Sentado no tamborete
O pai de família tenta equilibrar as finanças domésticas, mas está difícil. Atrasa a mensalidade da escola, paga um pedaço da conta dos cartões de crédito, o cheque especial já anda estourado há muito tempo. No final do mês a conta não fecha. Segura as despesas de casa, reduz os gastos com diversão, aperta daqui, aperta dali, mas a ginástica não funciona. Em casa, ficam todos com os nervos a flor da pele, qualquer tolice vira discussão, bate-boca, briga feia. Uma tragédia.
Uma tragédia que continua enquanto rola a insônia, juros e multas acumulam-se nos extratos, crescendo exponencialmente. Então, o jeito é enfrentar o gerente. Sentado no tamborete, vendo-se do tamanho de um rato, ele ouve a voz do gerente:
– Usou o crédito, tem que pagar, fala o gerente, infelizmente, não posso fazer nada, mesmo reconhecendo seus motivos, aliás, mesmo se você não tivesse usado o crédito, o pressuposto é de que ele estava a sua disposição… É o sistema, não é nada pessoal, compreende?
– Mas, esse juro, seu gerente, e as multas? É um absurdo, eu só usei 100 e agora o senhor me diz que devo 800! Como é que pode? O senhor fala que o regulamento… diz que pode diminuir a multa, alongar o prazo…
E por aí vai a conversa, carimbada pelas leis de proteção ao sistema financeiro, diante das quais o cidadão vira delinqüente. Pressionado, termina aceitando condições impostas em “acordo”, no qual novo prazo, maior, é fixado. Assim fazem com o cidadão endividado.
E com um país endividado, acontece o quê?
Quase a mesma coisa. A Grécia, por exemplo, está sentada num tamborete de luxo, diante de um “tribunal” formado pelas corporações financeiras mundiais e autoridades européias, que pressionam a velha nação para aplicar, com mais rigor ainda, fórmulas exigidas pelo FMI. Aquelas mesmas receitas, cujos efeitos nocivos, nós, brasileiros e latino-americanos, conhecemos muito bem… Ao lado da Grécia
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