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Fernando Caldeira

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Uma babugem precisa nascer

24/03/2013 às 10h29

As chuvas que caíram nos últimos dias, mesmo trazendo alento para a população que, pelo terceiro ano seguido, enfrenta as consequencias de um dos mais dramáticos ciclos de estiagem que afeta a região semiárido nordestina, não pode abafar a necessidade de se pensar as estiagens como problema político que, inerente as condições climáticas e geomorfológicas deste espaço, se repetirão a cada percurso. Problema político que não pode ser encarado pela ótica que, historicamente, situa a questão no estágio do determinismo e da impossibilidade. Mas, como uma problemática que exige políticas públicas e projetos conseqüentes que superem a limitação cronológica de um mandato ou de uma opção político-partidária e ideológica.

Soluções prontas e receitas a priori já se revelaram inócuas e férteis em favorecimento de grupos “oligárquicos” que usaram a miséria como questão invencível, merecendo apenas aliviar seus efeitos mais visíveis. Também se mostraram inoperantes quando totalizam a região em torno de uma única configuração e, portanto, cabível de uma solução também única, negligenciando a diversidade que pulula em todas as direções, revelando a caleidoscópica composição e configuração de práticas, vivências, concepções de mundo, modos de encarar os problemas e de construir soluções e alternativas para a sua superação que esquadrinha o mosaico nordestino.

 

O vasto conhecimento que, ao longo do último século, se produziu e se sistematizou sobre a região semiárida indica que, nas universidades, centros e institutos de pesquisa encontra-se um rico arsenal de discussão e de saber sobre o que é a região semiárida, quem é, como pensa e sonha sua gente, quais seus regimes de chuvas, como utilizar o solo e o clima para a produção de alimentos e de outras alternativas, como a geração de energia a partir da força dos ventos e dos raios solares, matérias primas abundantes e disponíveis o ano todo na região. Pesquisas indicam como deve ser o acesso a terra e a água neste espaço, apontando para a necessidade de se romper as cercas que aprisionam a terra e os mananciais, naturais ou produzidos pela tecnologia humana, em feudos usufruídos por minorias privilegiadas. 

 

As práticas e a atuação de organismos da sociedade civil e entidades ligadas a igrejas e outros setores indicam, em inúmeras experiências e projetos, como é possível a convivência com a estiagem e a semiaridez, a partir de uma concepção diferente da relação do homem com o meio e da construção de novas práticas e novos procederes que mudando as mentalidades, subvertam a ordem dominante, quebrando as peias da sujeição política, cultural, econômica.

 

Essa questão, no entanto, não pode ficar restrita ao voluntarismo de algumas entidades. Urgente se faz dar concretude à discussão sobre as repercussões políticas, econômicas, sociais, culturais, místicas da seca e tornar permanente uma política pública que sobreviva ao clarão do primeiro relâmpago que anuncia a volta das chuvas no sertão. E isto é responsabilidade do Estado. Sair do delírio de transposições e bolsas e encarnar a disposição de construir programas que, marcados pela permanência, torne as estiagens apenas um fenômeno natural, como as invernadas, é dever de quem governa.

 

Fernando Caldeira

Fernando Caldeira

Jornalista profissional em diversas emissoras de rádio e jornais da Paraíba, atualmente é articulista do Gazeta do Alto Piranhas (Cajazeiras), produtor e apresentador do programa Trem das Onze, apresentado aos domingos pela Rádio Alto Piranhas, colunista dos portais diariodosertão, politicapb, obeabadosertao, canalnoite, e mantém na internet o portal www.fernandocaldeira.com.br

Contato: [email protected]

Fernando Caldeira

Fernando Caldeira

Jornalista profissional em diversas emissoras de rádio e jornais da Paraíba, atualmente é articulista do Gazeta do Alto Piranhas (Cajazeiras), produtor e apresentador do programa Trem das Onze, apresentado aos domingos pela Rádio Alto Piranhas, colunista dos portais diariodosertão, politicapb, obeabadosertao, canalnoite, e mantém na internet o portal www.fernandocaldeira.com.br

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