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Um ano depois, Cielo e Thiago sobrevivem à crise dos clubes

Dispensados por Flamengo e Corinthians após medalhas na Inglaterra, nadadores encontram novos caminhos e brilham no Mundial de Barcelona

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09/08/2013 às 09h56

O sonho da medalha olímpica perturbou o sono de Thiago Pereira durante muitos anos. Desde Atenas 2004, o nadador tentava, sem sucesso, subir ao disputado pódio.

Quando finalmente o atleta teve o seu esforço recompensado, em Londres 2012, os frutos da prata conquistada foram bem menores do que imaginava. E não foi apenas uma exceção. Mesmo para Cesar Cielo, que partiu do ouro para o bronze em quatro anos, ter como “recompensa” ficar sem clube foi uma decepção. Da Inglaterra para cá, os dois principais nomes da natação brasileira ficaram desempregados, precisaram buscar novos caminhos e, agora, renovam as esperanças para um cenário melhor até os Jogos Olímpicos do Rio 2016. No Mundial de Barcelona, primeiro grande passo do novo ciclo olímpico, os dois brilharam subindo quatro vezes ao pódio no total.

Thiago Pereira já tinha batido na trave algumas vezes. Mas, em Londres, o nadador brasileiro estava decidido a colocar um fim na saga do “quase”. Na Inglaterra, atingiu o ápice da sua carreira ao conquistar a sonhada medalha olímpica. Levou a prata nos 400m medley, deixando para trás o fenômeno Michael Phelps. O também americano Ryan Lochte levou o ouro. A conquista teve um valor emocional incalculável para o nadador. Mas, financeiramente, nada mudou.

– Não mudou nada financeiramente. Mantive os mesmos patrocínios: Correios (através da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos) e Arena. Não consegui agregar valores a mais ou novos patrocínios. Acho que isso é mais por causa da Copa do Mundo. Tenho certeza que, se essa Copa fosse em 2018, seria totalmente diferente – opinou Thiago, que garantiu dois bronzes no Mundial de Barcelona.

O momento mais difícil desde os Jogos de Londres foi quando o Corinthians anunciou que não renovaria o contrato de Thiago. Foram três meses sem clube e sem salário. Até que, em fevereiro, encontrou abrigo no Sesi-SP. Hoje, ele tem uma estrutura parecida com a que tinha antes das Olimpíadas, dividindo seus treinos entre a piscina do Centro Olímpico do Ibirapuera e a do novo clube.

– A vida inteira você imagina que seria diferente, imagina que a medalha olímpica faria as coisas ficarem mais fáceis. Mas, naquele primeiro momento, fiquei assustado quando vi que as coisas ficarem ainda mais complicadas. Achei que a medalha me traria mais frutos. Nunca tinha passado pelo que passei esse ano. Fiquei três meses sem clube, sem salário e ainda casando. Mas o valor da medalha era muito maior, apesar de tudo que estava acontecendo. Nessa época, eu pensava: “Mas agora tenho uma coisa que sempre sonhei”. Isso me motivava – disse Thiago, que subiu ao altar este ano.

Cielo também fica sem clube

Campeão olímpico dos 50m livre em Pequim 2008, Cesar Cielo chegou a Londres em uma situação mais confortável. A conquista na China já havia lhe proporcionado bons patrocínios e, consequentemente, uma infraestrutura de ponta. Embora seu desempenho na Inglaterra não tenha correspondido às suas expectativas, o brasileiro se manteve entre os melhores do mundo nos 50m livre. Com o bronze, Cielo seguiu com seus patrocínios. Mas, além de ter de passar por uma delicada cirurgia nos joelhos, em setembro, também precisou enfrentar o mesmo problema que Thiago.

No fim de 2012, o Flamengo anunciou que iria acabar com a equipe principal de natação do clube e, com isso, não renovaria o contrato de seu principal nome: Cesar Cielo. O dono de três medalhas olímpicas ficou desempregado. Ele acabou aproveitando a oportunidade, entretanto, para procurar um clube que fosse compatível com seus novos objetivos, diminuíndo a quantidade de provas e competições.

– Continuo com praticamente os mesmos patrocínios de sempre. Estou com a Embratel, a Gatorade e troquei só a marca de material esportivo. Agora estou com a Adidas. Esse foi o único novo que apareceu. Os Correios também continuam via confederação. E tem o Clube de Campo de Piracicaba, mas eu não ganho salário. É só um nome para eu representar. A estrutura para mim continua praticamente a mesma, mas, na natação em geral, o cenário dos clubes mudou bastante. Para quem não tinha patrocínio, foi bem complicado esse período – explicou Cielo, que passou a última temporada cuidando da reabilitação de seus joelhos.

Cielo não treina no novo clube. Ele segue no Centro Olímpico do Ibirapuera e, agora, intercala os trabalhos com o Paineiras. A infraestrutura do nadador permanece parecida com a que tinha antes de Londres. A outra mudança representativa, além do clube, foi em sua comissão técnica. Desde o início de 2013, o americano Scott Goodrich está comandando os treinamentos do brasileiro. A primeira grande conquista da parceria aconteceu na última semana, em Barcelona, quando garantiu dois ouros e sanou as dúvidas se conseguiria competir em alto nível depois da delicada cirurgia nos joelhos.

– Isso foi uma grande surpresa para boa parte dos atletas, que não esperavam que os clubes teriam tantas dificuldades assim para manter a estrutura. Fica uma mistura de sentimentos. A gente sabe que até 2013 e 2014 vão ser os anos do futebol. Ao mesmo tempo, ainda tínhamos aquela esperança de que, por 2016, existiria um pensamento mais macro. Nós sabíamos que isso poderia acontecer, mas é um pouco triste mesmo assim. Nos esportes olímpicos, tem muita gente passando bastante aperto – ressaltou Cielo, que está na lista de atletas, assim como Thiago Pereira, que vai receber o benefício do Projeto Pódio oferecido pelo ministério dos Esportes.

Um ano de Londres comemorado em alto estilo no Mundial de Barcelona

Um um ano depois de suas conquistas olímpicas, Cesar Cielo e Thiago Pereira disputaram o Mundial de esportes aquáticos em Barcelona, na última semana. Os resultados conquistados na principal competição da temporada mostraram que, apesar de todos os problemas enfrentados desde Londres, os dois seguem competindo em alto nível.

Na competição que serveria como teste para seus "novos joelhos", Cielo superou as expectativas. O campeão olímpico conquistou o bicampeonato nos 50m borboleta e o tricampeonato nos 50m livre. Já Thiago Pereira, que nunca havia chegado ao pódio do Mundial, fez sua estreia logo com dois bronzes (200m e 400m medley).

GE

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