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Damião Fernandes

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A terra que ensinou a Paraiba, a que?

16/04/2013 às 19h25

Particularmente, nunca fui simpatizante de certezas estabelecidas a custas de mentiras históricas. Aquelas que você não consegue ver nenhum fundamento histórico convincente ou nenhuma estrutura intelectual que corrobore tais afirmativas.  Existem povos que constroem suas valorações míticas como possibilidade de explicação da realidade ou ainda como explicação da realidade ideal, ou seja, como postura de supor aquela realidade histórica que desejariam que tivesse existido.

Cajazeiras, como toda e qualquer sociedade, também tem as suas construções míticas. A cidade de Cajazeiras, como toda e qualquer sociedade ocidental, sobrevive a custas de certezas históricas que á medida que os anos passavam, essas representações coletivas – as certezas – foram ganhando força de explicação do viver e do saber. E essas explicações fantasiosas fazem parte da estrutura pensante desse povo que vive e sobrevive sob o poder ilusório que emana desses contos, dessas narrativas, dessas fábulas.

A terra "das cajazeiras", é a terra onde mentiras histórias ganham autoridade de certeza e, por conseguinte, status de verdade. É a terra onde certas inverdades servem como alicerce para a sustentação do status quo da sociedade nascida aos pés do Altar. Na terra "de Mãe Aninha", suspeitas históricas passadas, tem maior poder de convencimento do que possíveis releituras historiográficas atuais.

Desde que me percebo como ser racional e pensante, escuto histórias, tipo como: “Cajazeiras, a terra que ensinou a Paraíba a ler”. Um slogan profundamente altivo, por demais presunçoso e nada modesto. Mas sempre escutei isso e confesso que como todo e qualquer cidadão nativo dessa polís, também por muito tempo essa afirmação dominou minha subjetividade. Confesso: Não é fácil se desvencilhar de dogmas históricos cristalizados, ou seja, aquelas certezas que se instalaram em nós e foram ganhando status de realidades inquestionáveis.

A cidade "dos Rolim", sobrevive á custas de mentiras inconscientes-coletivas e nefastas. Um inconsciente coletivo hereditário e enganoso – “A terra que ensinou a Paraíba a Ler” – idêntico em todos os homens e que constitui um substrato psíquico comum, de natureza suprapessoal, que está presente em cada um de nós cajazeirenses.

Como é possível, uma terra que se diz ter ensinado a Paraíba a ler e não tenha capacidade de fazer uma leitura sobre sí mesmo e sobre sua história? quando nem mesmo sabe em que lugar foi depositado os restos mortais de seu fundador? Esquecer o corpo é uma demostração cabal da incapacidade dessa cidade de guardar outras memórias. Como uma Terra que se diz ter “ensinado a Paraíba a Ler” quando historicamente trata mal seus homens e mulheres do saber, com chicotes e canetas partidárias? Aquela que se diz ter "ensinado a toda Paraíba a ler", deveria ter a prerrogativa  de uma educação que promove o saber crítico e forma homens como"sujeitos emancipados" e não homens "objeto-escravo". Como uma Terra que diz que “ensinou a Paraíba a Ler” e trata essa mesma educação como meio de barganha e instrumentalização politiqueira da pior qualidade, onde os Educadores que merecem crédito, incentivo e promoção são aqueles que rezam na cartilha dos deuses-magistrais do Olimpo.

Nesse ano, Cajazeiras ira completar 150 anos. Acredito que se faz um tempo oportuno para que os intelectuais sérios dessa cidade tenham a coragem de fazer uma releitura lúcida da nossa historiografia cajazeirense, separando o que nela é inconsciência mítica coletiva do que é verdadeiramente fato histórico coerente, construído no dia-a-dia do povo. Sem instrumentalizações.

Nas comemorações dos 150 anos desta cidade, se faz necessário e urgente uma discussão séria sobre que tipo de Educação queremos ofertar ás presentes e futuras gerações. Queremos nos desvencilhar de um ensino alienante, acrítico e politiqueiro que está preso á mitos e opiniões, que por sua vez, também é fruto de uma sociedade estruturalmente alienada, puramente reflexa e não reflexiva sobre sí mesmo (suas subjetividades e valores morais) ou iremos por mais 150 anos, reforçar mentiras históricas construídas e alicerçadas sob a ignorância e a passividade de um povo que mesmo assim, depois de centenas de anos, ainda acredita que essa é a terra que ensinou a Paraíba a ler?

Fica aqui, minha inquietação. Deixo aqui, minha provocação.

Damião Fernandes

Damião Fernandes

Damião Fernandes. Poeta. Escritor e Professor Universitário. Graduado em Filosofia. Pós Graduado em Filosofia da Educação. Mestre e Doutorando em Educação pela (UFPB). Autor do livro: COISAS COMUNS: o sagrado que abriga dentro. (Penalux, 2014).

Contato: [email protected]

Damião Fernandes

Damião Fernandes

Damião Fernandes. Poeta. Escritor e Professor Universitário. Graduado em Filosofia. Pós Graduado em Filosofia da Educação. Mestre e Doutorando em Educação pela (UFPB). Autor do livro: COISAS COMUNS: o sagrado que abriga dentro. (Penalux, 2014).

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