A luta contra a corrupção
Corrupção existe desde sempre. E em toda parte. Nenhum país está imune de praticá-la. A diferença está nos níveis de corrupção. E em sua extensão. Há lugares em que é exceção, noutros é a regra. Opera-se debaixo de sete capas ou abertamente, confiando-se na impunidade geral. Neste caso, é como se a corrupção formasse um sistema, com sua dupla face, a ativa e a passiva, a do corruptor e do corrompido. Ela está presente nas instituições públicas e no mundo privado, ajustando-se às duas caras da mesma moeda. Nenhum poder lhe escapa. Nem o Judiciário. Esta semana, a ministra-corregedora, Eliana Calmon fala em “bandidos escondidos atrás da toga” e em “bandidos infiltrados” nas instituições daquele poder. Por isso, o mundo quase vem abaixo. Ela, porém, não abriu, sustentou suas afirmações, com veemência.
Muitos políticos também recebem seu quinhão de origem suspeita, embora ninguém assine recibo de propina. Então, vai-se deixando correr frouxo, como a coisa mais natural do mundo. E fica por isso mesmo. Por essas trilhas a corrupção se incorpora à vida política de tal maneira que, às vezes, a gente tem vergonha de não usá-la, tão espalhado anda esse bicho de sete cabeças.
Por isso, torna-se difícil escolher o foco da luta contra a corrupção. Um foco que congregue muita gente, logo de saída. Vez por outra, ocorre um fato que provoca enorme indignação, gerando uma espécie de fermento que faz crescer a insatisfação da maioria, criando condições objetivas para a mobilização da sociedade. Daí pode nascer um movimento coletivo capaz de se alastrar como fogo em mato seco. Surge, porém, uma dificuldade: contra quem se vai lutar? Isso mesmo. Contra quem? Reunir gente para lutar contra a corrupção pressupõe a descoberta de um ponto visível que aglutine as pessoas, sem precisar maiores explicações. Aí está, portanto, a grande dificuldade do combate a corrupção: um pólo capaz de canalizar as energias da sociedade brasileira num movimento de alcance nacional semelhante, por exemplo, ao “fora Collor”, no início dos anos de 1990.
Falta também outra coisa. Quase todos abominam a corrupção. Mas falta atitude. Quem não ouviu frases assim: “que vou ganhar com isso?” Por trás dessa pergunta individualista, se escondem interesses concretos de quem, possivelmente, conhece as práticas corruptas do chefe, do correligionário, do parente, do amigo. Ou se não conhece, pelo menos, desconfia, tantos são os sinais das malfeitorias exibidos pelo chefe, correligionário, parente ou amigo.
Essas intrincadas relações, tão comuns entre nós, inibem o efeito do fermento anti-corrupção. A prova está aí: o movimento que agora se intenta (passeata no Dia da Pátria, em Brasília, o ato público da Cinelândia, no Rio), não pegou embalagem. O foco está muito difuso. Talvez se descubra, no correr da luta, o ponto chave para captar as energias da sociedade. Então, aquela inércia individual expressa na pergunta, “que eu vou ganhar com isso?”, se afogue nas águas limpas dos interesses coletivos. Até lá, vale insistir, insistir, insistir. Tentar abater, quando nada, uma das sete cabeças do bicho.
Cajazeirense residente no Recife. [email protected]
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