Outros 11 de setembro
As matérias divulgadas sobre os atentados sofridos pelos Estados Unidos, 10 anos atrás, focaram as terríveis imagens, dolorosas recordações, depoimentos emocionantes, justas homenagens, acompanhadas de análises feitas no mundo inteiro. A brutal ação terrorista deixou à mostra a vulnerabilidade da segurança das pessoas e das instituições no território da maior potência militar e econômica do século 20, gerando conseqüências até na geopolítica mundial. Tudo isso explica a cobertura espetacular da mídia. Em meio ao turbilhão da memória do 11 de setembro de 2001, surgiram com mais clareza os motivos que levaram o governo americano a tomar, emocionalmente, decisões fundamentais para a humanidade, algumas baseadas em relatórios mentirosos para justificar, por exemplo, a invasão do Iraque. O tema constitui objeto de estudos, já divulgados em livros, ensaios, artigos, peças de ficção. E permanecerá vivo por muitos e muitos anos tão profundas foram (e continuam sendo), as implicações da loucura praticada por agentes do terrorismo armado.
Por mera coincidência, em 11 de setembro de outros anos houve acontecimentos menos dramáticos, mas, nem por isso, irrelevantes para a história do século passado. Selecionei apenas dois episódios. O golpe militar no Chile, seguido do suicídio do presidente Salvador Allende, ocorrido em 11 de setembro de 1973. O outro fato deu-se no Leste europeu, em 11 de setembro de 1989: a permissão dada pela Hungria a alemães do lado comunista para viajar a Alemanha Ocidental.
O Chile era até a intervenção violenta do general Augusto Pinochet o país subdesenvolvido modelo de estabilidade democrática, com elevados padrões de liberdade, partidos políticos estruturados, sociedade de nível cultural invejado pelos vizinhos da América Latina. A estabilidade era frágil. Não resistiu ao governo da coalizão de esquerda, comandada pelo Partido Socialista, que teve o mandato interrompido com violência em 11 de setembro de 1973.
Foram 17 anos de ditadura (1973-1990), corrupção e brutal repressão política, só comparável à da Argentina. O golpe no Chile enterrou o sonho, o ingênuo sonho de alcançar mudanças estruturais profundas, pela via democrática, em áreas periféricas, no tempo da Guerra Fria.
Em 11 de setembro de 1989 começou a derrubada da chamada “cortina de ferro”. Naquele dia, o governo comunista da Hungria liberou suas fronteiras com a Áustria para que os alemães do Leste pudessem viajar à Alemanha Ocidental. Antes, houve secretas articulações sob o influxo dos ventos reformadores soprados por Mikhail Gorbatchov, o chefe russo que ousou abrir caminhos para revisar o falso socialismo praticado na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas – URSS. O episódio da fuga em massa de habitantes da Alemanha do Leste, através da Hungria, embora pouco lembrado, foi passo decisivo para apressar a queda do Muro de Berlim, dois meses depois, e enterrar a Guerra Fria, uma das mais estúpidas arengas ideológicas de nosso tempo.
Os três fatos ocorreram em lugares e anos diferentes: Chile, 1973, Leste Europeu, 1989, Estados Unidos, 2001. Eles se afinam pela coincidência do dia 11 de setembro. E também porque provocaram mudanças no rumo da história. Cada um com seu peso e suas peculiaridades.
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