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Damião Fernandes

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A Misericórdia é para os canalhas

16/12/2015 às 17h02

Misericórdia é ato último e supremo pelo qual Deus vem ao nosso encontro (Bula da misericórdia, 2015, p. 5). Assim começa o Papa Francisco, no Misericordiae Vultus, sobre a importancia da ação de misericórdia empenhada por Deus na direção de todo homem. Misericórdia é ato último, ou seja, quando se expressa como a última ação de amor, depois de empreendida tantas, que não foi capaz de fazer com que o homem, por causa da sua dureza de coração, ter-se aberto á Salvação.

Se de um lado está a misericórdia, pura, eterna e acolhedora, que se oferece em abundancia todos, do outro lado o miserável pecador, fechado em si mesmo por um egoísmo cego que me empurra para longe do outros e que só pensa em satisfazer apetites e desejos. O caminho da misericórdia é uma via de mão dupla, por onde a misericórdia vem e por onde o miserável vai.

O que vem a significar a palavra Misericórdia? A expressão misericórdia tem origem latina, é formada pela junção de miserere (ter compaixão), e cordis (coração). "Ter compaixão do coração", significa ter capacidade de sentir aquilo que a outra pessoa sente, aproximar seus sentimentos dos sentimentos de alguém, ser solidário com as pessoas.  Quando o Papa Francisco começa o texto da Bula de Proclamação do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, afirmando que “Jesus Cristo é o rosto da misericórdia do Pai”, significa que Ele é aquele que desce e se rebaixa em direção ao homem. A misericórdia desce até o limite da miséria, do miserável pecador e sente os sentimentos do homem e chora as suas dores e lhe salva do pecado. A misericórdia de Deus é a última salvação para os canalhas.

E o que significa o canalha? Canalha é a pessoa mau caráter, aproveitador, o cínico, o mentiroso e interesseiro. Canalha é o homem e a mulher carnais, amantes do prazer e pelo prazer é capaz das piores ações reprovavéis e deploráveis. O canalha é totalmente desprovido de qualquer tipo de moralidade ou de bons sentimentos que justifiquem suas ações por alguém. Para o que age como canalha, a dor alheia é alimento para suas pretensões de ter sucesso e ascender na vida econômica, social ou projeto "afetivo" de poder. Afetivo? Sim. Por que todo canalha geralmente também é fanfarrão, ou seja, aquele sujeito dissimulado que finge sentimentos de ternura, mas que alimenta ódio e inveja pelos mesmos que diz “amar”.

Todos somos canalhas. Todos nós, sem distinção de classe ou posição social, credo, raça, sexo, estado de vida ou poder econômico. Todos nós trazemos, uns mais outros menos, em nossa natureza humana, um grau de canalhice endêmica.  Somos canalhas, quando nos portamos como os superespirituais quando na verdade somos sepulcros caiados, onde habitam as maiores podridões morais e religiosas. Tudo junto; Somos canalhas quando, enquanto acadêmicos, tentamos aprisionar Jesus na torre de marfim da exegese, inalcançável para “os simples”. Somos canalhas, quando ostentamos sobre os ombros um sacolão de honras, diplomas e boas obras, acreditando que somos melhores que todos os outros. Somo canalhas, enfim, quando lemos tudo isso e julgamos que não nos enquadramos aqui, porque “não sou tão mal assim”. Somos canalhas, quando presumimos uma santidade que não temos, mas vivemos como se fossémos.

Somos todos canalhas. Portanto, somos todos dignos de misericórdia. Pois a misericórdia de Deus é a última salvação para nós, lembra?

A misericórdia de Deus é para aqueles canalhas (todos nós) sobrecarregados, que vivem mudando o peso da mala pesada de uma mão para a outra. A misericórdia de Deus é para aqueles canalhas vacilantes e de joelhos fracos, que tem a convicção de não serem capazes de qualquer ato de bondade sem que a graça de Deus os acuda. A misericórdia de Deus é para aqueles canalhas que são como vasos de barro e arrastam durante a sua vida, pés de argila. A misericórdia de Deus é para gente inteligente que se reconhece estúpida e para aqueles discípulos honestos, mas que admitem que são canalhas.

A misericórdia de Deus é para nós, canalhas de diversos tamanhos ou de matrizes genealógicas diversas. Somente a misericórdia de Deus pode nos redimir desse lamaçal de canalhice. Somente a misericórdia de Deus pode nos salvar, pois somente Deus pode usar de misericórdia, pois é “próprio de Deus usar de misericórdia e nisto se manifestou de modo especial a sua onipotência” (São Tomás de Aquino).

Portanto, a porta está aberta para nós. E como diz o Papa Francisco: “Será então uma Porta da Misericórdia, em que qualquer pessoa que entre poderá experimentar o amor de Deus que consola, perdoa e dá esperança." É a misericórdia que se abre para nós, os canalhas do século XX.

Damião Fernandes

Damião Fernandes

Damião Fernandes. Poeta. Escritor e Professor Universitário. Graduado em Filosofia. Pós Graduado em Filosofia da Educação. Mestre e Doutorando em Educação pela (UFPB). Autor do livro: COISAS COMUNS: o sagrado que abriga dentro. (Penalux, 2014).

Contato: [email protected]

Damião Fernandes

Damião Fernandes

Damião Fernandes. Poeta. Escritor e Professor Universitário. Graduado em Filosofia. Pós Graduado em Filosofia da Educação. Mestre e Doutorando em Educação pela (UFPB). Autor do livro: COISAS COMUNS: o sagrado que abriga dentro. (Penalux, 2014).

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