O Sofisma: CPMF e Consciência Popular

"Essa derrota (a da CPMF) não causa temor algum ao governo. Dá uma tremida no telhado. Mas os alicerces do país são sólidos, fortes, profundos e enraizados na consciência popular. Tenho certeza que o país vai continuar crescendo", reiterou. (RENATA GIRALDI da Folha Online, em Brasília. Acessado dia 14.12.2007)

Muito me impressionou essa declaração do Ministro da Justiça – Tarso Genro – quando da ocasião após cerimônia de formatura de novos policiais federais, neste dia 14 de Dezembro. Há aqui uma afirmação do Ministro que merece nossa absoluta atenção e degustação lingüística. Afirmação está que fiz questão de grifá-la no texto:

“Mas os alicerces do país são sólidos, fortes, profundos e enraizados na consciência popular”.

O ministro utiliza essa artimanha lingüística como forma de argumentar e justificar uma derrota política do governo com relação a um “imposto” que é mantido pelo Estado a mais de 10 anos, “imposto” que de inicio era para ser provisório e que massacra a grande massa da população mais pobre e que se torna também um grande meio de enriquecimento dos maiores bancos e banqueiros de poltrona. Claro que a nossa pretensão neste pequeno artigo não é fazer nenhuma análise econômica ou política do mercado financeiro, mas é sobretudo tentar trazer uma reflexão filosófica, portanto crítica, sobre essa “fala” um tanto quanto capciosa do então ministro da justiça.

É clara e evidente a tentativa de enganar e ludibriar a consciência coletiva e individual das pessoas, com argumentos falaciosos…. Pois dizer que os alicerces do país são sólidos, fortes, profundos, … Cabe-nos então a pergunta: A que alicerces sólidos o ministro se refere? Alicerces Políticos? Sociais? Econômicos ou será que o ministro se refere ao alicerce moral e ético do País.

O que constatamos é que neste país o que há de sólido, forte e profundo é mesmo a desfatez de tantos homens públicos em afirmar tamanha asneira com a clara intenção de enganar e manipular as consciências menos providas de raciocino critico e de capacidade de reconhecer um mentiroso oportunista ou um populista fanfarrão..

O que me causa tamanha indignação nessa afirmativa do Sr. ministro é que ele ardilosamente diz que a derrota do Governo com relação à não prorrogação infâmia da CMPF – Contribuição Provisória sobre a Movimentação Financeira – e a grande exploração que a ela se seguem – pasmem os senhores leitores – o Sr. Tarso diz que esta derrota não causa temor porque o país está enraízado na consciencia popular, ou seja, em outras palavras o que ele diz é que o povo sabe que é enganado, ludibriado, manipulado, lezado nos seus direitos de cidadão e de contribuinte… o povo sabe que a CPMF é mais um imposto torturante, que enche os cofres públicos e que toda essa dinheirama não é utilizado e adminstrado claramente para o bem estar da população “consciente”… o povo sabe de tudo isso, pois o nosso país, o nosso governo está enraizado na consciencia popular. Consciencia? Popular? Essa é mais uma das grandes mentiras da Humanidade…

Essa atitude do “honrroso” Sr. Ministro da Jústiça se assemelha muito aos grandes sofistas da Grécia Antica, onde a carreira mais popular na Grécia naquela época era a habilidade na política. Assim, os sofistas concentraram seus esforços no ensino da retórica. Os objetivos dos jovens políticos que eles treinavam eram o de persuadir as multidões de tudo o que quisessem que elas acreditassem. A busca da verdade não era a sua prioridade. Consequentemente os sofistas se empenhavam em providenciar um estoque de argumentos sobre qualquer que fosse o assunto, ou ainda para provar qualquer posição. Se vangloriavam de sua habilidade de fazer com que o pior parecesse melhor, de provar que preto era branco.

CPMF e consciência popular, eis o grande e ridículo sofisma do nosso Sr. Ministro da justiça.

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Damião Fernandes

Damião Fernandes. Poeta. Escritor e Professor Universitário. Graduado em Filosofia. Pós Graduado em Filosofia da Educação. Mestre e Doutorando em Educação pela (UFPB). Autor do livro: COISAS COMUNS: o sagrado que abriga dentro. (Penalux, 2014).

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