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Cortadores de cana trabalham em condições subumana

As condições de trabalho durante o corte manual e mecanizado da cana-de-açúcar e a promoção da saúde dos trabalhadores foram investigadas por uma pesquisa da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP. A tese de doutorado da enfermeira Fernanda Ludmila Rossi Rocha mostra não apenas os efeitos nocivos do corte manual sobre a […]

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27/03/2009 às 00h01

As condições de trabalho durante o corte manual e mecanizado da cana-de-açúcar e a promoção da saúde dos trabalhadores foram investigadas por uma pesquisa da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP. A tese de doutorado da enfermeira Fernanda Ludmila Rossi Rocha mostra não apenas os efeitos nocivos do corte manual sobre a saúde dos trabalhadores, mas também os problemas enfrentados pelos operadores de colheitadeiras mecânicas.

Fernanda acompanhou a jornada de trabalho e entrevistou 39 cortadores de cana e 16 operadores de máquinas de uma grande usina no interior de São Paulo. No corte manual, os trabalhadores cumprem uma jornada de 8 horas diárias (das 7h às 15h20), com folga de um dia após cinco trabalhados. "Como eles são pagos apenas se cumprirem as metas diárias de corte, calculadas em toneladas, o ritmo de trabalho é muito acelerado, gerando inúmeros problemas osteomusculares, respiratórios e acidentes de trabalho", conta.

Esforço excessivo e má postura
O esforço excessivo e os movimentos muito bruscos, além da postura inadequada durante o corte geram câimbras e dores musculares. "Como os trabalhadores se abaixam muito, surgem problemas de coluna", aponta Fernanda. A poeira e fuligem decorrentes da queima da cana provocam alergias e infecções respiratórias, quase sempre crônicas. Os acidentes de trabalho mais comuns envolvem cortes com o facão nas mãos, antebraços, pés e pernas. Também acontecem ataques de animais peçonhentos, especialmente cobras.

Sem condições de higiene
A maioria dos cortadores são migrantes nordestinos, que vivem em residências com péssimas condições de higiene. "A alimentação se resume a arroz, feijão, farinha e macarrão, sem carnes ou verduras", descreve a pesquisadora. Problemas de saúde são atendidos apenas nos postos e hospitais públicos das cidades próximas. Apesar do registro em carteira, há dificuldade para receber auxílios por invalidez. "Os cortadores são jovens, quase todos homens, mas o trabalho excessivo os deixa incapacitados em poucos anos".

Mais qualificação e mais exploração

No corte mecanizado, os trabalhadores são mais qualificados, com ensino médio completo e carteira de motorista, e recebem um salário fixo. Entretanto, as máquinas trabalham 24 horas por dia, com os operadores se revezando em turnos de dez horas. "Normalmente, esses operadores trabalham onze dias seguidos, ganham o sexto dia, que seria folga e como hora extra, e só descansam no décimo segundo dia", alerta a pesquisadora. "O funcionamento ininterrupto das máquinas leva a jornadas de trabalho noturno, que também comprometem os ritmos biológicos dos funcionários".

Subordinação à máquina
Não há pausas para almoço. Somente quando a máquina apresenta algum problema, um encarregado da usina vai de moto até o local da colheita, verifica e autoriza a interrupção para reparos, alguns deles feitos pelo próprio operador. "Há uma subordinação total às exigências da máquina", ressalta Fernanda. "É muito comum a ocorrência de dores lombares, pois o operador trabalha sentado durante dez horas seguidas, numa cabine sem espaço para se levantar ou fazer alongamento".

Problemas psicológicos
As tarefas dos operadores exigem muita atenção e concentração. "Eles precisam ficar atentos não apenas à temperatura da máquina, ao sistema de ventilação e a posição das lâminas de corte, mas também ao alinhamento da colheitadeira com o caminhão de transbordo, que recolhe a cana cortada", observa Fernanda. O esforço provoca problemas psicológicos, como tensão mental, fadiga e estresse. Os acidentes mais comuns são tombamentos, colisões e incêndios causados por superaquecimento das máquinas.

Má gestão
Fernanda lembra que no estado de São Paulo existem metas para o fim do corte manual de cana até 2017. "A substituição está em curso, mas o que ocorre é que as usinas têm empregado menos cortadores a cada ano, sem fazer nenhum tipo de qualificação desses trabalhadores para o trabalho mecanizado", destaca. "Ao mesmo tempo que há carência de operadores de máquinas, os antigos cortadores voltam desempregados para suas regiões de origem, que sofrem o agravamento de problemas sociais e econômicos".

Da Redação do Diário do Sertão
Com Uol

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