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Francisco Cartaxo

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Rivalidade entre Cajazeiras e Sousa (final)

08/04/2018 às 09h04

Sousa completou 100 anos de existência como cidade, em 10 julho de 1954. Terceira mais antiga da Paraíba, depois da capital e de Areia, embora o núcleo urbano de Pombal, o velho Arraial do Piranhas, tenha se formado bem antes. Houve muita festividade, alvorada, foguetório, missa, desfile escolar, banda de música, inaugurações, festa dançante. À noite, sessão solene, discursos, saudações, recital. Um rapaz de 21 anos declamou longo poema que assim começa:

Salve, Sousa, neste dia
em que galhardos e ufanos
teus filhos te glorificam
ao completares cem anos.

Cem anos como cidade,
mais de cem como Princesa
que tu és por natureza
dos sertões paraibanos.

O auditório explode em aplausos e interrompe várias vezes o declamador. Com razão. O orgulho sousense se justificava mais ainda por ser o autor da Ode a Sousa um cajazeirense, Cristiano Cartaxo, e o declamador, seu filho, Tantino Cartaxo. O poeta exalta no longo poema o rico passado de Sousa, com menção a fatos históricos,à passagem dos que lutaram pela independência e pela República em 1817 e 1824. (Acauã foi o teatro/ que teu passado reflete/ no passo de 17/na pugna de 24). Emergem também suas figuras avoengas, ao lado do potencial econômico de suas várzeas, celeiro do futuro com o aproveitamento para plantios irrigados a partir do Açude São Gonçalo. Nada foi esquecido pelo intelectual cajazeirense em seu extenso poema. O mesmo poeta, alguns anos antes, já chamara a atenção em soneto bem construído para esta iniciativa que tanto orgulha Sousa:

Já Letras do Sertão levou lá fora,
entre outras coisas esta grande coisa:
uma fonte de luz brotou agora
na cidade eucarística de Sousa.

A revista Letras do Sertão começou a circular em Sousa em 1951, perdurou em sua primeira fase até 1963,e reapareceu outras vezes. As rusgas entre Cajazeiras e Sousa ficaram em segundo plano nas páginas da revista, que contava, aliás, com a colaboração de intelectuais cajazeirenses, incluindo um dos seus inspiradores, o então jovem pesquisador, Deusdedit Leitão.Nesse nível, as duas importantes cidades sertanejas caminharam de mãos dadas. Em outros planos, as intrigas entre elas inibiram conquistas de interesse mútuos que poderiam ter mudado o rumo do nosso desenvolvimento. Menciono a localização de um aeroporto regional, situado a meio caminho entre Sousa e Cajazeiras, a servir com equilíbrio aos dois importantes centros. Depois de muitos anos de luta de cajazeirenses, temos um quase elefante branco à margem da BR 230, a sete quilômetros da divisa do Ceará, sem receber sequer uma linha comercial regular.

Existe muito mais a dizer a respeito das relações, nem sempre amistosas, entre as duas cidadesno campo dos esportes, o futebol à frente, com suas torcidas briguentas, preparadas para a guerra em dias de clássicos sertanejos… Na esfera eleitoral, quando Sousa polarizava com intensidade seus votos entre dois candidatos da terra a deputado federal, Cajazeiras, quase sempre, sufragava um dos nomes, (às vezes os dois) deixando de lado os traços rivais entre os municípios. E o que dizer da ousadia em matéria de comunicação radiofônica? Em favor de Cajazeiras, um banho histórico, desde a época dos serviços de alto-falantes, ousados, a se comportar como se fora emissora de rádio…audácia que persiste até nossos dias, com pioneira televisão online, sem esquecer a primeira FM da Paraíba. Paro nesses exemplos para não cansaro leitor.

Francisco Cartaxo

Francisco Cartaxo

Francisco Sales Cartaxo Rolim foi secretário de planejamento do governo de Ivan Bichara, secretário-adjunto da fazenda de Pernambuco – governo de Miguel Arraes. É escritor, filiado à UBE/PE e membro-fundador da Academia Cajazeirense de Artes e Letras – ACAL. Autor de, entre outros livros, Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras no cerco ao padre Cícero.

Contato: [email protected]

Francisco Cartaxo

Francisco Cartaxo

Francisco Sales Cartaxo Rolim foi secretário de planejamento do governo de Ivan Bichara, secretário-adjunto da fazenda de Pernambuco – governo de Miguel Arraes. É escritor, filiado à UBE/PE e membro-fundador da Academia Cajazeirense de Artes e Letras – ACAL. Autor de, entre outros livros, Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras no cerco ao padre Cícero.

Contato: [email protected]

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