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Damião Fernandes

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Teologia de Criança

28/02/2014 às 11h32

Diferente dos adultos, geralmente as crianças trazem em si um particular poder de análise-crítico e de questionamentos ‘inadequados”. As crianças, quando querem, sabem mesmo perguntar pelos cotovelos. No interrogatório infantil, muitas das vezes, nem mesmo Deus escapa. O que é isso!? O que é aquilo!? Como é isso!? Como é aquilo!? Pra que isto!? Pra que aquilo!? Naquela manhã, na sala do 5º ano a professora explicava, enquanto seus alunos escutavam silenciosamente atentos.

De repente, uma menininha timidamente levanta seu braço direito, lá do fundinho da sala e pergunta;

_ Professora, porque as crianças perguntam tanto!? Tenho um primo lá em casa que eu já não aguento mais suas perguntas chatas! A sala inteira caiu numa gargalhada.

Maria, as crianças perguntam muito, por que elas tem muita curiosidade. Todos nós quando nascemos, já trazemos uma mala cheinha de curiosidades dentro da gente.

Os alunos mantinham seus olhares atentos áquelas palavras da professora Margarida.

Então, ela continua a falar sobre as diferenças entre os adultos crescidos e as crianças curiosas. Dizia ela, que o “pensar adulto” estava mais preocupado com a utilidade técnica, como o pensar direito de acordo com regras ou normas. Já o “pensar criança” não tinha esta preocupação. As crianças quando pensam, se preocupa com o mistério em sí envolvido e não como o que faz sentido ou não.Toda criança quando pensa e pergunta, ela sempre começa a fazer poesia.É algo inocentemente natural.

Enquanto a professora Margarida falava, os alunos pareciam anestesiados com tamanha doçura e tranquilidade no falar. Já faltavam poucos minutos para o toque final. Em um único folego, a professora fizera a explicação sobre a diferença entrar o “pensar adulto” e o “pensar criança”. Aquele sala de alunos tradicionalmente intranquilos e superativos, estavam naquele momento tomados por um espirito de contemplação.

Todos, menos um.

No final da sala, do lado direto, onde já dava acesso á porta de saída, estava um menino. Era de estatura mediana, franzino de corpo e que estava com sua cabeça baixa sobre os braços! Suavemente dava-se para ouvir um tipo de som parecido com um rouco. Durante toda a explicação da brilhante professora, aquele garoto desinteressado dormia. Dormia profundamente. A professora, cala-se por um instante e caminha suavemente em direção a ele. A sala inteira acompanha os passos da professora com o olhar. A expectativa toma conta de todos.

Marcelinho! Marcelinho  _ Chama insistentemente a professora!

Oi professora! Já podemos ir? Respondeu ele ainda meio sonolento. Marcelinho não havia escutado quase nada do que tinha sido conversado em sala.

Ainda não! O que você conseguiu entender do que falei, Marcelinho!? – Pergunta a professora.

O que professora!? O que entendi!? Marcelinho abre um sorriso envergonhado. Bem, antes que eu pegasse no sono, uma das pouquíssimas coisas que consegui ainda escutar, foi a senhora falando que somos diferentes! Depois daí, mais nada. Mas, mesmo dormindo, eu fiquei matutando uma coisa aqui!

O que Marcelinho!? O que ficou matutando!? Pergunta a professora profundamente curiosa!

Porque as pessoas são diferentes? Porque os que são diferentes sempre acham que a diferença do outro é um defeito? E professora, porque existem pessoas tão ricas e pessoas tão pobres? Quem é que escolhe aquelas que irão nascer ricas e aquelas que irão nascer pobres?. Pergunto aquele menino franzino.

A esta altura, a professora estava petrificada olhando para Marcelinho. Um pouco assustada e vislumbrada ao mesmo tempo pelas suas perguntas. Ela olha para aquele menino, tentando entender de onde nasceram aquelas perguntas? Quem as tinha colocado ali enquanto ele dormia? E ela olhava e pensava… e pensava… e pensava e nada das respostas virem.

Foi Deus, professora! Respondeu Marcelinho apontando para o céu que dava pra ser visto pela janela da sala de aula.

Como!? Deus!? – Ainda mais assustada, respondeu a professora.

Foi Deus, que num certo dia, sentado em seu escritório celestial, olhando aqui para terra e simplesmente com o seu dedão divino, ia apontando para todos nós e ia dizendo: Esse nascerá pobre! Esse nascerá rico! Esse outro terá que trabalhar muito se quiser sobreviver! Esse outro não! Ele terá muita fartura em sua casa! Já aqueles deveram pedir comida todo final de noite para sobreviver.

A professora, surpresa com a resposta, olha para Marcelinho e discretamente deixar saltar um sorriso. Faz-lhe um carinhoso afago e pensa que ele terá ainda muita vida pela frente para compreender sobre a sociologia do mundo e ainda mais sobre a teologia de Deus. Por enquanto, lhe bastava mais o seu olhar compreensivo e amoroso do que suas respostas dogmáticas e sérias.

Marcelinho e seu jeito próprio de explicar Deus!  – Sussurra a Professora!

E ainda sorrindo, ela caminha em direção ao seu birô. Naquele momento soa o sino e todos correm em direção à porta. Chegava a festiva hora de ir para casa.

Damião Fernandes

Damião Fernandes

Damião Fernandes. Poeta. Escritor e Professor Universitário. Graduado em Filosofia. Pós Graduado em Filosofia da Educação. Mestre e Doutorando em Educação pela (UFPB). Autor do livro: COISAS COMUNS: o sagrado que abriga dentro. (Penalux, 2014).

Contato: [email protected]

Damião Fernandes

Damião Fernandes

Damião Fernandes. Poeta. Escritor e Professor Universitário. Graduado em Filosofia. Pós Graduado em Filosofia da Educação. Mestre e Doutorando em Educação pela (UFPB). Autor do livro: COISAS COMUNS: o sagrado que abriga dentro. (Penalux, 2014).

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