Cássio no senado
Cássio chega ao senado feito time de futebol que vence na prorrogação. De virada. De virada é melhor ainda, dizem os torcedores. Ao desatar a angústia da sofrida espera do apito final, a alegria explode em forma de choro. Na disputa pelo senado, deu-se ao terceiro colocado o gosto efêmero da vitória, logo contaminado pelo fel da derrota. Para sempre. Sem chance de compensar os 10 meses perdidos, Cunha Lima aumentou sua popularidade no decorrer da luta pela recuperação do mandato conferido pelo povo.
Agora cabe notar que a Paraíba ganha com a troca de Wilson Santiago por Cássio Cunha Lima. O ex-senador de Uiraúna foi uma figura menor, embora tenha ocupado cargos de relevo na câmara federal: membro da mesa dirigente e líder do PMDB. Figura menor porque não se conhece de Santiago nenhuma posição firme em torno de questões econômicas ou políticas de repercussão além dos limites de sua obscura atuação de garimpeiro de recursos para obras públicas, tarefa na qual se especializou com sucesso, aliás, sucesso em todos os sentidos. Talvez lhe falte consistência política, que se adquire, por exemplo, no exercício de cargos executivos que funcionam como pontos de apoio à visão estratégica dos problemas nacionais e regionais.
Cássio, ao contrário, chega ao senado exibindo tais requisitos, graças a sua passagem pela prefeitura de Campina Grande, pela superintendência da Sudene e pelo governo da Paraíba. É bem verdade que essas credenciais não são suficientes para a projeção nacional do filho de Ronaldo. Por quê? Em primeiro lugar porque a experiência acumulada em funções executivas é apenas um requisito e não condição que se basta a si mesma. É só olhar a mediocridade de nossa representação no Congresso Nacional, embora tenha ex-ministros, ex-prefeitos.
Há outro problema. Cássio entra no senado sob olhares da desconfiança. Desconfiança? Exato, desconfiança que tem dupla origem, uma das quais, herdada. Refiro-me à projeção na mídia nacional da imagem de seu pai, Ronaldo Cunha Lima, como agressor violento do ex-governador Tarcísio Burity. Imagem associada, lá fora, ao estereótipo de coronéis nordestinos que resolvem à bala suas desavenças. A outra fonte da desconfiança nasce nas próprias circunstâncias da ascensão de Cássio ao senado, marcada pelo estressante litígio judicial, cujo desfecho não o absolve da mácula de ter usado meios ilícitos para reeleger-se governador em 2006.
Do conturbado processo contra Cássio, realça a decisão do Supremo Tribunal Federal. Com efeito, o STF deixou de enquadrá-lo na Lei Ficha Limpa com base numa preliminar de natureza constitucional: a Lei não se aplica às eleições de 2010. Ponto. Disso resulta uma zona cinzenta, na qual desliza a conduta eleitoral de Cássio para vencer a eleição em 2006. Na Paraíba, essas sutilezas estão esmaecidas pelo tempo e pelo desgaste da repetição. Lá fora, porém, se acham vivas e fortes.
Por tudo isso, é benéfica a presença de Cássio no senado, por longo tempo, o que pode lhe dar a chance de apagar essas nódoas impregnadas à sua trajetória política, credenciando-o a ombrear-se a grandes figuras que, no passado, encheram de orgulho os paraibanos.
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