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Padre Djacy

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Quero ver os granfinos correndo da morte

01/11/2015 às 23h45

Por Padre Djacy Brasileiro

“Orai e vigiai, pois não sabeis nem o dia e nem a hora”, disse Jesus. Como é notório, todos chegaremos ao final de nossa existência, querendo ou não. É uma realidade transcendental pela qual todos passarão: ricos, pobres, agricultores, doutos, analfabetos, famosos, latifundiários, Presidentes, Generais, Papas, gente besta do nariz empinado e os “não me toquem”. Não escapa ninguém. Graças a Deus! Jesus, nas suas palavras supracitadas, queria dizer o seguinte: a morte é inevitável, por conta disso, preparem-se para o encontro definitivo com Deus.

Infelizmente, nesta sociedade materialista, hedonista, consumista, por que não dizer, secularista, muitas pessoas poderosas, endinheiradas, cheias de vida, encasteladas nas suas vaidades, vivem como se não fossem morrer. A cada dia que passa preocupam-se mais e mais com status, beleza física, satisfação pessoal, poder, notoriedade e com seus bens materiais. No tocante aos bens terrenos, vivem obcecadas, sempre pensando adquirir mais, lucrar mais, para isso, passam por cima dos valores ético-morais, explorando os pobres, praticando todo tipo de corrupção, sem contar com outras atitudes incompatíveis com a dignidade da pessoa humana. Para essa gente gananciosa, orgulhosa, vaidosa, vale a sentença bíblica: “Vaidade das vaidades tudo é vaidade”.

Para esses “semideuses”, o que importa é o viver no aqui e agora. O pior, é que esse comportamento anticristão, desumano, é praticado muitas vezes, por pessoas que se dizem cristãs, que vão à igreja ou ao templo, leem a Bíblia, se confessam, recebem a Eucaristia louvam a Deus. Mais que hipocrisia desses cristãos! Eis o que diz Jesus: “Nem todos aqueles que dizem Senhor, Senhor, será salvo”. Ora, até o diabo acredita em Deus.

Para que tanto apego às coisas desta vida efêmera? O que adianta tanto orgulho, vaidade, arrogância, prepotência, ambição, se a qualquer fração de segundo da vida, a pessoa pode desaparecer do “mapa”? : “Como sopro se acabam nossos anos. Pode durar setenta anos nossa vida, os mais fortes talvez cheguem a oitenta; a maior parte é ilusão e sofrimento: passam depressa e também nós assim passamos”(Sl 89).

Há muitas pessoas que, pelo fato de ganhar bem, morar em mansões, ser possuidoras de diplomas, de anel de ouro no dedo (médicos, juízes, promotores, advogados, políticos, empresários, engenheiros etc.), ter bons empregos, ocupar cargos importantes na sociedade, só pisam no chão porque é o jeito e evitam contato direto, amigável, afável, com as pessoas pobres, simples, humildes, necessitadas, tratando-as com indiferença, arrogância, prepotência, como se esses queridos filhos de Deus não fossem pessoas humanas possuidoras de dignidade. Coitadas, a qualquer momento poderão bater as “botas”: “Como o sopro do vento é o homem, os seus dias são sombra que passa” (Salmo 143).

Muitas pessoas humildes, pobres, injustiçadas, vítimas de preconceitos, tratadas com desdém pela sociedade do ter e poder e também, infelizmente, por certas autoridades religiosas, comentam coisas que deixam meu coração de pastor dilacerado, partido. Comentários tristes, revoltantes. Tratam-se, indubitavelmente, de desabafos:
-Seu padre, eu tenho um primo, que agora é doutor, ganha muito, anda só de carrão, Agora seu padre, ele passa por nós, e nem dá um bom dia. O bicho tá todo orgulhoso. Passa por nós, como se nós não fosse família dele.

-Eu tenho uma prima rica, só anda de carro importado, uma vez eu tava numa festa e uma pessoa perguntou pra ela: fulana você é família desse camarada? Ah, seu padre, ela disse : ele ainda é parente de meu pai, mas bem distante. Nojenta, sou sobrinho do seu pai, pensei eu. Pense num desgosto. Antes, a gente andava de jumento pra roça, e hoje ,nem me conhece. Tá bom, entrego nas mãos de Deus.

-Padre, o médico me tratou mal. Ele mandou que eu me afastasse dele, eu não sei por que seu padre, eu acho que porque eu sou pobre. Isso foi numa consulta, padre.

-Seu padre, só porque sou pobre, não tenho nada na vida, fui mal recebido pelo juiz. Ele, seu padre, falava comigo gritando, e eu seu padre só fazia chorar. Depois, voltei para minha casinha, e minha filha de meu um chá prá eu me acalmar. Olha, padre, só porque eu só pobre, tenho certeza disso”.

-Meu querido padre, uma vez eu fui a casa de uma pessoa rica da cidade, e quando bati palma, fui logo ouvindo: o que é, o que foi, tá não, pode ir embora. Fiquei um capeta.

-Uma coisa vou dizer ao senhor, seu padre, quem é pobre neste mundo é tratado como cachorro. Veja padre, as fila nos hospitais, só tem mesmo é gente lascada, sem nada pra viver. A gente não vê um rico na fila, nem esses filhos de papai.

-Eu conheço uma moça, padre, que depois que se formou em medicina, agora é outra pessoa: orgulhosa, vaidosa, parece que não é filha de Deus. Ela era pobre, e agora ficou tão besta.

-Olha padre, o pobre, quando chega ao hospital, numa repartição pública, é tratado como gato, como bicho, ninguém olha pra ele, e quando é atendido, é atendido de forma grosseira, nojenta, seu padre.

-Padre Djacy, uma vez eu tava na estrada, passou um parente meu, ele é doutor, e nem olhou para mim. Eita bicho orgulhoso esse meu primo”.

-Padre, me diga uma coisa, lá no céu, tem esse negócio de gente que foi importante na terra, ocupar os primeiros lugares? Se for assim, seu padre Djacy, a gente ta é lascado. Nem no céu o pobre tem vez. Vixe Maria.

-Padre, tem gente que quando se forma, ou arruma um bom emprego, não fala mais com a gente, fica toda orgulhosa, antipática.
-Padre Djacy, uma doutora assim me falou: eu sou médica, sou mais importante que qualquer pessoa, eu sou como Deus. Quero ver as pessoas não correrem atrás de mim?
-Certo juiz seu padre, me disse: o que é? O que deseja? Saia da minha frente. Padre, sai chorando e pensando: não sou nada neste mundo.

-Olha, padre, tem gente que se sente tão importante, tão sem igual, que não dá um bom dia a ninguém, sobretudo as pessoas pobres, as pessoas sem nada na vida.

-Por que tanto orgulho, vaidade, cara dura, tanta besteira, se a qualquer momento pode ter uma dor de barriga e fazer as coisas no meio da rua, num salão de festa, no carro.

-Padre Djacy, penso que essa gente granfina só usa banheiro porque é o jeito.

-Bom, padre Djacy,o padre fulano de tal me recebeu muito mal na sua casa, nem sequer me mandou sentar. Estava com tanta sede, mas tive cerimônia em pedir água. Pense, seu padre, no luxo da casa. Eita casa bonita a do padre .Eita como o padre e sua equipe são antipáticos, Deus me livre. E é porque é padre, imagine se não fosse. Esse padre não é de Deus, me tratou com muito mal.

-Padre, esse povo besta, importante, faz as mesmas coisas que as outras pessoas fazem? Sente dores, tem dor de barriga, solta gases, vomita, usa sanitário?

-Meu amigo, uma coisa é certa, tem gente que só porque é importante, doutor pra lá, doutor pra cá, quando morre, depois de algumas horas, a podridão toma conta. Não é assim, padre?

-Ah, padre, minha filha queria fazer medicina, fez um bocado de vestibular, mas não passou. Agora, sabe quem passa para fazer medicina na Universidade Pública? Claro, os filhos de ricos. Como minha filha é pobre, nada.

-Estou fazendo um bingo para arrecadar dinheiro para pagar a cirurgia do meu filho, pois o médico disse que só faz se pagar na hora.

-Eu fui reclamar que o médico não cumpre o horário integral no PSF, sabe o que ele falou? Ele falou que o problema era dele, e pronto. Pobre é pra ficar calado, porque pobre não é nada diante dele. Ele me disse isso, seu padre.

-Olha, meu amigo padre, meus filhos depois que se tornaram doutor, agora têm vergonha do pai e da mãe, só porque a gente é velho, feios, só porque a gente não tem dentes e tem o rosto engiado. Eles têm vergonha de nós padre.
-Meu vizinho não fala com a gente, não cumprimenta ninguém. É todo mundo antipático. Penso que é porque mora numa mansão, e a gente mora numa casa simples, humilde.

-Tem gente tão besta, tão orgulhosa, que quando está dirigindo seu carrão com óculos escuros, não fala com ninguém. Parece um robô.

Muitas vezes, essa gente fina que pensa que é imortal, que não vai morrer, apodrecer e feder, tem até nojo de pegar na mão dos seus semelhantes (literalmente falando), pelo fato de serem pobres. Há patricinhas e mauricinhos que mais parecem um robô: empinam o nariz, endurecem a cara e mal olham para as pessoas. Besteira das besteiras, tudo é besteira. Um dia a morte pega esses granfinos, e sua carne vai apodrecer para a felicidade dos germes. Duvido que seu dinheiro, sua beleza física, seu anel de doutor, venha em seu socorro. Essa gente pensa que não morre, que não há julgamento por parte de Jesus, que dissera: “Ai dos que maltratam os pobres”.

Nas missas de exéquias, ou missas de finados, faço questão de chamar a atenção dos cristãos católicos para a brevidade da vida. Digo-lhes que é imprescindível que nos preparemos para o momento final de nossa existência humana, e que no instante final da vida ser-nos-emos julgados pela prática do amor, conforme diz São João da Cruz: “no entardecer da vida, seremos julgados pelo o amor”. Faço questão de citar muitas expressões bíblicas, visando fazer com que os ouvintes tenham uma melhor compreensão sobre a necessidade de prepararem-se cristamente para a morte. Ei-las:

“Nós não temos cidade permanente, estamos olhando para a cidade futura (Hebreus 13,14)

“Não dura muito o homem rico e poderoso; é semelhante ao gado gordo que abate”; “morrem os sábios e os ricos igualmente”; morrem os loucos e também os insensatos, e deixam tudo que possuem aos estranhos”Sl 48(49);

“para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro” (Fl 1,21);

“Nós, porem, somos cidadãos do céu” (Fl 3,20);

“Como sopro se acabam nossos anos. Pode durar setenta anos nossa vida, os mais fortes talvez cheguem a oitenta; a maior parte é ilusão e sofrimento: passam depressa e também nós assim passamos(Sl 89);

“Ninguém se livra da morte por dinheiro. Nem a Deus pode pagar o seu resgate; A isenção da morte não tem preço; não há riqueza que a possa adquirir, nem dar ao homem uma vida sem limites e garantir-lhe uma existência imortal” Sl 48(49);

“A morte é justa e vem para todos indistintamente” (Salmo 48(49)).

Uma coisa eu digo, e sem medo de errar, que o cemitério é o lugar onde todos moram bem coladinhos: pobres, ricos, doutos, pessoas importante de narizes empinados, arrogantes, prepotentes. Pensem num lugar, onde todos são iguais? Agora, o negócio não é no cemitério, é na outra vida. Certamente, os pobres terão prioridade na Casa do Pai. Lembremo-nos da famosa parábola do famigerado rico e do pobre Lázaro, contada por Jesus. Então, reflitamos, antes que seja tarde.

Quero ver os figurões, os granfinos, os importantes, os mandões, os “não me toquem”, os narizes empinados, escaparem dessa. “Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”. E eu não estou nem aí.

O amor ao próximo- e quem é o meu próximo?- será o critério maior do nosso julgamento final. Não foi por acaso que Jesus tanto insistira no mandamento do amor: “amai-vos uns aos outros”.

A única coisa que impede barreiras chama-se mortalidade. Somos iguais na vida e na morte. Dessa realidade transcendental ninguém escapa.

Para os que se consideram imortais, tão importantes, valem as palavras de Jesus: “quem se eleva será humilhado, e quem se humilha será elevado” (Lc 14,11). Essas expressões do Senhor da libertação, o Senhor que veio para “que todos tenham vida”, levam-me a crer que os pequenos, os rejeitados, os pobres, são os porteiros do céu. E agora, seus semideuses?

A única coisa que impede barreiras chama-se mortalidade. Somos iguais na vida e na morte. Dessa realidade transcendental ninguém escapa.

Padre Djacy Brasileiro, 02 de novembro de 2015.
E-mail: [email protected]
Twitter: @Padredjacy

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Pároco da paróquia Nossa Senhora do Perpetuo Socorro, da cidade de Pedra Branca, no Vale do Piancó, Diocese de Cajazeiras, Paraíba.

Contato: [email protected]

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