Eu Li José Lins do Rego
Por Nadja Claudino
José Lins do Rego, paraibano de Pilar, foi um dos escritores brasileiros que levou o nome da Paraíba para diversos países. Contou nossa história genuína da Zona da Mata paraibana, da cultura da cana-de-açúcar e dos tipos humanos que habitam este espaço. Infelizmente, a maioria dos jovens nunca leu nem pensa em ler nenhum dos seus livros, e quiçá outros livros, muitos por desconhecerem a importância desse autor, outros por que preferem outro estilo, autoajuda, esoterismo, contudo é uma lástima que tão grande autor seja desconhecido pelo seu próprio povo.
Se os mais jovens dedicassem uma tarde a um dos livros de José Lins acredito que imediatamente se sentiriam envolvidos pelo ambiente rural da cana de açúcar. Menino de Engenho, Doidinho, Bangüe, O moleque Ricardo e Usina são livros que falam da decadência dos engenhos e principalmente das famílias patriarcais que são engolidas pelas usinas que simbolizam os tempos modernos. Suas obras nos mostram o fim de um modo de produção e descreve a história da formação do nosso povo e tudo isso contado com o grande talento narrativo de Zélins.
Carlinhos (Carlos de Melo, quando adulto) Sinhazinha, Maria Alice, Coronel Zé Paulino, Tio Juca, Ricardo são os personagens que povoam os romances de Zélins, sem contar os outros, as mulheres que se prostituem, os filhos bastardos, os moleques da bagaceira, personagens que enchem os romances de vida e de cor, muitas vezes por meio de suas desgraças e de suas alegrias.
A cana crescendo, a beleza da Zona da Mata, as cheias do Paraíba, as brincadeiras de Carlinhos com os moleques da bagaceira em Menino de Engenho; a visita de Antônio Silvino, o Governador do Sertão, no engenho do velho coronel Zé Paulino. As desventuras de Carlos de Melo (o Carlinhos) que depois de se tornar bacharel em Direito, pela Faculdade do Recife, volta para o engenho e vive um caso de amor com sua prima Maria Alice em Bangüê. As agruras de Ricardo (que não é um menino de engenho, mas sim um moleque da bagaceira), que sai do engenho e vai tentar a vida no Recife, onde sofre mais do que no eito sob o jugo do coronel Zé Paulino, em Moleque Ricardo. Esse é um pouco do mundo que se pode descobrir com a leitura desses livros, um mundo de aventuras, lirismo, um pouco da nossa história e a grande capacidade narrativa de José Lins do Rego.
Transcrevo aqui as palavras do crítico literário Otto Maria Carpeaux sobre a obra desse nosso conterrâneo:
“A obra de José Lins do Rego é mais, muito mais do que um documento sociológico; é qualquer coisa de vivo, porque o seu criador lhe deu o próprio sangue, encheu-a dos seus gracejos e tristezas, risos e lágrimas, conversas, doenças e barulhos, disparates, e da sua grande sabedoria literária. Deu-lhe o hálito da vida. Essa obra não morre tão cedo. É eternamente jovem como o povo; é eternamente triste como o povo. É o trovador trágico da província.”
E a província é o espaço nordestino onde se inscreve a Paraíba, parte do modo de vida desse povo que precisa despertar desse sono pesado da falta de leitura. Que os jovens e os menos jovens descubram esses e outros dos nossos grandes escritores e possam sentir a maravilha que é a leitura de um bom livro.
Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.
Leia mais notícias no www.diariodosertao.com.br/colunistas, siga nas redes sociais: Facebook, Twitter, Instagram e veja nossos vídeos no Play Diário. Envie informações à Redação pelo WhatsApp (83) 99157-2802.
Deixe seu comentário