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Família e amigos de PM morta com bicheiro não sabiam do relacionamento: ‘Lugar errado e hora errada’

Ex-marido está desaparecido e era suspeito de envolvimento com milícia

Por Priscila Belmont

23/06/2017 às 09h39

Franciene tinha 27 anos e estava há três na Polícia Militar Foto: Reprodução/Facebook

Aos 27 anos, Franciene Soares de Souza passava por uma das melhores fases da vida. O trabalho na Polícia Militar, a faculdade de Nutrição, a diabetes tipo 1 controlada com cuidados médicos e hábitos saudáveis, a ótima relação com a mãe e a filha de 6 anos, as saídas ocasionais para sambas e pagodes na Zona Oeste — tudo contribuía para a felicidade de Fran, como era conhecida. Amigos mais próximos acreditam que foi numa dessas noitadas que a morena conheceu o contraventor Haylton Carlos Gomes Escafura, de 37 anos, filho do bicheiro José Caruzzo Escafura, o Piruinha. No último dia 14, Haylton foi executado com mais de 20 tiros. Franciene, que o acompanhava em um quarto do hotel Transamérica, na Barra da Tijuca, também foi assassinada.

— Ela estava no lugar errado e na hora errada — repetiram três pessoas ouvidas pelo EXTRA na apuração dessa reportagem.

Nem os amigos mais chegados, nem a família de Franciene, porém, sabiam da existência de Haylton. Até o fim de janeiro, a jovem estava noiva de um bombeiro, com quem se relacionou por cerca de dois anos. Desde então, não assumiu nenhum relacionamento sério. O palpite mais comum é que Fran, passista da Beija-Flor de Nilópolis e da Unidos de Padre Miguel, soubesse de quem Haylton era filho, mas não a dimensão do envolvimento dele próprio com a contravenção. O bicheiro, por sua vez, havia deixado a prisão em fevereiro, após obter liberdade condicional. A intensidade da relação entre os dois ou o momento em que ela teve início são uma incógnita.

— A gente conversava muito, inclusive sobre questões afetivas. Estivemos juntas no fim de semana anterior (à morte) e perguntei sobre isso, mas ela disse que não tinha ninguém. Nem a mãe sabia desse rapaz — afirmou uma amiga de mais de uma década.

A filha da policial só soube da morte da mãe uma semana após o crime, sem maiores detalhes. Abalada, a criança está na casa da avó, com quem as duas já moravam há alguns anos em Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio.

Ex-marido está desaparecido e era suspeito de envolvimento com milícia

A menina é filha da relação entre Franciene e o também policial militar Guilherme Assis Lima. O casal oficializou a união em 2007, quando Fran tinha apenas 18 anos. Em abril de 2012, Guilherme desapareceu quando foi visitar o pai em Sepetiba, também na Zona Oeste. O cabo do Batalhão de Choque era apontado à época pela Polícia Civil como integrante de uma quadrilha de milicianos, sendo responsável por controlar a comunidade João XXIII, em Santa Cruz.

Pouco antes, Franciene havia passado em seu primeiro concurso público e se tornara guarda municipal. Depois de tentar, sem sucesso, uma vaga como agente penitenciária, ela ingressou na PM em 2014. De acordo com a corporação, “a pesquisa social não constatou nada que desabonasse” a conduta da recruta. Já Guilherme foi excluído em junho de 2012 por deserção, sem jamais ter sido alvo de “qualquer procedimento interno” até então.

O sumiço do marido colocou a vida da jovem de pernas pro ar. As prestações do apartamento em Campo Grande, onde a família morava, eram descontadas no contracheque de Guilherme. Quando ele foi considerado desertor e excluído da PM, os pagamentos cessaram, e a Caixa Econômica Federal retomou o imóvel. Foi nesse momento que Fran e a filha precisaram buscar refúgio na casa da mãe da jovem.

Só em abril deste ano, após um longo e demorado trâmite judicial, Franciene conseguiu a “declaração de ausência” do ex-marido. A medida abre a possibilidade, por exemplo, de que a filha do casal venha a receber pensão devido à situação do pai.

— A menina era a grande paixão dela. Não importa o que tinha de trabalho, de faculdade, de estudo para concurso… A Fran sempre arrumava um tempo para a filha, era algo muito lindo — lembra, emocionada, uma amiga.

‘A Fran não era uma aproveitadora’

Depoimento de uma amiga da PM, que preferiu não se identificar

“Não tinha como não ficar amiga da Fran. Acho que nunca a vi triste ou chateada. Era uma pessoa radiante, que gostava demais de viver. As pessoas estão falando muita coisa, só que não a conheceram. Ela não era uma aproveitadora, tudo o que tinha batalhou demais para conseguir, correu atrás. Essa história pegou todo mundo de surpresa não só pela morte em si, mas também porque não era do feitio dela estar no meio de uma situação como essa. Acho que ela não imaginava o quanto ele era envolvido nem sabia do risco que poderia correr.”

Extra

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