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Damião Fernandes

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Uma Educação Platônica

27/04/2009 às 12h26

Antes de debruçarmos sobre uma reflexão acerca de um conceito platônico sobre a educação, torna-se pontual destacarmos qual a compreensão grega sobre a educação. O que para eles – os Gregos – significava a palavra educação? Qual era a construção conceitual sobre a educação, que era sistematicamente idealizada por aqueles povos, sobretudo os do período da Grécia Clássica, conhecido também com o século de Péricles. Visto que, é justamente neste período histórico que Platão elabora sua idéia de Educação.

É importante acentuar, que os conceitos ou ideais educativos tratados pelo homem grego, não podem resumi-los á Paidéia Grega, pois historiador o alemão Werner Jaeger afirma que os ideais educativos da Paidéia somente irá surgir a partir do século V, pois antes do século V o termo Paidéia designava apenas “criação de meninos”, muito diferente do elevado sentido que mais tarde adquiriu. Jaeger atribui importante colaboração de Platão á essa reformulação nas bases da Paidéia Grega.

Se quisermos encontrar um fio condutor que nos guie ao longo da história da educação grega e lhe dê unidade, encontramo-lo no conceito de aretê. De fato, o tema essencial da história da educação grega é o conceito de aretê que remonta aos tempos mais antigos.

É este conceito que exprime a forma primeira, original e originária, do ideal educativo grego. Mas se o ideal educativo grego, na sua forma mais alta e acabada, se consubstancia no conceito de Paidéia, é inegável que este conceito conserva bem a marca da sua origem, já que Paidéia, na densa riqueza do seu sentido – não é possível traduzi-lo em português numa única palavra – inclui, também, o conceito de Arete, para o qual remete.

Não é por acaso que, nas grandes discussões sobre educação que o séc. V a.C. conhece, os dois conceitos – Paidéia e aretê – estão sempre presentes, interpenetrando-se de modo tão profundo que vai até à quase sinonímia. Assim, os sofistas reclamam-se professores de aretê política e a sua Paidéia consistirá em ensinar a técnica e a política, a qual permitirá o domínio da aretê política.

Platão estabelece como questão central e decisiva, saber o que é a virtude (aretê). O tema de todos os diálogos platônicos é bem a prova disso; é verdade que se questiona e se procura saber o que é a coragem, a sabedoria, o amor, o belo, a justiça… e tantas outras virtudes! O problema é que esses valores são, apenas exemplos de virtudes ou atributos do homem virtuoso, mas não é a virtude.

No magnífico texto da alegoria de Platão, podemos verificar a tentativa do pensador em deixar claro o exemplo do homem que se deixa guiar pela virtude. O texto da Alegoria de Platão pode dividi-lo em três partes, onde temos na cena inicial, a caracterização da imagem da Caverna, a metáfora platônica da realidade sensível, do mundo em que vivemos. Trata-se de uma imagem que terá grande impacto sobretudo para os Gregos, onde o mundo dos Mortos – o Hades – era representado por meio da figura de uma Caverna.

Platão, traz aqui a figura de prisioneiros que estão presos à correntes e imóveis desde a infância, podendo somente verem as sombras no fundo caverna. Segundo o filosofo, esses prisioneiros somos nós, quando estamos vivendo condicionados a nossos hábitos, preconceitos, costumes, ideologias ou até mesmo às teorias pedagógicas caducas que adquirimos desde a nossa infância e que nos condiciona a contemplar a realidade de maneira limita, parcial, incompleta e muitas vezes distorcidas, como sombras. Essa é a imagem do homem que constrói o seu conhecimento fundamentado nas sombras, não pensando por si próprio. O homem para chegar ao conhecimento precisar do mundo das sombras e a educação tem essa finalidade: fazer com que o homem faça o percurso do seu mundo sombrio, limitado, imperfeito e o mundo das trevas para o mundo conhecimento perfeito, cognoscível, o mundo da luz.

Do lado oposto da caverna, Platão situa uma fogueira, que representa a luz de onde se projetam as sombras e alguns homens que carregam objetos e são desses objetos as sombras que projetam no fundo da caverna e as vozes desses homens prisioneiros. Maravilhosamente o filosofo vai destacar que esses homens são representativamente os sofistas e os políticos atenienses que manipulam as opiniões dos homens comuns e que produzem um conhecimento ilusionista e sombrio.

Na Alegoria da caverna de Platão, ele procura expor o seu interesse mais imediato: investigar a nossa natureza, relativamente à educação ou à sua falta. O filósofo se mostrava inclinado em estabelecer premissas que definem o percurso pedagógico que eleva a condição do homem da opinião e do senso comum ao conhecimento fundado em certezas racionais. Com efeito, a alegoria quer demonstrar um processo de descoberta do conhecimento e de transformação do homem por meio da educação.

O próprio filósofo procurou estabelecer uma interpretação da Alegoria, de modo que a condição do homem fosse elevada a um outro nível de saber, nível esse possibilitado pela educação. 

Obs.: Fragmentos da minha Monografia de Conclusão do Curso de Pós-Graduação em Filosofia da Educação:    
"Conceito de Educação na Alegoria da Caverna no Livro VII da República de Platão." 

Para saber mais

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: introdução à filosofia. 2. ed. São Paulo: Moderna, 1993.
ABDALLA, Maurício, Um janela para a Filosofia. São Paulo: Paulus, 2004
FERNANDES, Damião, Conceito de Educação na Alegoria da Caverna no Livro VII da República de Platão, p.45-47

Damião Fernandes

Damião Fernandes

Damião Fernandes. Poeta. Escritor e Professor Universitário. Graduado em Filosofia. Pós Graduado em Filosofia da Educação. Mestre e Doutorando em Educação pela (UFPB). Autor do livro: COISAS COMUNS: o sagrado que abriga dentro. (Penalux, 2014).

Contato: [email protected]

Damião Fernandes

Damião Fernandes

Damião Fernandes. Poeta. Escritor e Professor Universitário. Graduado em Filosofia. Pós Graduado em Filosofia da Educação. Mestre e Doutorando em Educação pela (UFPB). Autor do livro: COISAS COMUNS: o sagrado que abriga dentro. (Penalux, 2014).

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