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Damião Fernandes

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O desafio ainda é saber pensar

30/05/2017 às 16h02

O pensamento sempre foi uma das questões mais de intrigantes na história da filosofia. A racionalidade do pensamento, a sistematização crítica e a o desvencilhamento de todo pensar advindo do mito, caracteriza-se como um dos primeiros problema de origem na filosofia antiga. A filosofia nasce como proposta e processo de ruptura de um tipo de pesar rígido, planificado, supersticioso e dogmático. O que na Grécia antiga costumou-se chamar de mito toda aquela narrativa de explicação da origem das coisa. Segundo Lévi-Strauss (Fiske, 1998, p.177) o mito é uma narrativa ou um discurso, que é tradicionalmente reconhecida como um mito, mesmo que as suas significações e construções conceituais não sejam socialmente partilhadas pelas pessoas que as usam. Essas narrativas míticas trazem em si uma tensão para o futuro, ou seja, o mito em suas concepções originais grega, revelam a possibilidade da existência do metafisico ou a consciência de um outro mundo sobre-humano ou um mundo dos valores extramundos.

Portanto, a filosofia desde seu início, procurou estar sempre contra a estrutura de um desse tipo pensamento mítico, ou seja, baseado, aquele que se fundamenta no absoluto, fantástico e imaginário. Mas ao mesmo tempo alguns pensadores aceitavam o essencial desse tipo de pensamento mítico, e com um modelo de pensamento racional, sistemático e rigoroso, tentavam desmistificá-lo.

E como figura de proa desse tipo de pensamento filosófico de ruptura, temos o Tales de Mileto, como o primeiro a abandonar as formulações míticas em favor de uma compreensão racional, mesmo que ainda ingênua, do universo, segundo as interpretações assentadas nos manuais de História da Filosofia (JARESKI, 2015, p. 13). A filosofia traz em sua natureza a ruptura como método, quando o não aceitar a explicação pronta, jeitosa e dogmatizada é oferecida como a única porta para o saber, para o conhecimento. A filosofia nasce como o abandono da imagem captada pelo olhar de quem vê, mas que não enxerga o que percebe, porque o mundo da percepção é enganador e produtor de enganos pelas vias dos sentidos.

Em Platão, o pensar que produz conhecimento verdadeiro não é possível ser fruto do uso dos sentidos. O que tais mecanismos nos fornecem são meras imagens, portanto cópias de um outro mundo perfeito. Para Platão, só a razão nos dá acesso ao mundo do saber verdadeiro, que por sua vez está ao alcance do homem somente em um mundo: o mundo das ideias.

Platão, partindo de uma construção simbólica e mitológica da Alegoria da Caverna, estabelece a existência de dois mundos ou de duas realidades, a saber, o mundo das coisas sensíveis e o mundo das idéias. Segundo o texto platônico, a maioria da humanidade vive em completa condição de ignorância e “entrevamento”, ou seja, vivendo segundo a apreensão da realidade do mundo ilusório, as coisas efêmeras e por isso não se constituem como objetos de conhecimento.

O homem se encontra condenado a um não-pensar crítico sobre o mundo, as coisas e sobre si mesmo. O homem encontra-se condenado à contemplar a realidade a partir das sombras oferecidas na parede fixa e imóvel. Portanto, para a filosofia, o pensar é sempre movimento livre entre dois mundos, poderíamos dizer entre o mundo da ingenuidade e o da criticidade. Será portanto, “por meio do pensar filosófico, que o ser humano se desprende do estado de “consciência transitiva ingênua” (FREIRE, 2003a, p. 30-31), superando-o por um estado de consciência crítica.

Em tempos de máquinas que produzem sons e imagens em full HD, com um poder cada vez maior de arquivamentos e agendamentos como tentativa de sobrepor à memória humana. Máquinas que são verdadeiras produtoras e disseminadoras de informações, quase à velocidade da luz e com um poder de circularidade ad infinitun. Difícil é pensar o pensamento nesses contextos atuais. Em tempos de máquinas e suas técnicas que absorvem o ser do homem e o transforma em uma utilidade. Há algum tempo, a técnica, encarnada tanto no homem quanto na máquina, é o signo atual de nossa relação com o mundo e o modo como a sociedade contemporânea se articula. Difícil é pensar o pensamento nesses contextos atuais. A principal questão que se nos apresenta é sabermos se continuaremos sendo humanos numa era em que a tecnologia maquinística passar a ser mais importante do que o próprio homem. Difícil é pensar em tempo de máquinas e de homens-máquinas.

Tanto ontem, quanto hoje, o desafio é pensar o inverso do que está posto como ideia-verdade ou como simples pensamento unânime. A unanimidade quase sempre é um tipo de hegemonia burra ou quando simplesmente ignorante. Quase sempre à ideia de unanimidade está implícito o oposto do pensamento crítico, criterioso e amplo. O desafio é pensar o implícito, o camuflado como ‘saber pensado’. O desafio é pensar o inverso do que está dito no discurso pronto, fácil e midiático. Pensar o inverso do que está sendo mostrado por uma imagem que é permitido que vejam o que se pretende mostrar. Quem se mostra, deixa mostrar apenas o que interessa que seja visto. O desafio é pensar o que está oculto sob o que é mostrado. O desafio é pensar sobre o que é mostrado como imagem, mas escondido como ideia. O desafio é pensar o pensamento feito opinião e imagem, feito certeza ou verdade. O desafio é pensar.

Platão, Heiddeger e Freire, ainda nos dão o que pensar.

Damião Fernandes

Damião Fernandes

Damião Fernandes. Poeta. Escritor e Professor Universitário. Graduado em Filosofia. Pós Graduado em Filosofia da Educação. Mestre e Doutorando em Educação pela (UFPB). Autor do livro: COISAS COMUNS: o sagrado que abriga dentro. (Penalux, 2014).

Contato: [email protected]

Damião Fernandes

Damião Fernandes

Damião Fernandes. Poeta. Escritor e Professor Universitário. Graduado em Filosofia. Pós Graduado em Filosofia da Educação. Mestre e Doutorando em Educação pela (UFPB). Autor do livro: COISAS COMUNS: o sagrado que abriga dentro. (Penalux, 2014).

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