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José Antonio

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As chuvas começam a banhar os sertões

19/02/2021 às 09h59

Coluna de José Antônio

Por José Antônio

“Súplica Cearense” é uma composição de Gordurinha e Nelinho. A música ficou eternizada na voz de Luiz Gonzaga e foi gravada por Elba Ramalho, Wagner, Vanusa, Carmélia Alves entre tantos outros. Esta belíssima canção é uma oração que retrata o sofrimento causado pela seca e que fez muito sucesso na década de 60.

Seus versos: “Ó Deus, perdoe esse pobre coitado/ Que de joelhos rezou um bocado/ Pedindo pra chuva cair sem parar. Ó Deus, será que o senhor se zangou/ E só por isso o sol se arretirou/ Fazendo cair toda a chuva que há. Senhor, eu pedi para o sol/ Se esconder um tiquinho/ Pedi pra chover/ Mas chover de mansinho/ Pra ver se nascia/ Uma planta no chão”, espelham muitos momentos vividos pelo sertanejo nordestino. O homem do campo, depois de nove anos de seca, em 2020, começou a vê seus açudes tomarem água e seus campos cobertos do verde, cor da esperança.

As chuvas neste ano de 2021 começam a varrer as terras do sertão, em algumas áreas já ocupam grotas e várzeas. Noutras até os tabuleiros estão atolando. O trovão ronca no espaço e rompe o silêncio da noite iluminada pelo brilho do relâmpago, mostrando as nuvens carregadas de chuvas e acompanhadas de muitos ventos que arrancam as sucupiras e as imburanas.

Nas bacias de alguns açudes já se pensa em plantar as vazantes, principalmente de batatas e jerimuns e nas partes mais altas o gergelim. As águas novas já vomitaram e deram vida aos leitos dos rios secos e a Acauã, que vivia cantando, durante o tempo do verão, “no silêncio das tardes agourando, chamando a seca pro sertão”, do alto da aroeira, silenciosa, se protege das chuvas e dos ventos e ouve a alegria do inverno com o canto do sapo, da jia, da rã, da peitica e do bacurau que anunciam mais chuvas no sertão.

O pasto já começa a crescer no campo, as árvores se enfeitam, o gado fica com o pelo brilhando, os bodes ficam berrando e a cachorra baleia, de rabo cotó, latindo no terreiro de casa, acompanhada pelo canto das guinés e o cocoricar das galinhas. Estas imagens tornam o sertanejo muito feliz e alegre e o faz também cantarolar a música de Luiz Gonzaga: “Ai, São João/ São João do Carneirinho/ Você é tão bonzinho/ Fale com São José/ Fale com São José/ Peça pra`le me ajudar/ Peça pro meu mio dar/ Vinte espigas em cada pé”.

A chuva representa para o sertanejo o maior e mais belo espetáculo da natureza. O sertão de amargo e esturricado, com as chuvas, passa a ser doce e florido, a noite escura se enfeita com vaga-lumes, as manhãs são rompidas pelo canto dos pássaros, pelo relinchar do jumento, pelo cantar do sapo anunciando a desova, pelos gaviões rompendo o céu atrás da juriti.

Já imaginou se o nosso sertão fosse sempre assim, com chuvas regulares, sem a seca braba que afugenta os seus filhos para rincões distantes, causando saudade, dor e sofrimento, a exemplo do que canta Luiz Gonzaga em Asa Branca?

Esperamos que este ano tenhamos um bom inverno.

José Antonio

José Antonio

Professor Universitário, Diretor Presidente do Sistema Alto Piranhas de Comunicação e Presidente da Associação Comercial de Cajazeiras.

Contato: [email protected]

José Antonio

José Antonio

Professor Universitário, Diretor Presidente do Sistema Alto Piranhas de Comunicação e Presidente da Associação Comercial de Cajazeiras.

Contato: [email protected]

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