Cajazeiras ensinou a Paraíba a ler (2)
Calma, gente! Em artigo anterior, eu apenas apontei razões históricas para ancorar a saudação de Alcides Carneiro, inscrita no título deste artigo. Longe estava, pois, de levá-la ao pé da letra. Tanto que a contextualizei, indicando o exagero do autor ao pronunciá-la num arroubo oratório, em tempo de eleição. A frase tem valor simbólico, mas não é figura literária nascida no vazio. Por isso, alinhei fatos para respaldar a tirada do grande tribuno. O meu objetivo era e é realçar, mais uma vez, a importância do padre Inácio de Sousa Rolim, como educador. Aliás, educador de qualidade quando ensinar constituía formidável sacerdócio.
Padre Rolim não foi um mestre-escola. Seu pioneirismo está no fato de ensinar matérias integrantes dos famosos “preparatórios”, uma espécie de cursinho vestibular de acesso às pouquíssimas faculdades então existentes. Lembre-se que a mais antiga escola de direito do Brasil instalou-se em Olinda, em 1828. Dito isso, recorro a depoimentos oficiais no tempo do Império. Do que pesquisei em documentos, firmados por presidentes da Província da Paraíba, a mais remota referência ao colégio do padre Rolim teria sido feita, em 5 de maio de 1854, no Relatório à Assembleia Legislativa, assinado pelo presidente João Capistrano Bandeira de Mello. Ele fala de uma representação dos “moradores da povoação de Cajazeiras, do município da vila de Sousa, sobre a necessidade que tinha aquela povoação d’uma escola de instrução primária”, aliás, criada efetivamente por ele. Logo em seguida, o presidente Bandeira de Mello acrescenta:
“nessa povoação existe um colégio de Instrução superior dirigido pelo Padre Mestre Ignácio de Souza Rolim e, segundo a informação do Comissário, são vantajosas as circunstâncias daquele lugar onde se cruzam diferentes estradas e existe um excelente açude construído pelo dito Padre Mestre”.
E mais, o Mapa da Instrução Secundária mostra o número de alunos matriculados em 1853: na Capital, 135; Cajazeiras, 46; Sousa, 26; Areia, 12; Pombal, 3 alunos. Note-se bem, Cajazeiras ainda era povoado de Sousa. Desde então, em muitas Exposições e Relatórios de presidentes da Paraíba, há referências ao colégio do padre Rolim. No Relatório de 1859, por exemplo, o presidente Beaurepaire Rohan informa que:
“Existem 4 colégios particulares onde se lecionam disciplinas preparatórias, três estabelecimentos nesta capital e um na povoação de Cajazeiras, do município de Sousa, sendo este último assaz freqüentado e de merecido crédito.”
O Mapa nº 7, anexo ao Relatório do diretor da Instrução Pública, registra, para o segundo semestre de 1858, 95 alunos em Cajazeiras e 62 nos 3 colégios particulares da Capital. Outro exemplo. O presidente da província, Sinval Odorico de Moura, mencionando à escola do padre Rolim, no Relatório de 02/07/1865, afirma que “Neste colégio aprende-se Latim, Francês, Geometria, Filosofia e Retórica e é freqüentado por 57 alunos.”
Com essas transcrições de documentos históricos quero tão somente reafirmar o pioneirismo da ação educadora do padre Rolim. Ação estendida, também, ao ensino de pessoas do sexo feminino, no tempo em que as moças eram treinadas para casar, criar filhos, cuidar da casa e do marido…
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