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Palocci é investigado por negócio bilionário entre BNDES e JBS

Ex-ministro petista é suspeito de ter atuado junto a banco estatal para favorecer grupo frigorífico num investimento de 3,5 bilhões de reais

Por Campelo Sousa

23/11/2016 às 13h07

O ex-ministro Antonio Palocci (PT) chega ao Instituto Médico Legal, em Curitiba (PR), após ser preso durante a 35ª fase da Operação Lava Jato, intitulada "Omertà" (Foto: Vagner Rosário/VEJA.com)

O ex-ministro Antônio Palocci, preso há dois meses em Curitiba na Operação Lava-Jato, está na mira de outra complexa investigação em Brasília. O petista é suspeito de ter ajudado o grupo frigorífico JBS a receber um investimento bilionário do BNDES. Instaurado a pedido do Ministério Público Federal, o inquérito sigiloso, obtido por VEJA, é conduzido pela Polícia Federal.

O objetivo da investigação é “apurar prática de atos de improbidade administrativa por parte de dirigentes do BNDES em razão dos investimentos, possivelmente fraudulentos, realizados nas empresas Bertin e JBS, bem como eventual participação de Antônio Palocci Filho com fins de beneficiar a empresa JBS”, segundo documento do MPF.

Com bom trânsito entre grandes empresários do país, Palocci tinha uma extensa lista de clientes, dos mais variados setores – de banqueiros a dono de rede de supermercados e hospitais. Entre as companhias que recorreram aos serviços de consultor do ex-ministro da Casa Civil está a JBS. De 2009 a 2010, a dona da marca de carnes Friboi pagou 2 milhões de reais para a Projeto Consultoria Empresarial e Financeira, de Palocci.

Oficialmente, o médico sanitarista assessorou o grupo frigorífico com análises das “perspectivas do mercado de carnes de frango” nos Estados Unidos. No mesmo período, a JBS recebeu um investimento de 3,5 bilhões de reais do BNDES. Os investigadores suspeitam que Palocci esteja por trás dessa operação financeira que apresenta indícios de fraudes.

O ex-ministro alega que ajudou a JBS na aquisição da produtora de frango americana Pilgrim’s, em setembro de 2009. No entanto, as negociações dessa transação começaram no segundo semestre de 2008 – e foram conduzidas por grandes escritórios de advocacia e bancos de investimento, especializados em fusões e aquisições.

Palocci, então deputado federal pelo PT, foi contrato pelo grupo frigorífico em julho de 2009, pouco antes da transação ser finalizada. No mesmo período em que comprou a Pilgrim’s, a JBS também anunciou a aquisição do grupo Bertin, parceiro de negócios do pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Lula.

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O aporte do banco estatal na JBS foi um negócio e tanto. O BNDES comprou 3,5 bilhões de reais em títulos de dívida emitidos pela empresa, chamados de debêntures. Esses papéis foram convertidos em ações da companhia. A transação foi vantajosa para o grupo frigorífico, que não teve que arcar com juros de um empréstimo normal – e ainda ganhou o governo como sócio. O Tribunal de Contas da União já identificou indícios de que essa operação causou prejuízo aos cofres públicos. O caso está sendo analisado.

Em 2010, após receber os recursos do BNDES, a JBS doou 10 milhões de reais para a campanha que elegeu Dilma Rousseff à presidência da República. A vitória da petista nas urnas foi coordenada por Palocci, que logo em seguida foi nomeado como ministro da Casa Civil, em janeiro de 2011. Seis meses depois, o petista caiu após o jornal Folha de S.Paulo revelar que ele multiplicara o seu patrimônio prestando consultorias para diversas empresas.

Em setembro deste ano, Palocci foi preso na 35ª fase da Operação Lava-Jato, suspeito de ter uma relação criminosa com a empreiteira Odebrecht, que teria desembolsado mais de 128 milhões de reais em propinas para o ex-ministro e outros integrantes do PT. De acordo com a Polícia Federal, Palocci ajudou a construtora a destravar, por exemplo, um empréstimo do BNDES para desenvolver projetos em Angola. No início deste mês, o ex-ministro sentou pela primeira vez no banco dos réus, acusado pelo Ministério Público Federal de ter praticado os crimes de corrupção e lavagem de dinheiro.

Procurado, o advogado José Roberto Batochio, que defende Palocci, disse que o ex-ministro deu consultoria para a JBS, auxiliando no processo de aquisição da Pilgrim’s. “Foi entregue um relatório do serviço prestado. Não há, portanto, qualquer irregularidade”, afirmou o criminalista. A JBS informou, em nota enviada por sua assessoria de imprensa, que não teve acesso ao inquérito. “A JBS contratou a Projeto para a elaboração de estudos, análises e informações de cenários macroeconômicos e do mercado mundial e norte-americano de proteína. O contrato realizado com a Projeto, em 2009, e seus respectivos pagamentos estão devidamente formalizados e documentados”, diz a companhia. “Em nenhuma situação ou circunstância, Antônio Palocci ajudou, se envolveu, ou teve qualquer relação entre os negócios da companhia e o BNDES”, afirmou a JBS, ressaltando que o investimento do banco estatal está “em linha com as melhores práticas de governança e transparência, em uma transação típica de mercado”. O BNDES ainda não se manifestou.

Veja

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