Presidente do Cruzeiro esconde fazenda de R$ 70 milhões no interior de Minas
Propriedade avaliada em R$ 70 milhões foi registrada por R$ 360 mil
Se o futebol é fonte de alegria, é também um espaço fértil para o surgimento de trambiqueiros e oportunistas, que usam a maior paixão nacional como meio para enriquecer. Sobram casos similares por todo o Brasil.
Em um país em que o presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), Ricardo Teixeira, dá o pior exemplo e se vê envolvido em várias acusações, que vão de propinas a enriquecimento ilícito, os demais cartolas também se aproveitam do esporte.
Um caso grave ocorre em Minas Gerais. O presidente do Cruzeiro, Zezé Perrella, dono de uma fazenda a perder de vista na cidade de Morada Nova de Minas no valor de R$ 70 milhões, mas registrada em cartório por apenas R$ 360 mil.
E as denúncias não param. De uma ponta a outra do Brasil, más administrações e negociatas prejudicam os clubes e torcedores, que são desrespeitados e enganados.
As recentes mudanças no caso do título brasileiro de 1987 são prova disso. Depois de uma decisão que levou 24 anos para ser tomada, o Sport foi considerado o único campeão nacional de 1987, título que vinha sendo dividido e disputado judicialmente com o Flamengo.
A decisão também beneficiou o São Paulo. Sem o título do Flamengo, ele passou a ser novamente o primeiro pentacampeão brasileiro e voltou a ter direito a ficar com a Taça das Bolinhas.
Rivais pernambucanos, Sport e Náutico ainda lutam para voltar à primeira divisão do Campeonato Brasileiro. Em situação pior está o Santa Cruz. O clube é dono do maior estádio pernambucano, o Arruda, mas nos últimos cinco anos a apaixonada torcida se acostumou com fracassos. Hoje, o time está na quarta divisão. Falta futebol, mas também não há um tratamento justo da CBF, reclama o vice-presidente Joaquim Bezerra.
– É um campeonato milionário, então basta que haja uma distribuição igual de renda para os clubes poderem apresentar-se bem. A CBF pra gente aqui no Nordeste não é atuante, a gente não entende nem vê a CBF a fazer nada pelo futebol do Nordeste.
Nas últimas três décadas, o futebol do Nordeste aos poucos foi sumindo da Série A do Campeonato Brasileiro. Em 1979, foram 28 equipes da região, em uma competição que tinha na época 94 times. Hoje, apenas Ceará e Bahia estão na elite da competição nacional.
Longe da elite e fora da televisão, os clubes tem menos poder na hora de explorar a própria imagem, como explica o radialista Léo Medrado.
– Agora com a saída do Clube dos 13 do processo intermediário das negociações financeiras, a rede de televisão vai negociar diretamente com o clube mais ainda.
Se em Pernambuco a dúvida é a sobrevivência dos clubes, na Bahia a incerteza é com um orgulho do torcedor: o seu maior estádio.
A antiga Fonte Nova virou pó. Só a implosão custou R$ 50 milhões. Para fazer uma arena novinha em folha é preciso muito mais dinheiro. Quando o contrato foi assinado entre o governo baiano e as construtoras, ficou acertado gastar R$ 591 milhões. Hoje, um ano e meio depois, o orçamento está em R$ 798 milhões.
Do total do orçamento previsto, R$ 323 milhões vem do BNDES. Quem pediu o empréstimo foi o governo baiano, que já gastou R$ 52 milhões.
Outros R$ 250 milhões sairão do BNB (Banco do Nordeste do Brasil). Empréstimo feito pelas construtoras, tendo o governo do estado como avalista. O restante, 173 milhões, vem de outros investidores.
A maior parte do dinheiro só vai ser liberada depois da avaliação do Tribunal de Contas do Estado. O órgão julga se o preço pago é justo mas, para isso, precisa do projeto de engenharia, que já foi pedido oito vezes ao consórcio da obra, mas até agora nada. Sem dinheiro, a obra corre, sim, o risco de ficar pelo caminho.
Brasília também sofre
Tão perto do poder e tão longe do futebol. Esta é a realidade em Brasília. Os dois principais times da capital estão em decadência. O gama, que já esteve na elite do futebol, vai disputar a quarta divisão, e o Brasiliense, que também já passou pela Série A, agora está na Terceirona.
Os times enfrentam problemas nos campos e também no tribunais. Em abril deste ano, a Justiça determinou o bloqueio do dinheiro das contas dos dois clubes e da Federação Brasiliense de Futebol. O Ministério Público apontou irregularidades em convênios entre a entidade e o governo do Distrito Federal.
Os convênios previam o repasse de dinheiro público a todos os times. Mas os promotores identificaram que apenas três foram beneficiados. Gama, Brasiliense e CFZ. Do total, mais de R$ 2 milhões.
O Brasiliense teria abocanhado quase 80% do total repassado. O clube tem como sócio fundador o ex-presidente da federação, Fábio Simão, que acabou afastado por decisão judicial. Ele é um dos investigados na operação que resultou no afastamento do ex-governador José Roberto Arruda, por suposto recebimento de propina.
Ele já posou ao lado de Arruda e Ricardo Teixeira durante a apresentação do projeto de Brasília para a Copa. O secretário de esportes na época dos convênios com a federação era Weber Magalhães, hoje vice- presidente da CBF.
O dirigente do Brasiliense, Luiz Estevão, também tem problemas com a Justiça. O primeiro e único senador cassado no Brasil, foi condenado a 31 anos de prisão por envolvimento no esquema de superfaturamento da obra do Tribunal do Trabalho, em São Paulo. E obrigado a devolver à Justiça quase R$ 170 milhões que teriam sido desviados da obra.
Já o presidente do Gama, Paulo Goyaz, deixou o cargo esta semana e publicou carta no site oficial do time, em que diz que renunciou pra se livrar da acusação de que dificultava o acerto com novo patrocinador. O estádio onde o Gama manda seus jogos é público. A última reforma do Bezerrão custou R$ 50 milhões e foi reinaugurado com o jogo Brasil e Portugal. Na época, o Ministério Público estranhou o cachê de R$ 9 milhões pagos à seleção brasileira.
Fabio Simão negou as acusações. Webber e Estevão não quiseram se manifestar.
Romário frustra Juiz de Fora
Em 2006, o Tupi contratou o atacante Romário para a disputa do Campeonato Mineiro. O Baixinho treinou alguns dias no clube, mas sequer jogou porque a diretoria do clube não conseguiu inscrevê-lo na competição
Para o professor e jornalista Márcio Guerra a contratação relâmpago foi pura estratégia pra divulgar a cidade e o time.
– Sendo um jogada de marketing, foi um tiro no pé. A cidade caiu no deboche.
Fazenda suspeita em MG
Mas algumas denúncias envolvendo cartolas do futebol não são dignas de risada. Uma das mais recentes foi feita pelo jornal Hoje Em Dia. A publicação descobriu que no sossego da cidadezinha de Morada Nova de Minas, Zezé Perrella, presidente do Cruzeiro, virou o rei do campo.
Na fazenda a sumir de vista, o homem mais importante de um dos maiores clubes do brasil cria gado, porco, planta eucalipto e tem uma fábrica de ração. A sede é ampla. Tem piscina e pista para aviões com até quinze passageiros.
Perrella começou a investir na região doze anos atrás. Primeiramente, ele comprou uma propriedade e depois as outras que ficavam ao redor. Um império, hoje avaliado R$ 70 milhões. Pela escritura, registrada no cartório de imóveis de Morada Nova de Minas, a fazenda foi vendida em dezembro de 2009 por R$ 360 mil. A propriedade foi transferida para o nome da empresa Limeira Agropecuária, registrada nos nomes de dois filhos de Perrella e de um sobrinho.
Perrela não quis gravar entrevista. A assessoria de imprensa do Cruzeiro informou que o valor do imóvel, avaliado em R$ 360mil, é referente a apenas uma das fazendas e não a todas que, juntas, valem cerca de R$ 70 milhões por causa das benfeitorias que foram feitas.
Ao Tribunal Regional Eleitoral, Perrella informou ter R$ 490 mil em bens. O patrimônio seria um veículo e alguns investimentos em aplicações financeiras. A declaração foi apresentada quando o cartola se candidatou como suplente do senador Itamar Franco, internado em São Paulo para tratar um câncer. Perrella já foi deputado federal, de 99 a 2003, e estadual, de 2006 a 2009. Por causa dos cargos públicos que ocupou e a partir da reportagem do Hoje Em Dia, o Ministério Público Estadual decidiu investigar a origem da fortuna do cartola que começou a vida cerca de trinta anos atrás com uma pequena loja no mercado central.
Cinco anos atrás, o empresário Fernando Torquatti Júnior diz que fez denúncias parecidas com as de hoje. Mas as investigações contra Perrella não foram adiante.
-Ele misturou as coisas. Acha que o Cruzeiro é a casa dele. E isso está acabando com o clube.
R7
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