Padre Anselmo, segundo José Américo
Padre Anselmo, que já era nome de rua, virou livro pela curiosidade de Adalberto dos Santos. Curiosidade intelectual e afeição à rua onde morou em Cajazeiras. Daí, “O padre e a rua”, que a Acauã lançou em 2010. Anselmo Duarte Rolim nasceu em Cajazeiras, em 4 de janeiro de 1858 e morreu em 12 de março de 1920. Estudou no Seminário da Prainha, em Fortaleza, mas não se sabe onde foi ordenado padre, apesar do esforço de pesquisa de Adalberto. Sabe-se, porém, que Anselmo era treloso. Teria sido expulso de Convento, em Olinda, “por conta de comportamento irreverente”, nas palavras atribuídas ao padre Raimundo Honório. Deusdedit Leitão, em artigo publicado em 1957, fala em “suposta inclinação mundana, irresistível tentação do fescenino e temperamento folgazão” do padre Anselmo.
Mas a gente fica sem saber ao certo quais foram as travessuras que fizeram do padre Anselmo Rolim uma figura exótica no seio do clero paraibano, no final do século 19 e começo do século 20. Por isso, ao reler “Antes que me esqueça”, livro de memórias de José Américo de Almeida, me chamou a atenção um ligeiro perfil do padre Anselmo, traçado pelo famoso escritor e político, que estudou no Seminário da Paraíba. Diz Zé Américo:
“O Seminário tinha um fantasma: o padre Anselmo. Era tardo no andar. Sem nenhum gesto, seus braços ficavam mortos. Tinha a face verde e os dentes amarelos. Seu pigarro seco e constante parecia um escárnio. Pensava-se que ia sorrir e era uma tosse. Usava uma batina rançosa que mudava de cor. Levava uma vida errante e fora parar no seminário, ocupando um quarto que lhe servia de prisão. Não sei o que significava essa peça, se era museu ou ateliê. Cobriam-se as paredes de uma escultura feita de miolo de pão. Contavam-se boas dele. Quando perdeu a freguesia, resolveu ganhar o pão vendendo lenha que o mesmo carregava num jumento. Ouvido pelo bispo, em face da denúncia de que tinha uma mulher ainda nova em sua companhia, saiu-se com esta:
– Isso não chega para o bico de padre Anselmo.
Uma vez recebeu um cruzado pela celebração de uma missa. Como o sacristão reclamasse, subestimou seu ofício:
– Estará pensando que uma missa dita por mim e ajudada por você vale mais do isso?”
“Era assim e não se queixava de nada.”
O texto de José Américo tem o título de “O Fantasma” e remonta aos primeiros anos do século 20, quando o ilustre paraibano passou pelo Seminário da Paraíba, mesmo sem ter vocação, como ele confessa sem arrodeio. Nessa época, relembra Zé Américo, dom Adauto de Miranda Henrique, o primeiro bispo paraibano, ao assumir a diocese, “Encontrou o clero entregue, em algumas freguesias, a uma vida irregular. Vigários colados constituíam família. Quase todos tinham limpas as folhas corridas; entretanto, apontavam-se reverendíssimos pais de família, garanhões de comadres prolíferas.” Dom Adauto, contudo, ainda segundo José Américo, “Modificou esses costumes, sem necessidade de expurgo.”
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