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Damião Fernandes

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Pão e Circo, para os estúpidos!

21/06/2012 às 17h24

Na Roma antiga, a massacrante escravidão estabelecida na zona rural, fez com que vários camponeses perdessem o emprego e migrassem para as cidades médias e de grande porte. Esse crescimento urbano acabou gerando graves problemas sociais. Por isso, o imperador, com medo que a população se revoltasse com a falta de emprego e as péssimas condições culturais e sociais e exigisse melhores condições de vida, acabou criando a política “panem et circenses, a política do pão e circo.

Este método era muito simples: todos os dias havia lutas de gladiadores nos estádios e durante os eventos eram distribuídos alimentos (trigo, pão). O objetivo era alcançado, já que ao mesmo tempo em que a população se distraia e se alimentava, também esqueciam os problemas e não pensavam em rebelar-se. Na verdade todo o povo tornava-se cada vez domesticável. Foram feitas tantas festas para manter a população sob controle, que o calendário romano chegou a ter 175 feriados por ano. Com forma de manter o povo a cada dia mais ocupado com as atividades festivas e, portanto, alienado á realidade de corrupção e degradação moral entre os homens públicos, estes homens “bons” por pura conveniência, reforçavam a prática que historicamente ficou conhecida como a política do Pão e Circo.

A historiografia das diferentes civilizações e seu lideres, estão aí para comprovar: A nenhum homem público sério e muito menos a nenhum sistema político também sério, interessam a existência de um povo consciente de sí mesmo e da realidade social e política em que estão inseridos. Nenhum homem público sério e muito menos nenhum sistema político também sério, estão interessados em ver um cidadão ativo em sua participação na sociedade. Muito menos, se essa participação for democraticamente livre de qualquer cabresto eleitoral ou cargo comissionado.

A muitos políticos, interessam homens e mulheres tolos, bobos, estúpidos, vendidos, cabrestados e fáceis de serem manipulados. À alienação de um povo, sempre vem atrelado práticas corruptas de políticos camuflados sob pele de cordeiros! Manipuladores e atuais Césares do Pão e Circo. Para homens públicos estúpidos, o povo sempre é visto também assim: Um povo estúpido e facil de manobrar! A estupidez nesse caso, muitas vezes não é ilusória.

A política do Pão e Circo, era a prática da enganação, com a clara tentativa de calar a voz da massa oprimida, injustiçada, que era lembrada apenas como forma de manobra política. Levando a grande massa á viver numa completa alienação. Qualquer semelhança com a prática política de inúmeros homens públicos – “novos Césares” – em diversas pólis nesse sofrido sertão, não é mera coincidência. Mas sim perpetuação de uma mentalidade política nociva que conduz á uma indiferença para com as verdadeiras dores do povo.

Enquanto centenas de sertanejos sofrem com uma forte estiagem, uma grande seca que assola a nossa região, onde nem mesmo água potável suficiente para seu consumo em muitas cidades é possível encontrar; mesmo assim, não sobram festejos. Em reportagem no site da Folha de São Paulo no dia 19/06/2012 na matéria sob o titulo: Seca prejudica rotina em escolas do Nordeste. É possível constatar que na cidade de Nazarezinho (455 km de João Pessoa), as escolas usam água de poços particulares ou de galões comprados pela prefeitura. Já em outras cidades, muitos prefeitos zombam quando são indiferentes á essa realidade, usando mal o dinheiro público – o dinheiro dessa mesma gente – repetem a política “panem et circenses”. Tentativa evidente de alienar a coletividade, tornando-as alheias á durezas existências dessa gente.

Eis então uma massificação alienante, quando mesmo diante dessa realidade, a grande multidão assiste passivamente; vibram inebriadas com as grandes atrações contratadas, – as grandes bandas de forró eletrônico, – Onde na grande maioria, o grande pesar é porque será inviável estar naquele em que aquela famosa banda se apresentará. Que grande parte da população viva a margem da sociedade, com o mínimo de condições dignas, que importa? Que o cidadão morra numa fila de espera em qualquer posto médico ou num hospital público, que importa? Que a verdade seja manipulada por homens públicos que prometem e não cumprem, dizem e não fazem, que importa?

Na verdade, tudo é espetáculo. É sempre um show circense com raízes românica. São fogos de artifícios de vários modelos explodindo no céu, gente bonita cantando e dançando no palco; é uma coisa fantástica! Tudo produzido com a clara intenção de divertir o povo, mas uma diversão que não produz crescimento cultural, conhecimento autentico. Pelo contrário, contribui para a construção cada vez mais de uma sociedade que desconhece seus valores inalienáveis e com isso, mina suas possibilidades de questionar, argumentar, lutar.

O Xamegão funciona como um mecanismo de alienação da grande massa, em nome de uma pseudo “festejo junino”. Ele é apenas o Circo oferecido pelos representantes do povo á grande massa faminta por entretenimento sem sentido. O Xamegão é isso e foi pensado para esta finalidade. Na verdade o Xamegão se torna semelhante ás atrações românicas, que tinham aclara função de ser apenas uma “diversão faraônica e fantasmagórica, ou seja, não contribuindo para a formação de uma sociedade com consciência crítica e reflexiva”.

Em conseqüência, a própria sociedade é literalmente prejudicada com esses shows faraônicos, cujos mesmo normalmente são pagos com dinheiro público, o qual é fruto dos impostos que o povo paga rigorosamente em beneficio do Município. Em resumo, os algozes, “políticos”, atingem o alvo com suas mensagens enfadonhas e medíocres. Já os produtores de eventos, evaporam com o cachê para outros lugares, pois eles normalmente são de outras cidades distantes, para facilitar a tramacoca com os “políticos” que os contratam.

Quanto mais tempo durar a Política do Pão e Circo, mais intenso será o estrago moral e social causado á sociedade.

Damião Fernandes

Damião Fernandes

Damião Fernandes. Poeta. Escritor e Professor Universitário. Graduado em Filosofia. Pós Graduado em Filosofia da Educação. Mestre e Doutorando em Educação pela (UFPB). Autor do livro: COISAS COMUNS: o sagrado que abriga dentro. (Penalux, 2014).

Contato: [email protected]

Damião Fernandes

Damião Fernandes

Damião Fernandes. Poeta. Escritor e Professor Universitário. Graduado em Filosofia. Pós Graduado em Filosofia da Educação. Mestre e Doutorando em Educação pela (UFPB). Autor do livro: COISAS COMUNS: o sagrado que abriga dentro. (Penalux, 2014).

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