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Damião Fernandes

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Sobre o absurdo da existência

27/08/2014 às 13h11

No ano de 1941, o filósofo francês Albert Camus escreve o ensaio filosófico o mito de Sísifo. Neste ensaio, Albert introduz a sua construção filosófica do absurdo: o do homem em busca de sentido, unidade e clareza no rosto de um mundo ininteligível desprovido de clareza racional em suas tramas existenciais. Em Camus, o homem é cotidianamente confrontado com acontecimentos que desafia a sua racionalidade, gerando a necessidade de explicações lógicas de sentido; Segundo ele, ficamos cara a cara com uma realidade trágica, complexa e absurda, que nos cansa sempre quando nos dispomos à apreende-la.

Ao cotidiano sofrido, que carece de um reiterado esforço para vivê-lo, Camus relaciona à tarefa enfandonha de Sísifo. Um personagem da mitologia grega que é condenado a repetir sempre a mesma tarefa de empurrar uma pedra até o topo de uma montanha, sendo que, toda vez que estava quase alcançando o topo, a pedra rolava novamente montanha abaixo até o ponto de partida por meio de uma força irresistível, invalidando completamente o duro esforço despendido.

Reside aqui então um dos grandes desafios do homem: Mesmo diante de um cotidiano enfadonho, trágico e doloroso, encontrar os sentidos e os significados da existência. Naquelas realidades e acontecimentos absurdos – o que não nos apresenta uma inteligibilidade coerente, portanto lógico – que experienciamos em nosso cotidiano, devemos tal qual um garimpeiro de pedras preciosas, encontrar sentido e força impulsiva de criação ou ressignificação da vida que insistentemente se nos apresenta absurda. No não entendimento dos fatos há sempre espaço para uma antilogia dos sentidos, ou seja, que é razoável pensar que não constitui loucura imaginar que diante dos absurdos da vida, tenhamos uma felicidade também absurda, visto que a felicidade não consiste no entender, mas no sentir; no significado que a experiência me confere.

Assim como Sísifo, que foi condenado a repetir sempre a mesma tarefa de empurrar uma pedra até o topo de uma montanha, é possível que no cotidiano entrelaçado pelo cansaço das atividades rotineiras ou pelos absurdos da existência, é possível sim, fazermos também aí a experiência da afirmação positiva da vida.

Vejamos por exemplo a questão da morte. Ela é sempre trágica. A identidade trágica da morte se caracteriza no seu aspecto de rompimento com o processo natural da vida; e todo e qualquer rompimento trás em si a temática da dor e da angústia do “não-sentido” ou da “não-compreensão”. Toda tragédia é si mesma um absurdo ontológico. Porém, mesmo assim, o trágico traz em sí a afirmação da vida como instancia de continuidade, de movimento. Sempre quando perdemos algo ou alguém, interiormente é reafirmado em nós o valor da posse ou da presença. Este valor intrínseco da vida. Na experiência da morte de alguém muito querido, sentimos em nós essa tensão ontológica entre o rompimento e a perda – o absurdo sem explicação – e o resignificado da existência e da vida que se processa. Há um grande número de pessoas, que logo após a experiência do trágico, percebem que é preciso dá um novo sentido à sua existência mesmo que esta continue ainda no campo do absurdo, do inexplicável. Daí compreendemos, que uma existência inexplicável é bem melhor que uma vida sem sentido.

Por isso, a vida ressurge sempre. Haverá sempre um impulso original criativo dentro dela de onde provêm os sentidos e os resignificados da existência. A vida é um movimento pra frente, vai dizer o também filósofo francês Henri Bergson. Segundo ele, a vitalidade da vida humana é originada a partir do que ele chama de élan vital. Esse termo é utilizado pelo filósofo para designar um impulso original de criação de onde provém a vida e que, no desenrolar do processo evolutivo, inventa formas de complexidade crescente até chegar no homem, à intuição, que é um tipo de devir criador, cuja potência consiste, especialmente em criar, fazer surgir, gerar.

O absurdo de Albert Camus e o elã Vital de Bergson são na verdade suas faces da mesma moeda, duas categorias de uma mesma existência do homem Sísifo, que mesmo diante das armadilhas do cotidiano, empenha um esforço heroico contra o inconformismo ou a toda atitude de fuga do embate existencial. Este homem, que por meio de uma força geradora, dá novo sentido à sua existência absurda.

Damião Fernandes

Damião Fernandes

Damião Fernandes. Poeta. Escritor e Professor Universitário. Graduado em Filosofia. Pós Graduado em Filosofia da Educação. Mestre e Doutorando em Educação pela (UFPB). Autor do livro: COISAS COMUNS: o sagrado que abriga dentro. (Penalux, 2014).

Contato: [email protected]

Damião Fernandes

Damião Fernandes

Damião Fernandes. Poeta. Escritor e Professor Universitário. Graduado em Filosofia. Pós Graduado em Filosofia da Educação. Mestre e Doutorando em Educação pela (UFPB). Autor do livro: COISAS COMUNS: o sagrado que abriga dentro. (Penalux, 2014).

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