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Engenheiro realiza análise do açude de Boqueirão e diz que R$ 23 milhões podem ser desperdiçados. Entenda

Segundo o engenheiro, a intenção do senador é boa, porém, corre-se o risco, de ser injetado muito dinheiro em solução duvidosa ao problema enfrentado.

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06/09/2013 às 14h21

O engenheiro Francisco Antônio Braga Rolim, natural da cidade de Sousa enviou nesta sexta-feira uma análise do problema geotectônico do açude de Boqueirão de Piranhas e alertou sobre a destinação de recursos financeiros no valor de R$ 23 milhões de reais anunciados pelo senador Vital do Rêgo (PMDB) para os trabalhos de restauração da referida barragem.

Segundo Antônio, a intenção do senador é boa, porém, ainda pode não ser uma opção final e se forem aplicados os recursos financeiros previstos, no valor de R$ 23 milhões, corre-se o risco, de novamente ser injetado muito dinheiro público em solução duvidosa ao problema a ser enfrentado.

Em nota, o engenheiro diz que é necessária uma obra segura, com estabilidade, que possa operar à plena capacidade de projeto, que atenda as demandas hídricas da região e propicie maior desenvolvimento, pelos menos para os próximos 100 anos.

Confira a análise na íntegra:

Análise do problema geotectônico do Boqueirão de Piranhas

Francisco Antonio Braga Rolim (Catonho) – Eng° de Minas, é natural de Sousa/PB

Diante da complexidade do problema que envolve a insegurança da Barragem Eng° Ávidos, e no interesse de alertar sobre matéria veiculada em site do sertão paraibano na data de 03/09/2013 sobre destinação de recursos financeiros no valor de R$ 23 milhões de reais para os trabalhos de restauração da referida barragem, reconhece-se que a intenção é boa, mas ainda pode não ser uma opção final, e definitiva, simplesmente porque não há garantia que as intervenções propostas resolvam o grave problema que acomete esta barragem, e acredita-se que existe alternativa mais consistente e mais adequada ao caso.

Grande parte da população já sabe que esta barragem tem problema estrutural grave, e não é novidade para a população de Sousa, e região, a grande preocupação do autor desta matéria quanto aos riscos de rompimento da Barragem Eng° Ávidos que no ano de 2006, pela primeira vez, trouxe à tona a verdadeira razão da fragilidade desta barragem, e apontou a causa, ou origem, do enfraquecimento: falha geológica, causada por evento tectônico, ocorrido em épocas pretéritas.

As conseqüências do evento tectônico provocaram reconfiguração do ambiente geológico, com sérios estragos no substrato rochoso, e resultou em rochas fragmentadas, instáveis, que transmitem tensões não previstas para a obra da barragem, e propiciam abatimentos, buracos e rachaduras no maciço da barragem, tornando-a insegura. A intensidade e a freqüência das causas desse evento expõem a fragilidade da obra da barragem, que não foi executada para absorver, dissipar e anular esse tipo de esforço dinâmico.

O fato foi veiculado em rádios da cidade e região, inclusive consta em relatório e proposta técnica (registrados em Conselho de Engenharia competente) orientando como identificar e resolver o problema. Como já era de esperar, pessoas da região se agregaram nessa tese, e alguns lutaram e debateram com muita veemência clamando providências aos responsáveis, e exigindo uma solução para o problema.

O interesse pelo assunto envolveu muitas pessoas, a ponto de membros da família Nóbrega (Dr. Toinho, Dr. Cesar, e vereador Daniel) representar ação no Ministério Público no ano de 2008 exigindo providências.

Iniciou-se então um processo de discussões sobre o assunto, às vezes acaloradas, mas importantes para entender o problema, e buscar solução. A diferença, neste caso, é que, a partir deste momento, existia um foco, um alvo para a discussão: a falha geológica, na verdade, suas conseqüências, atuando inexoravelmente em desfavor da estrutura da Barragem Eng° Ávidos.

Lamentavelmente, os responsáveis pela barragem não deram atenção aos alertas do autor, e tampouco aos questionamentos das pessoas, Mas o descaso na questão não esmoreceu os defensores da causa, e estes continuavam a questionar e exigir solução ao grave problema, e percebia-se que os responsáveis pela barragem não tinham noção quanto à gravidade do real problema, mesmo reconhecendo que os sinais de fragilidade do maciço da barragem eram externalizados de forma sintomática, quando mostrava sua “agonia” recorrente, ao surgir buracos, fendas e rachaduras no maciço da barragem.

Mesmo não admitindo o fato, os responsáveis temiam pela ruptura da estrutura do maciço, e se viram obrigados a liberar volumes de água, muitas das vezes sem critério, a ponto de, ao não cair a chuva esperada, fatalmente a região do sertão paraibano se vê sem reserva hídrica para fornecimento de água visando atender à demanda essencial (consumo humano), como ocorre neste momento.

Acredita-se que é um bom momento para retomar o assunto, pela inegável e premente necessidade de resolver o problema, e mediante os resultados analisados, os quais constataram que muitas atividades obrigatórias não foram desenvolvidas, o que é inadmissível. Também, muitas atividades desenvolvidas, lamentavelmente, foram insuficientes e obtiveram resultados inconclusivos, principalmente frente ao grau de responsabilidade e desafio do problema existente.

Apesar de inconclusivos e insatisfatórios, os resultados constataram grave problema estrutural na barragem. Então, o resultado não é surpresa, e para muitas pessoas da região demonstra que o problema é real, dirimindo possíveis dúvidas, podendo-se lamentar o fato de não ter sido ainda resolvido.

Apesar de constatado que o problema existe, pode ser apenas o começo do alívio de um longo período de martírio para a população das cidades de jusante que sofre há muitos anos com a insegurança dessa barragem. Dentre as conseqüências do evento tectônico, propiciou a formação do Boqueirão de Piranhas (que podemos considerar de benéficos), ao criar um novo relevo e uma nova paisagem, sem dúvida, exótica, mas também provocou grandes mudanças (estragos) no substrato rochoso (que podemos considerar de maléficos).

Devido à elevada energia liberada na ocorrência do evento, naquele ponto, dentre as feições geomorfológicas estudadas na região, e com possibilidade de aproveitamento para obra de barragem, o “estrago” provocado pelos efeitos do tectonismo no substrato do Boqueirão de Piranhas tem profundidade maior do que o usual para o tipo similar de relevo, e se pode inferir que o Boqueirão de Piranhas seja inadequado para construção de barragem com tamanha grandeza. Pelo menos, enquanto o problema não for resolvido em definitivo, já que, até o momento apenas está constatada a origem do problema, confirmada pela grande quantidade de rochas fraturadas/fragmentadas no substrato rochoso, que deprimem a estrutura da barragem quando escorregam ou deslizam, pela pressão da carga hidráulica de montante, principalmente quando há grande volume de água “nas costas” (a montante) da barragem.

Então, não se recomenda realizar os serviços e trabalhos propostos, neste momento, tampouco com dinheiro público, e jamais sem demonstrar, e provar, qual a solução para o local, e muito menos se aplicando as técnicas e conhecimentos convencionais, como visto há alguns anos atrás em nosso estado (ex. de Camará), e tampouco utilizando profissionais sem o devido envolvimento no problema e que não possui conhecimento nesse tipo de desafio.

Em razão da complexidade do problema identificado no Boqueirão de Piranhas, e pelo tipo da obra executada na barragem, com base nas propostas de manutenção e recuperação da Barragem Eng° Ávidos apresentadas nos trabalhos realizados, entende-se que a aplicação das metodologias sugeridas visando recuperação do maciço da barragem pode não resolver o problema, devendo apenas mitigar o estrago. Frente ao já exposto, e reiterando o alerta, ressalte-se que o problema principal não está na barragem, exclusivamente. Como já visto, e copiando o jargão popular, “o problema é mais embaixo, ou seja, o maior problema encontra-se no substrato rochoso, muito instável, e a proposta apresentada não garante resultado pleno, não é uma solução definitiva. Então, pelo óbvio, se forem aplicados os recursos financeiros previstos, no valor de R$ 23 milhões, corre-se o risco, por sinal, bastante alto, de novamente ser injetado muito dinheiro público em solução duvidosa ao problema a ser enfrentado, obtendo-se no máximo, resultados paliativos.

Diante do grande desafio, é conveniente, portanto, buscar a solução definitiva, evitando-se que o cidadão pague por um serviço duvidoso em obra historicamente massacrada pelo desgaste imposto por forças da natureza, e cuja solução pode não constar nos manuais e métodos convencionais. Por outro lado, pode ser adequado, e recomendado, construir uma grande obra de barragem no local, desde que projetada para absorver, dissipar e anular o tipo de esforço dinâmico existente. Então seria uma obra diferenciada, específica para o problema, sendo imprescindível apoio de estudos, projetos e serviços especializados para garantir a segurança da obra de barramento no Boqueirão de Piranhas.

Sabe-se que, quando a engenharia utiliza profissionais experientes e capacitados, responsáveis e comprometidos com o trabalho, e aplica tecnologia apropriada ao caso ora em discussão, torna-se possível a construção de uma grande obra para interceptar o leito do rio Piranhas (barragem) neste local, desde que, e somente depois de desenvolvido um projeto adequado à nova realidade do arcabouço geológico do substrato rochoso que constitui o Boqueirão de Piranhas. Mas vale lembrar que a nova estrutura, provavelmente bastante diferenciada da obra que hoje existe, precisará também de alto investimento, grande soma de recurso financeiro para atacar o problema, que não é pequeno, Considerando essas premissas como ponto de partida, a sociedade fica torcendo por uma solução, e se necessário, seja construída outra barragem, mesmo que a custo mais elevado. Na verdade, o custo maior é não ter água, é rever o drama de famílias emigrarem, é a região ficar mais pobre. Esse custo é elevado.

Então, o mais importante será garantir armazenamento de água para o desenvolvimento da região, e para que isso ocorra, é necessário uma obra segura, com estabilidade, que possa operar à plena capacidade de projeto, que atenda as demandas hídricas da região e propicie maior desenvolvimento, pelos menos para os próximos 100 anos.

Veja também: Senador anuncia R$ 23 milhões para açude de Cajazeiras; Licitação sairá próxima semana

DIÁRIO DO SERTÃO

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