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Damião Fernandes

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Quem precisa do Atlético?

15/02/2009 às 08h50

Todas as sociedades humanas constroem seus mitos e estabelecem quais oferendas devem ser a eles – aos seus deus – oferecidas. É sabido também que esses deuses não tinham na verdade um poder sobrenatural, mas somente aquele que a sociedade – os homens e as mulheres ávidas pelo mistagórico e mágico – lhe conferiam. 

Cajazeiras, como sabem, não se assemelha nem de longe a  uma das polis grega com suas identidades culturais e manifestações filósofico-religiosas. Mas há uma traço, um detalhe, um fragmento de analogia que não podemos desconsiderar: a grande relevância dos mitos que tanto eram construídos na Grécia Antiga quanto também aqui, na cidade “que ensinou a Paraíba a Ler”. 

Mas o grande ente histórico ao qual me refiro, trata-se de um mito futebolístico, se assim podemos chama-lo. Refiro-me ao famigerado Atlético Cajazeirense de Desportos, que assim como os deuses gregos,  não tem nenhum poder por si mesmo de seduzir, atrair os seus súditos ou os seus alucinados torcedores. O poder que ele – O Atlético – tem é na verdade um poder imaginativo, ilusório-coletivo dado por aqueles que se dispõe a cultuá-lo com tal. 

O Atlético é um mito que precisa ser sofrida e forçosamente alimentado dia após dia, ano após ano, década após década para que não caia no esquecimento coletivo – o que não seria má idéia – e vire cinzas no inconsciente social. Eu fico me perguntando por que tanta insistência em manter essa mitologia atleticana, em insistir a fazer com que as pessoas acreditem que ele – o Atlético – é um bem necessário a sociedade, quando na verdade nenhum desenvolvimento social, cultural ou humano esse clube trouxe ou traz aos cidadãos da “pólis cajazeirense”. Ele é um deus ineficaz em si mesmo. 

Tantas e tantas diretorias já foram eleitas e nenhuma delas conseguiu levar esse clube o mais longe que já foi. E olha que ele não foi tão longe assim. O que acontecia era justamente o inverso, ou seja, a diretoria que saia deixava o clube miseravelmente pior do que estava. Parece-me que a única preocupação das diretorias criteriosamente impostas era apenas alimentar essa mitologia atleticana e apropriar-se dos recursos investidos no clube. Que não foram poucos. Com a palavra os antigos diretores dessa fábula atleticana. 

E como se não bastasse, nesses dias a mitologia e a fabulóide atleticana tiveram mais um episódio. O prefeito Léo Abreu recebeu em seu gabinete, o novo comando fabuloso, onde na reunião o prefeito da Pólis-Cajazeirense confirmou o apoio para a participação da Fabulóide-Atléticana na segunda divisão do campeonato paraibano de 2009. foi confirmado o patrocínio da prefeitura no valor de R$ 72.000,00, sendo um repasse mensal durantes os 3 meses da competição no valor de R$ 24.000,00. 

Quanto dinheiro público investido apenas em uma fábula esportiva, em uma mitologia forçosamente construída no coletivo imaginário das pessoas. Dinheiro dos nossos impostos que será muito mal investido, que não veremos jamais nenhum retorno social, humano, e muito menos esportivo. Tantas são outras áreas que precisam deste recurso para apresentarem um melhor desempenho no seu serviço à população. Quantos programas socias, como por exemplo de combate ás drogras, de combate à prostituição infantil não poderiam ser criados em nossa cidade. Mas, alimentar a fabulóide atleticana tem mais repercução política.

Uma coisa é certa e clara: Uma sociedade paga muito caro – e em nosso caso são R$ 72.000,00 – para alimentar seus mitos, seus deuses e suas fábulas.

Para saber mais

EVERARDO ROCHA. O que é mito. 8ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1999. 
CENCILLO, L. Mito. Semântica e realidade. Madrid, 1970

Damião Fernandes

Damião Fernandes

Damião Fernandes. Poeta. Escritor e Professor Universitário. Graduado em Filosofia. Pós Graduado em Filosofia da Educação. Mestre e Doutorando em Educação pela (UFPB). Autor do livro: COISAS COMUNS: o sagrado que abriga dentro. (Penalux, 2014).

Contato: [email protected]

Damião Fernandes

Damião Fernandes

Damião Fernandes. Poeta. Escritor e Professor Universitário. Graduado em Filosofia. Pós Graduado em Filosofia da Educação. Mestre e Doutorando em Educação pela (UFPB). Autor do livro: COISAS COMUNS: o sagrado que abriga dentro. (Penalux, 2014).

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