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Maria do Carmo

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O resgate histórico da Terra que ensinou a Paraíba a ler

21/08/2014 às 16h41

Cajazeiras, cidade localizada no oeste paraibano conhecida metaforicamente como: “Terra da Cultura”. Segundo  a história  foi exatamente ao redor  da Escolinha de Serraria fundada por Padre Inácio de Sousa Rolim aproximadamente no ano de 1829 que o Sítio Cajazeiras começou a se desenvolver e crescendo também nos princípios educacionais, tanto é que em 1843, o Padre Rolim ergueu a “Casa Escola” funcionando em regime de internato  oferecendo uma educação pautada na política cultural e religiosa atraindo estudantes de vários municípios e de outros estados do nordeste. Atualmente esta escola é representada pelo  Colégio Diocesano Padre Rolim.

Ao redor da Casa Escola foram construídas, na época, várias  residências  e o lugarejo foi crescendo, ficando comprovado que a cidade de Cajazeiras tem raízes no universo cultural sendo justo mais outro belo slogan “Berço da Cultura” graças aos esforços do Padre Rolim. Ao mesmo tempo, torna-se contraditório o que perpetua até hoje a incoerência no tocante ao dia exato da emancipação política desta cidade. Sem querer escurecer o mérito do Padre Inácio ”Grande Ícone da Educação Cajazeirense”,   mas não se pode deixar que fatos históricos datados oficialmente fiquem  na obscuridade. Legalmente a história de Cajazeiras começa a ser registrada quando acontece a conquista da categoria de Distrito de Cajazeiras através da Lei Provincial Nº 5 de 29 de agosto de 1859  sendo que o mesmo ficou nas dependências do  município de Pombal, uma vez criado o município de Sousa, o Distrito de  Cajazeiras passou a pertencer ao município sousense.

Através dos trâmites legais a emancipação política aconteceu no dia 23 de novembro de 1863 através da Lei Nº 92 quando foi criado oficialmente o município bem como sua elevação a categoria de vila Cajazeiras. Em 1864 foi instalado o 1º governo municipal assumido pelo Presidente da Câmara Padre José Tomás de Albuquerque. Em 10 de julho de 1876 através da Lei Nº 616, Cajazeiras  foi elevada a categoria de cidade. O outro fato importante é o aniversário de nascimento do Padre Inácio de Sousa Rolim, nascido  em 22 de agosto de1800 no Sítio Serrote. São duas datas relevantes na história de Cajazeiras, porém as mesmas acontecem em momentos diferentes. Comemorar a emancipação política de Cajazeiras no dia 22 de agosto é negar uma verdade histórica, a qual  é imutável. O que aconteceu em 1948 foi um (PL) projeto de Lei de autoria do vereador Germiniano de Sousa estabelecendo a unificação na comemoração das duas datas históricas, ou seja, o dia 22 de agosto tanto para comemorar o aniversário do Padre Rolim e ao mesmo tempo a emancipação política de Cajazeiras.

São duas situações diferentes e de grande valor que devem ser discernidas para os contemporâneos, não pode continuar esta dúvida na mente dos mesmos. Afinal, quando é o aniversário de emancipação política de Cajazeiras? Assim como através de um (PL) Projeto de Lei institui-se a comemoração que ora acontece de forma confusa também através de outro (PL) Projeto de Lei proposto Pela Câmara de vereadores tem autonomia para realizar a correção nas duas realidades distintas. Não há nenhum problema acontecer duas datas comemorativas no município: a emancipação do município no seu dia e mês conforme  documentos registrados como também o    aniversário de Padre Rolim que já acontece de acordo com a narrativa histórica do município

Outro capítulo se configura no que diz respeito ao zelo das marcas do passado dos  fundadores desta cidade. Em 1804 foi construída a “casa grande da fazenda da família Rolim”, hoje não há nenhum sinal que relembre a existência da mesma.  Só se sabe que atualmente é a sede do Cajazeiras Tênis Clube, de certa forma geograficamente representa o espaço onde antes era a casa grande. Da Escolinha de Serraria, nenhum vestígio existe, embora se tenha construído um grande educandário, o Colégio Nossa Senhora de Lourdes que presta grande contribuição no setor educacional da cidade e localidades circunvizinhas.

Uma pergunta que não quer   calar-se. Onde se encontra o museu de Cajazeiras? Não se sabe! Na verdade ele nem existe! É uma antítese bem construída e real. A cidade que ensinou a Paraíba a ler não tem museu! O quanto seria importante para os filhos de Cajazeiras e visitantes, conhecer algo referente a Ana Francisca de Albuquerque (Mãe Aninha) ao Vital de Sousa Rolim e o próprio Padre Inácio. Não sabemos por que  pessoas tão importantes caíram praticamente no esquecimento, uma vez que as  gerações posteriores a elas se esqueceram de que é necessário guardar os símbolos das raízes do seu existir.

Com relação à arquitetura antiga de Cajazeiras poucas marcas existem, umas foram demolidas  ganhando caracterização do presente ocultando os antecedentes históricos da cidade; outras estão mal conservadas e perdendo a sua originalidade. Mas ainda é tempo de se pensar em um ambiente propício a fim de erguer, digamos assim, o Memorial Padre Rolim, estrutura física existe é  só adequar aos aspectos próprios de memorial. É inconcebível que na “Terra da Cultura” há a ociosidade referente a um  local  de fundamental importância comprovando a origem do existir de  tantos que colaboraram para o engrandecimento da cidade e ao  mesmo tempo estabelece  um canal de familiaridade das gerações do presente com o passado, possibilitando  o acompanhamento da evolução e das transformações, base das futuras  construções  no qual são conservados o passado e o presente que virá a ser passado sendo alicerces dos sonhos futuros. Conhecer e  conservar o passado é cultura.

É bem entendido que existe uma lei municipal assegurando a conservação de certos  construções antigas da cidade, precisa agora em pleno século XXI encampar a luta para organizar e instalar em um destes prédios antigos    o Memorial da cidade de Cajazeiras.O slogan de “Terra da “Cultura é preciso que seja vivido na prática dos dias atuais não basta divulgar o grande legado do padre Rolim, mas conservar o que ele e sua família deixaram de marcas concretas para as gerações do presente e do futuro  saberem que cultura se faz também com a conservação daqueles que edificaram o passado.

Dentre as três construções do período de fundação de Cajazeiras apenas uma existe, se bem que ameaçada: o “Açude Grande” a essência deste patrimônio histórico (as águas e a orla ainda sobrevivem).   O Açude Grande construído em 1804 ao lado da Casa Grande sendo depois ampliado em 1915 cujas águas puras seriam para atender as necessidades básicas e vitais da população ribeirinha  saciando a sede da mesma  e outras utilidades domésticas. Hoje, o Açude Grande é apenas um pequeno reservatório de águas contaminadas devido os esgotos das residências que escorrem para o mesmo.   Lamentavelmente em tempos passados as pessoas não tinham consciência ecológica e  permitiram que acontecesse tamanha afronta a uma importante fonte natural e histórica.

Atualmente há avanços no campo da engenharia dispondo de meios apropriados a fim de tornar as águas do Açude Grande  menos contaminadas. Realizar a drenagem dos esgotos, é caso de urgência,  a sua orla  é mal tratada desprezada e até ameaçada por construções clandestinas  comprometendo  a conservação do mais belo cartão postal da cidade. É preciso cuidá-lo enquanto é tempo, do contrário acontecerá o seu desaparecimento como aconteceu com as outras marcas de fundação da cidade. Os ideais do saudoso ecologista Gilvan Meireles precisam ser concretizados uma vez que  a intenção  do mesmo era salvar esta fonte  símbolo da erguida de uma comunidade que bebeu das águas da mesma e hoje chama-se Cajazeiras. Cajazeiras do Padre Rolim. Cajazeiras que precisa aprender a zelar as pegadas históricas do seu passado.

Maria do Carmo

Maria do Carmo

Professora da Rede Estadual de Ensino em Cajazeiras. Licenciatura em Letras pela UFCG CAMPUS Cajazeiras e pós-graduação em psicopedagogia pela FIP.

Contato: [email protected]

Maria do Carmo

Maria do Carmo

Professora da Rede Estadual de Ensino em Cajazeiras. Licenciatura em Letras pela UFCG CAMPUS Cajazeiras e pós-graduação em psicopedagogia pela FIP.

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