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Presidente do Atlético-GO é acusado de ser mandante da morte de radialista em 2012

Maurício Sampaio, apontado pela polícia como o mandante da morte de radialista, é aclamado presidente do clube, e parte da imprensa goiana decide não fazer cobertura.

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10/01/2015 às 09h05

O ano já estava na reta final. A segunda-feira, 29 de dezembro, também. No primeiro dia da última semana de 2014, por volta das 18h, o Atlético-GO decretou o retorno de Maurício Sampaio. Como presidente. A chapa encabeçada pelo empresário foi registrada com a certeza de aclamação. Não haveria disputa na eleição. Em poucos dias, Maurício, ex-vice da instituição, seria conduzido ao poder. E o noticiário do Dragão deixaria de ser apenas futebolístico. A cobertura do assassinato do radialista Valério Luiz voltaria com destaque ao caderno de esportes. Afinal, um clube da Série B do futebol brasileiro vivia a iminência de ser presidido pelo homem apontado pela polícia como o mandante do crime.

Em 5 de janeiro, a aclamação: sem adversários, Maurício Sampaio se tornou presidente do Atlético-GO para o biênio 2015/2016. A posse está marcada para o dia 14, mas o dirigente já está à frente das principais ações. Um retorno que se dá dois anos e meio após a decisão de deixar o cargo de vice-presidente, que ocupou até junho de 2012. Dois anos e meio após o homicídio do cronista esportivo, morto com seis tiros em 5 de julho, quando saía da rádio em que trabalhava, no setor Serrinha, em Goiânia. Maurício é acusado de ter encomendado a ação. Ele nega.

Valerio Luiz foi assassinado em 2012 ao sair da rádio onde trabalhava. Segundo a polícia, crime foi encomendado por Maurício Sampaio, o novo presidente do Atlético que nega.

No dia seguinte à aclamação, parte da imprensa goiana anunciou uma espécie de boicote ao dirigente. Inconformadas com o retorno de Maurício Sampaio, duas emissoras de televisão e uma rádio restringiram a cobertura ao clube. Os três veículos tinham ligação direta com Valério Luiz. O cronista trabalhava em dois deles quando foi assassinado: PUC/TV e Bandeirantes/820. O terceiro, a TV Brasil Central, tem horário esportivo terceirizado por Manoel de Oliveira, o Mané, pai de Valério e eleito como deputado estadual mais votado de Goiás em 2014.

– Ele é um homem perigoso. Não tem como eu colocar um repórter lá sendo que o cara é um criminoso e mandou matar meu filho. Essa volta é um desrespeito, uma afronta à sociedade e uma tentativa de intimidação à imprensa. É como um recado: "Um já foi. Vocês podem ser os próximos" – avalia Mané, primeiro a vetar a cobertura, apesar de atleticano assumido.

André Isac, chefe de esportes da PUC/TV, reprova a volta de Maurício Sampaio ao Atlético-GO. O jornalista explica os motivos do boicote e teme pela imagem do clube.
– Não há clima para frequentar o Atlético-GO. Não queremos cruzar com o Maurício pelos corredores. Imagine se fosse ao contrário, um jornalista acusado de matar um dirigente. Ele teria um bom ambiente para cobrir o time?  O clube tem o direito de escolher seu presidente, e nós, o de afirmar que ele não é a pessoa ideal. É ruim até para o Maurício. Está tendo até mais repercussão do que quando o Valério morreu, em 5 de julho de 2012. Você se lembra o que aconteceu no dia 4? O Corinthians foi campeão da Libertadores. Pouco se falou do assassinato. Hoje, a volta dele está em todos os veículos, tanto pelo momento quanto pelo fato de o inquérito já estar concluído.

Maurício Sampaio foi preso três vezes de forma preventiva e está entre as cinco pessoas indiciadas. Após cerca de oito meses de investigação, o inquérito policial foi entregue ao Poder Judiciário pelos delegados Adriana Ribeiro e Murilo Polati, da Delegacia Estadual de Investigação de Homicídios, no início de 2013. O documento possui mais de 500 páginas. Além do dirigente, há acusações contra Urbano de Carvalho Malta, que morava em um terreno de posse de Maurício, os policiais militares Djalma da Silva e Ademá Figueiredo – apontado como o responsável pelos disparos – e o açougueiro Marcus Vinícius Pereira Xavier. Todos respondem em liberdade, à exceção do último, extraditado após ter se mudado para Portugal sem autorização da Justiça.

Os cinco irão a júri popular, ainda sem data definida. Maurício Sampaio alega inocência e, em entrevista ao GloboEsporte.com, afirma pretender cumprir o mandato de dois anos à frente do Atlético-GO sem "misturar a vida particular" aos assuntos do clube.

– Essa questão judicial não tem nada a ver. Deixo fora do Atlético-GO. Você já leu o inquérito? Não tem nada lá. Tenho confiança e sei da minha inocência. Logo essa história toda será passado. Fala-se muito sobre o caso porque vende. Matérias são feitas para vender. Sei como funciona.

Maurício Sampaio esteve à frente de um cartório em Goiânia por mais de 25 anos. Atualmente, perdeu a concessão e também responde judicialmente pelos crimes de peculato, cobrança de tributo indevida e modificação sem autorização no sistema de informações. Dentre outros negócios, é proprietário da Rádio 730, que mantém a cobertura do Atlético-GO. A respeito do boicote de parte da imprensa goiana, o empresário questiona:

– Será que não há atleticanos entre os telespectadores e ouvintes dessas emissoras? O clube e os torcedores não podem ser penalizados. Respeito a decisão, mas penso que é uma minoria que quer apenas criar tumulto. Um desses órgãos envolvidos (TV Brasil Central) até pertence ao Estado. Será que isso é correto? Já fui próximo de algumas dessas pessoas. Tomávamos cerveja e comíamos espetinho juntos. Agora, paciência. O clube está de portas abertas se resolverem voltar.

Quando Valdivino de Oliveira anunciou que não tinha interesse em uma nova reeleição, o Atlético-GO precisou buscar um nome para assumir o clube. O ex-presidente esteve no cargo por seis gestões – quatro delas consecutivas, entre 2007 e 2014 – e não deixou um substituto imediato. Cogitou-se até modificar o estatuto rubro-negro, que permite candidatura apenas para conselheiros que já tenham exercido cargo eletivo. Um edital chegou a ser confeccionado e publicado. 

Nesse meio tempo, porém, Maurício Sampaio ganhou força. A despeito do afastamento, o dirigente, acostumado a colocar dinheiro do próprio bolso no Dragão, teve o apoio de uma parcela da torcida e foi ovacionado por atleticanos após a aclamação ao lado de Eduardo Mulser (vice), do deputado federal Jovair Arantes (presidente do Conselho) e de Marcos Egídio (vice do Conselho).

– Poucos nomes poderiam assumir. Pela questão estatutária, só uns três ou quatro. Eu era um deles, me convidaram, e aceitei. Não participei ativamente do clube nos últimos anos, mas nunca deixei de acompanhar. Meus amigos estão no Atlético-GO. A torcida me apoia – diz Maurício.

Advogado, Valério Luiz Filho é assistente de acusação no processo e observa que, em 2012, quando do homicídio de seu pai, jornalistas da PUC/TV e da Bandeirantes/820 estavam proibidos de entrar no Atlético-GO por decisão de Maurício Sampaio. O motivo: as críticas feitas pelo pai ao dirigente e ao clube. Valerinho, como é chamado por familiares e amigos, apoia o boicote.

– O acusado sempre foi uma pessoa intempestiva. Há contra ele um histórico de agressões a jornalistas e outros dirigentes, sobretudo no Serra Dourada. Sou a favor da decisão dessas emissoras. Vale lembrar que ele responde em liberdade, mas precisa cumprir determinações da justiça, dentre elas não sair de Goiânia e não se aproximar de testemunhas de acusação, que é o caso dos companheiros André Isac (PUC/TV) e João Batista (Bandeirantes/820).

A polícia civil concluiu, em sua investigação, que Valério Luiz foi assassinado, a mando de Maurício Sampaio, por causa das fortes críticas que ele fazia à diretoria do Atlético-GO. Os dois PMs acusados de participação no crime trabalharam como seguranças pessoais do dirigente, que contratou alguns dos principais advogados de Goiânia para montar sua defesa.

g1

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