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Damião Fernandes

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A Covardia dos bons

05/01/2013 às 09h49

Nesses dias tenho pensado sobre o que escrever. Várias foram as sugestões que minhas ideias me propuseram: escrever sobre a vontade, as férias e tempo perdido, sobre filmes ruins, sobre a arte de morrer todo dia, sobre a ética provisória, a Incapacidade do luto, sobre a moral ou a moralidade fingida. Tantas foram as sugestões.

Nesses últimos meses do ano passado, vivi situações que me fizeram pensar ainda mais sobre a compreensão subjetiva que algumas pessoas constroem sobre o certo e errado, sobre o bem e sobre o mal, sobre o que é prudente e coerente e o que parece insensato e covarde.  O Mais grave: Algumas pessoas por verem que “somos de Igreja” – termo utilizado pelo senso comum – acham que é nosso dever sermos coniventes com atitudes ilícitas ou sermos cooperadores com atitudes injustas e fraudatórias. Acreditam muitos deles, que é perfeitamente coerente a relação. Surpreendi-me quando na tentativa de me “obrigarem” a agir contra minha consciência, tentaram me seduzir com discursos de bom senso.

A consciência é uma instância inviolável e intransferível. Jamais podemos delegar a outros a exigência de fazer o bom uso da nossa. A consciência assim como as palavras caminham dentro de nós e passo a passo constroem-se as ideias, os sentimentos e os imperativos.  A água quando colocada á certa temperatura ferve intensamente, a consciência quando frente a dilemas morais, religiosos, humanos, também deve reagir diante de instigações.

Mas o vento que sopra á inspirar as palavras que ora escrevo, sopra com um ar de urgência e transgressão. Pois pensar é transgredir o supostamente pronto e acabado. Pensar é desacorrentar-se, é libertar-se dos grilhões da covardia que muitas vezes se apresenta sobre a máscara da sensatez e do bom senso. Ver o bem e não fazê-lo é sinal de covardia, já dizia o filósofo antigo Confúcio.

O que é a covardia? O que é ser covarde? Quando eu e você agimos assim? A covardia é o medo de assumir o que somos para não perdermos o que temos. Covarde é todo aquele que substitui o ter pelo ser. Sempre é bom recordar que ter não significa aqui a capacidade de acumular bens materiais, mas ter significa sim a incapacidade do ser humano de sair de si, de desprender-se de seus enganos e acomodações. É próprio dos covardes a busca por uma vida cômoda e segura, livre de importunações. Dificilmente eles se revelam como são, mas apenas como querem. Poderíamos dizer que a covardia é a constante negação do ser como ele é. A covardia é um atentado á Ontologia. Profissionais covardes são aqueles que não assumem posturas éticas por medo de perder a unanimidade na aceitação de si mesmo. Profissionais covardes sempre querem ser aplaudidos.

Há uma frase de Abraham Lincoln que diz  “Pecar pelo silêncio, quando se deveria protestar, transforma homens em covardes." Quantos homens verdadeiramente bons que não pecam pelo silencio muitas vezes omisso e permissivo. Quantos que se escondem numa desvelada sensatez ou cordialidade e se calam diante de práticas injustas, humilhante ou desleal. Quantos não assumem uma postura covarde diante do que vêem e do que ouvem.

Há um trecho de uma música que diz: “O alimento da audácia dos maus, infelizmente é a covardia dos bons”. Vamos vivendo acreditando que tudo aquilo que nos acontece, as injustiças que sofremos, aquilo que não conquistamos, todo o mal que há no mundo ou até mesmo aqueles que nos acontecem são justificados por um querer Divino. Tudo atribuímos à Deus – até mesmo a origem de nossa covardia – . A covardia não é um atributo de Deus, mas sim uma deficiência de caráter do homem.

 

Damião Fernandes

Damião Fernandes

Damião Fernandes. Poeta. Escritor e Professor Universitário. Graduado em Filosofia. Pós Graduado em Filosofia da Educação. Mestre e Doutorando em Educação pela (UFPB). Autor do livro: COISAS COMUNS: o sagrado que abriga dentro. (Penalux, 2014).

Contato: [email protected]

Damião Fernandes

Damião Fernandes

Damião Fernandes. Poeta. Escritor e Professor Universitário. Graduado em Filosofia. Pós Graduado em Filosofia da Educação. Mestre e Doutorando em Educação pela (UFPB). Autor do livro: COISAS COMUNS: o sagrado que abriga dentro. (Penalux, 2014).

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