contra as pessoas de cor e os pobres. Aceitaram o desafio de fugir da mediocridade e venceram. O destino, no entanto, separou um do outro.

O ministro Barbosa não transigiu.

Após muito ralar, fez direito e se tornou procurador da República. Cursou mestrado e doutorado na França. Foi professor da Católica no Rio. No STF, relatou a Ação Penal 470, apelidada de mensalão. Arrimado na denúncia do MPF, Quincas deu forma e status judicial ao esquema de compra de apoio ao governo de coalizão, chefiado por Lula, usando recursos de origem espúria: empréstimos bancários fraudulentos. O PT imitou a corrupção inaugurada pelo PSDB mineiro de Aécio Neves, bolada pelo marqueteiro Marco Valério. O PT se apropriou, expandiu e aperfeiçoou o esquema. A decisão final – vencidas as divergências e vaidades dos homens de capa preta -, resultou na condenação de 24 importantes figuras, como José Dirceu, Roberto Jefferson, Pedro Correia, Marcos Valério e outros. Por não transigir, ao enquadrar figurões na quadrilha criminosa, Joaquim Barbosa virou inimigo.

Outro inimigo mora em Curitiba.

Esse tem a pele branca. Não está no topo do judiciário, milita na base, na primeira instância. Ao começar sua vida profissional no interior do Paraná, o juiz Sergio Moro deu pretexto para mais um preconceito, aliás, semelhante ao preconceito assacado contra Lula, por ser nordestino! Vindo da base, Moro deveria ter a simpatia do PT. Ao contrário, foi taxado de juizeco matuto, perseguidor, movido por interesse político, a serviço das elites, da direita, do PSDB. Virou inimigo, com suas sentenças baseadas nas investigações da Operação Lava Jato. Oxente, processar Lula? Audácia insuportável. (Insuportável para os que enxergam em Lula um Deus, bem entendido). Então, vestiram em Moro a fantasia do demônio. Moro não está só. Apoia-se em investigadores do Ministério Público, Polícia Federal e outros órgãos governamentais.

Cresce assim o número de inimigos.

Hoje o mais perigoso é Rodrigo Janot. Como chefe da PGR tem feições diferentes. O inimigo agora é plural. Não se pode distinguir sequer a cor da pele. Representa a instituição que abriga procuradores públicos federais, encarregados de negociar com bandidos as bases da delação premiada e desvendar falcatruas das organizações criminosas. O inimigo ficou mais complexo.

E os iguais?

Os iguais são muitos. Mais numerosos do que os inimigos. Alguns estão na cadeia. Outros até já cumpriram a pena. E uma legião deles está a caminho: megaempresários, deputados, senadores, ministros, governadores, prefeitos, tesoureiros de partidos, doleiros… todos corruptos. Até presidente da República. São os iguais. Do topo ou da base, nivelados pelo crime: Odebrecht, Léo Pinheiro, Joesley Batista, Sergio Cabral, Temer, Eduardo Cunha, Lula, Aécio, Renan, Jucá e tantos outros.
Nisto são iguais: querem minar a PGR, sangrar a Lava Jato e a acabar a delação premiada. Os iguais só enxergam a própria pele.

Francisco Cartaxo

Francisco Cartaxo

Francisco Sales Cartaxo Rolim foi secretário de planejamento do governo de Ivan Bichara, secretário-adjunto da fazenda de Pernambuco – governo de Miguel Arraes. É escritor, filiado à UBE/PE e membro-fundador da Academia Cajazeirense de Artes e Letras – ACAL. Autor de, entre outros livros, Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras no cerco ao padre Cícero.

Contato: [email protected]

Francisco Cartaxo

Francisco Cartaxo

Francisco Sales Cartaxo Rolim foi secretário de planejamento do governo de Ivan Bichara, secretário-adjunto da fazenda de Pernambuco – governo de Miguel Arraes. É escritor, filiado à UBE/PE e membro-fundador da Academia Cajazeirense de Artes e Letras – ACAL. Autor de, entre outros livros, Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras no cerco ao padre Cícero.

Contato: [email protected]

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