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Novela da globo humilha personagem gorda e ensina que felicidade depende de marido

Novela mostra que o prêmio que Perséfone merece, depois de ser humilhada, é ter um homem

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10/10/2013 às 08h28

Na cena agendada pela Rede Globo para 10 de outubro, Perséfone (Fabiana Karla) perde a virgindade em "Amor à Vida", bem ao estilo dos conto de fadas: na noite de núpcias, após seu casamento com Daniel (Rodrigo Andrade). Experimentar os prazeres do sexo e conseguir um marido constituem o final feliz tão almejado pela personagem, que foi achincalhada por ser gorda durante toda a novela (até pelos personagens considerados "mocinhos").

Embora com pinceladas cômicas, as desventuras de Perséfone têm desagradado uma parcela significativa de telespectadores, inconformados com o tratamento dado a ela e que, agora, é recompensado com a conquista de um homem. Descontentes com o perfil da enfermeira –mostrada como ingênua, boba, desesperada para arranjar um parceiro–, blogueiras plus size chegaram a criar uma petição online para o autor Walcyr Carrasco mudar os rumos da personagem, mas não tiveram seus desejos atendidos.

Tanto o autor quanto a atriz Fabiana Karla defenderam que os momentos humilhantes da personagem servem para mostrar como os obesos sofrem preconceito na vida real e, de uma forma leve e divertida, conscientizar sobre o assunto.

Segundo especialistas em comportamento, no entanto, não é bem assim. Embora retrate, sim, algumas situações verídicas, Perséfone o faz de maneira caricatural e estereotipada.

"A utilidade do estereótipo é manter o preconceito intacto. Ainda que uma personagem de TV ou de cinema tenha a obesidade como característica, seria importante mostrar seus defeitos, suas qualidades e outras peculiaridades não relacionadas à obesidade", afirma o psiquiatra Adriano Segal, do Departamento de Psiquiatria e Transtornos Alimentares da Abeso (Associação Brasileira para o Estúdio da Obesidade e da Síndrome Metabólica).

"O físico não deveria ser o principal ponto de atenção. A mulher precisa ser mostrada como ela é, como um todo. Afinal, a pessoa vale pelo seu todo ou vale quanto pesa?", questiona o psiquiatra Arthur Kaufman, fundador e coordenador do Programa de Atendimento ao Obeso do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínica da USP (Universidade de São Paulo).

Machismo e preconceito
Na opinião da psicóloga Rejane Sbrissa, que trabalha com terapia para tratamento da obesidade, a trajetória de Perséfone reforça a ideia de que a pessoa obesa precisa ser sempre simpática, prestativa e bem-humorada para "compensar" o fato de estar acima do peso. "Ela se força a ser sempre legal para se sentir aceita e mais querida pelos outros", conta.

O psicólogo Marco Antonio de Tommaso, credenciado pela Associação Brasileira para Estudo da Obesidade, completa: "Faz parte do estigma da obesidade mostrar nas novelas e nos filmes a gorda boazinha de coração puro, que mantém os bons sentimentos mesmo que os outros caçoem dela. A gordinha precisa sobreviver e assume um personagem para atenuar a rejeição e a discriminação".

Uol

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