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Jornal de Pernambuco destaca atentado terrorista ocorrido em Cajazeiras. FOTOS!

Toda a história foi relatada pelo Jornal Comércio, num grande artigo que conta detalhes do mistério. CONFIRA!

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19/04/2011 às 15h30

O Jornal do Commercio de Recife publicou nesse domingo (17), um artigo sobre o grande mistério que rodeia Cajazeiras há 35 anos. A bomba do Apolo 11, atentado acontecido em 2 de julho de 1975, matou dois, mutilou outros e destruiu o Cine-Teatro Apolo 11. O alvo, dom Zacarias Rolim de Moura, bispo conservador da Diocese de Cajazeiras, escapou porque tinha viajado ao Recife. Até hoje, porém, não foi descoberto o autor do atentado. Veja trechos do artigo publicado pelo jornal:

Na pacata cidade do Sertão da Paraíba, a população é sacudida por uma explosão sentida até fora da cidade. Às 21h, com as ruas desertas, a cidade havia começado a adormecer. Os moradores do centro correm para o local do impacto: o Cine-Teatro Apolo 11, fundado pelo bispo dom Zacarias Rolim de Moura, à época com 60 anos, um fanático por cinema e frequentador assíduo das sessões.

O cenário era incomum e desolador para Cajazeiras: as poltronas destroçadas e quatro homens jogados ao chão. O soldado Altino Soares, o Didi, 43, com as pernas amputadas. O ex-recruta do Tiro de Guerra, Manuel Conrado (Manuelzinho), 19, com uma lasca de madeira na cabeça, o seu irmão e operador de projetor Geraldo Conrado, 31, com a perna direita partida e o corpo perfurados por fragmentos, e o adolescente Geraldo Galvão, 16, do abdômen para baixo perfurado e as pernas queimadas.

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Levados para João Pessoa, Manuelzinho morreria dois dias depois e o soldado Didi, da PMCE, nove dias depois. Dom Zacarias escapou. Naquela tarde, havia embarcado em um ônibus com destino ao Recife, onde – além das atividades pastorais – ia às distribuidoras alugar filmes para os cinemas da Diocese de Cajazeiras. O saldo do atentado não foi maior devido ao imponderável de uma fita de má qualidade, que partiu várias vezes, encurtando a sessão em 15 minutos, e ao enredo do filme, um drama que não agradou à platéia admiradora de faroestes e filmes de aventura.

A cadeira cativa de dom Zacarias Rolim de Moura estava vazia, mas debaixo dela havia uma pasta modelo 007. Na varredura final do auditório, antes do fechamento do cinema, Geraldo Galvão encontra e entrega ao soldado Didi a pasta abandonada. Na curiosidade, ao abrir para saber de quem era, Didi puxa de dentro algo que imagina ser um gravador. A poucos metros, Manuelzinho grita: “não mexe, é uma bomba”. No susto, Didi soltou a bolsa no chão.

No processo de abertura, uma série de bombas
A bomba do Cine-teatro Apolo 11, em Cajazeiras, Sertão da Paraíba, em 1975, foi o primeiro de uma série de episódios ocorridos ao longo dos governos dos generais Ernesto Geisel e João Baptista Figueiredo. Ao assumir, em 15 de março de 1974, Geisel anuncia o processo de abertura política “lenta, gradual e segura”. Escolhido por Geisel, Figueiredo assume, em 1979, com a missão de dar continuidade à distensão e devolver o poder aos civis.

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Dom Zacarias Rolim, o alvo do atentado
Um bispo tipo bonachão e tranquilo, mas apoiador do golpe e alinhado com o regime militar de 1964. O líder da Diocese de Cajazeiras, dom Zacarias Rolim de Moura, um tradicionalista que permitia missa celebrada em latim tinha, também, uma visão pragmática e a preocupação com a altivez e independência da Igreja. O longo bispado caracterizou-se pela criação de condições para a autonomia financeira da Diocese, agregando um patrimônio que se constitui fonte de renda para as atividades religiosas e de ensino. Construiu dezenas de imóveis pelos 43 municípios da Diocese, que servem de renda e como morada de padres. Por 40 anos conduziu a Diocese de Cajazeiras, zelando pela disciplina, os bons costumes e a educação.

Politicamente de direita e ligado à ala conservadora da Igreja Católica, dom Zacarias tinha o perfil de homem culto, com domínio do português e com conhecimento profundo do latim e de história.

Fã de cinema e assíduo frequentador das sessões, o bispo fazia a seleção dos filmes em cartaz nos cines Apolo 11 e Pax. Nas viagens ao Recife, pela Igreja, aproveitava para alugar fitas nas distribuidoras.

Nasceu em 1914, na fazenda Malhada das Pompas, em Umari, Ceará, divisa com a Paraíba. Era neto do tenente-coronel da Guarda Nacional, Vital de Souza Rolim (1829/1915), primeiro grande chefe político e fundador do Partido Liberal em Cajazeiras, no período da Monarquia .

Ordenou-se em 1937, no Seminário Arquidiocesano da Paraíba, em João Pessoa, retornando a Cajazeiras como padre e diretor do Colégio Diocesano Padre Rolim. Elevado a bispo de Cajazeiras, em 1953, pelo papa Pio XII, foi fiel ao legado de educador deixado pelo fundador da cidade, padre Ignácio de Souza Rolim (1800/1899).
Dom Zacarias investiu no ensino, abrindo escolas em cidades da abrangência da Diocese.

Fundou, também, em 1964, um mês após o golpe, a Rádio Alto Piranhas (alusão ao Rio Piranhas, que se une ao Rio Peixe e formam o Rio Açu, no Rio Grande do Norte), e a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Cajazeiras, em 1969, incorporada pela UFPB, além dos cines Pax e Apolo 11, homenagem aos astronautas norte-americanos que primeiro chegaram à Lua. Sagrado bispo emérito de Cajazeiras, em 1990, pelo Papa João Paulo II, renunciou aos 76 anos. Morreu na Malhada das Pompas, em 5 de abril de 1992.

DIÁRIO DO SERTÃO com informações do Jornal do Commercio

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