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Damião Fernandes

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Você está Apressado?

11/12/2008 às 19h49

O tempo corre. A vida passa depressa. Hoje em dia, viver apressadamente tornou-se uma exigência do mundo moderno. Somos muitas vezes engolidos por um turbilhão de realidades que necessitam de tempo para serem resolvidos; que possuem prazo de validade. E somos tentados a viver nossa vida assim: “sem tempo e por isso, vivendo apressadamente”. 

Frei Antonio das Chagas que viveu no século XVIII, tem um belíssimo poema sobre a realidade do tempo, que ora temos e ora não temos:

Deus pede estrita conta de meu tempo/ E eu vou do meu tempo, dar-lhe conta/ Mas, como dar, sem tempo, tanta conta/ Eu, que gastei, sem conta, tanto tempo?/ Para dar minha conta feita a tempo, O tempo me foi dado, e não fiz conta/ Não quis, sobrando tempo, fazer conta/ Hoje, quero acertar conta, e não há tempo/ Oh, vós, que tendes tempo sem ter conta/ Não gasteis vosso tempo em passatempo/ Cuidai, enquanto é tempo, em vossa conta/! Pois aqueles que, sem conta, gastam tempo/ Quando o tempo chegar, de prestar conta/ Chorarão, como eu, o não ter tempo…

“Tempo é dinheiro”. Essa é talvez seja uma das frases mais citadas e conhecidas. Frase esta que foi imortalizada pelo norte-americano Benjamim Franklin e que hoje se tornou um das regras básicas do capitalismo. O tempo tem se tornado nos dias um dos grandes vilões em nossa vida. Dizemos que não temos tempo para ir á Igreja, ao Cinema, Ler um bom livro, visitar os amigos, passear com a família, etc, etc, etc… Se continuássemos a lista seria infinita. Nessa concepção, o tempo é reduzido a simplesmente um meio de alcançar novos cifrões, acumular riqueza, onde viver somente vale a pena quando for acumular bens.

As pessoas passam depressa como quem tem urgência ao chegar e necessidades para sair. As pessoas passam depressa por nós e às vezes dificilmente olhamos o seu semblante, contemplamos a sua história, suas ausências ou abundâncias, a pressa nos incentiva a sermos superficiais, frios, incessíveis e às vezes grosseiros, a pressa, dizem alguns: “é inimiga da Perfeição”. Sou de absoluto acordo. Precisamos saber que o Tempo foi criado por Deus, por tanto ele – o tempo – é criatura, e não Criador. Não deve ser o tempo a nos dizer e determinar como devemos ser, mas sim deverá ser nós a administrá-lo em vista do Bem e da Verdade, em vista do amor.

Quando não colocamos o tempo na ordem do amor, como nos diz Santo agostinho, acabamos nos tornando pessoas apressadas e superficiais. Pois para elas o tempo como que foge rapidamente. E com a pressa não amamos bem o que deveríamos amar tão bem. Com a pressa não somos nós mesmos na integridade, não damos nós mesmos com benevolência, somos imperfeitos ainda mais. A pressa nos distancia da possibilidade de amar. O amor exige demora, contemplação. Precisamos amar sem pressa.

Se precisarmos esperar, silenciar, sorrir ou chorar, cair ou levantar, que seja sem pressa. Demorando-nos em bem viver cada realidade acontecida sem pressa, esquecer sem pressa, doar-se inteiramente aos momemtos cotidianos, sem pressa. Se sofrer; que seja sem pressa.

Se precisamos lutar, ultrapassar obstáculos e barreiras, que seja sem, saboreando a vida em cada mistério revelado no cotidiano da vida. A pressa nos antecede realidades que a vivencia em tempo nos garante a perfeição e nos torna inimigos da sabedoria, pois sabedoria é senão provar com sabor vida e seus momentos, a vida seus tormentos, mas o que importa é saborear, sem pressa, mas com a quietude necessária aos homens.

Tudo tem a sua ocasião própria, e há tempo para todo propósito debaixo do céu.Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou;tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derribar, e tempo de edificar; tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar; tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar, e tempo de abster-se de abraçar;tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de deitar fora; tempo de rasgar, e tempo de coser; tempo de estar calado, e tempo de falar; tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de paz. (Eclesiastes 3,1-8)


Para saber mais

GRUN, Anselmo. No ritmo dos monges: convivência com o tempo.SP. Paulinas, 2007.

Damião Fernandes

Damião Fernandes

Damião Fernandes. Poeta. Escritor e Professor Universitário. Graduado em Filosofia. Pós Graduado em Filosofia da Educação. Mestre e Doutorando em Educação pela (UFPB). Autor do livro: COISAS COMUNS: o sagrado que abriga dentro. (Penalux, 2014).

Contato: [email protected]

Damião Fernandes

Damião Fernandes

Damião Fernandes. Poeta. Escritor e Professor Universitário. Graduado em Filosofia. Pós Graduado em Filosofia da Educação. Mestre e Doutorando em Educação pela (UFPB). Autor do livro: COISAS COMUNS: o sagrado que abriga dentro. (Penalux, 2014).

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