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Francisco Cartaxo

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Lula e a emoção do voto

04/02/2018 às 14h22

Lula - Foto: Leonardo Benassatto/Reuters

Após a condenação de Lula pelo TRF, de Porto Alegre, as redes virtuais se encheram de loas e xingamentos. Predominaram agressões sórdidas de lado a lado. Nada que contribuísse para esclarecer aspectos jurídicos do processo ou melhorar o debate político. Uma lástima que, aliás, já vinha de longe. Baixaria da pior espécie tanto de partidários de Lula como de gente contrária ao PT. Bem sei que é impossível esperar conduta racional em momentos de excitação generalizada, à moda disputa de futebol. Mas existe uma diferença fundamental: na arena esportiva os efeitos mais dramáticos chegam à delegacia, ao hospital ou, por lamentável infortúnio, ao IML. Na política, não. As consequências podem ser duradouras e atingir milhões de brasileiros.

A emoção é inerente ao ser humano.

Tanto é que já nascemos com propensão a ter medo, raiva, alegria ou tristeza. Depois, o leque se abre. Ela mexe muito com as pessoas. Impossível viver sem reações emocionais aos estímulos recebidos a cada momento, sob signo do amor, por exemplo, com o tempero da paixão derramando-se no gozo ou em desditas da vida. A emoção não exagerada é normal, aceitável até pelas leis penais como circunstância atenuante para determinados atos praticados sob forte emoção.

Mas emoção excessiva cega.

Desvirtua a capacidade de enxergar as coisas como elas são. Deturpa a visão. Isso a gente constata todos os dias nas redes sociais. Cidadãos inteligentes, às vezes com formação escolar plasmada na vivência acadêmica, se transformam em marionete a repetir asneiras, cegos pelo domínio doentio da emoção. Em assuntos políticos, então, é um Deus nos acuda! A internet tem sido, na prática, elemento de desserviço à democracia. Quanta intolerância! Não há respeito às ideias contrárias. Ali o que mais circula são desabafos individuais, egoístas, idiotas, que, muitas vezes, escondem interesses subalternos. Esse poderoso instrumento de comunicação serve mais para iradas agressões, dissociadas da realidade, e menos à busca do interesse coletivo.

Pior, nem sempre circulam ideias.

E quando surge alguma opinião séria acerca de questões importantes, o partidário apaixonado mal lê o que se posta, embora curta e compartilhe o texto. As redes sociais abrigam barbarismos. Exemplo? A decisão do dia 24, tomada em Porto Alegre, foi saudada com insultos chulos. Impublicáveis. Chavões e expressões de baixo calão em lugar de argumentos racionais. A conduta de muitos internautas no decorrer do processo judicial, gerador da condenação de Lula na segunda instância, é exemplo notável do que trato aqui. Deu margem a um amontoado de erros a partir do instante em que o juiz Sérgio Moro foi eleito o inimigo número um do PT e de Lula. Essa tática burra sobrou também para os membros do Tribunal Regional Federal e poderá estender-se aos tribunais de Brasília, de tal modo que o equívoco chegará ao ponto de demonizar o poder judiciário. Dessa forma, deixa-se de enxergar o novo papel exercido pela Justiça no combate à corrupção em benefício da ética na política. Aliás, desempenho aplaudido, corretamente, pela maioria da população brasileira.

E quando Lula for preso?

Pela amostra de agressividade prevalecente até agora, imagino como será a campanha, carregada de fortes emoções e intolerância tendentes a descambar para caso de polícia. Logo nesta eleição, na qual aparece um magote de político ladrão, aboletado no parlamento, com medo de perder o foro privilegiado, as chamadas prerrogativas do cargo. Medo de descerem à primeira instância e serem presos, como os Geddel, os Pedro Correa, os Sérgio Cabral da política brasileira.

Francisco Cartaxo

Francisco Cartaxo

Francisco Sales Cartaxo Rolim foi secretário de planejamento do governo de Ivan Bichara, secretário-adjunto da fazenda de Pernambuco – governo de Miguel Arraes. É escritor, filiado à UBE/PE e membro-fundador da Academia Cajazeirense de Artes e Letras – ACAL. Autor de, entre outros livros, Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras no cerco ao padre Cícero.

Contato: [email protected]

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Francisco Sales Cartaxo Rolim foi secretário de planejamento do governo de Ivan Bichara, secretário-adjunto da fazenda de Pernambuco – governo de Miguel Arraes. É escritor, filiado à UBE/PE e membro-fundador da Academia Cajazeirense de Artes e Letras – ACAL. Autor de, entre outros livros, Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras no cerco ao padre Cícero.

Contato: [email protected]

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