header top bar

Abraão Vitoriano

section content

Sou gordo, leve e feliz

20/03/2016 às 16h01 • atualizado em 20/03/2016 às 19h36

Sou gordo, leve e feliz - Por Abraão Vitoriano

Por Abraão Vitoriano

Chego ao supermercado a fim de comprar um biscoito recheado, por vezes tenho desejos de um menino de sete anos, e encontro no balcão mais adiante uma promoção de panetones. Levo logo dois, assim fixados ao colo, como ursos de pelúcia. No momento de passar no caixa, contudo, tenho um ataque de pelancas: vou comer desse tanto para ficar parecendo um hipopótamo e explodir? vou comer demasiadamente e perder a graça em viver e monitorar-me em frente ao espelho, anotar culotes, pneus e celulites avermelhadas para o inquérito do corpo perfeito?

“Peraí”, mas quem foi que determinou que ser feliz pressupõe um molde, uma forma, um padrão de cintura e biceps? Todo mundo tem que se privar de saborear o que se deseja somente em função de uma ditadura da beleza e a alegria de se lambuzar de sorvete e atacar a geladeira durante a madrugada, não vale? Sabe de uma coisa: “phodma-se” as campanhas que pedem para a gente ser sexy, os comercias com modelos de corpos sarados bebendo cerveja, os outdoors de grifes com homens e mulheres esqueléticos, as cintas e aparelhos miraculosos, os shakes de gastura instantânea com sabor de mel com terra.

Obviamente, devo considerar a minha saúde, atitude a qual não exclui o meu prazer. Comer um panetone, sobretudo em promoção, não pode ser visto como o pecado inaugural. Do mesmo modo, assim como há pessoas que se dedicam a delinear suas formas, há aquelas que preferem ser do jeito que Deus quis.

Certa vez, um amigo chamou-me de gordo e sugeriu que não usasse camisas apertadas, já que elas acentuavam meus defeitos. Pior: ele teceu esse comentário na frente de algumas pessoas. Todos olharam para mim esperando a grande resposta, que não veio. Não respondi, mesmo porque “narciso acha feio aquilo que não é espelho” e não perderei meu precioso tempo na investida de explicar que “de perto, ninguém é normal”.

Ao contrário do que uns idealizam, no auge dos meus noventa e pouco quilos, tenho um alma leve e feliz que não carrega de jeito nenhum o peso de uma caricatura estética. E sobre os panetones, estou no quarto pedaço, que delícia!

Abraão Vitoriano

Abraão Vitoriano

Formado em Letras e Pedagogia. Pós-graduado em Educação. Escritor. Poeta. Revisor de textos. Professor na Faculdade São Francisco da Paraíba e na Escola M. E. I. E. F Augusto Bernadino de Sousa.

Contato: [email protected]

Abraão Vitoriano

Abraão Vitoriano

Formado em Letras e Pedagogia. Pós-graduado em Educação. Escritor. Poeta. Revisor de textos. Professor na Faculdade São Francisco da Paraíba e na Escola M. E. I. E. F Augusto Bernadino de Sousa.

Contato: [email protected]

Recomendado pelo Google: