Presentes de João Mendes
Cristiano Cartaxo passou grande parte de sua vida cercado de livros. Adorava recebê-los de presente, ofertados por gente amiga. Às vezes, livros em francês, língua que meu pai ensinou anos a fio nos colégios de Cajazeiras. Quando menino, compartilhei o ritual usado por ele ao abrir pacote dos Correios ou ao folhear os impressos à vista do presenteador. João Mendes era um deles.
O hábito de cascavilhar coisas antigas, me levou esta semana a examinar dedicatórias em alguns livros recebidos por meu pai. Entre muitas expressões de carinho, vai aqui uma amostra. Pequena amostra. De João Mendes, o mais prestativo em cumular o velho poeta com publicações, seleciono estas palavras: “ao eminente vate” ou “inolvidável benemérito”, com o “perene apreço” ou ainda “ao grande bardo, com a ilimitada admiração e estima”. Todos esses termos foram extraídos de oferecimentos em publicações patrocinadas pela Comissão Cultural do Município de Campina Grande, a exemplo do “Jornal de Arte”, coletânea de textos de Ruben Navarra (pseudônimo do intelectual campinense Rubens de Agra Saldanha). E também do livro “Um Cronista do Século Passado”, de Geraldo Irineu Jóffily, na verdade, apontamentos à margem de “Notas Sobre a Paraíba”, de Irineu Jóffily. Irineu Jóffily, o velho, foi advogado, político, fundador do jornal “Gazeta do Sertão”, semanário editado em Campina Grande, entre 1888 e 1891, ainda hoje fonte de informações sobre a história paraibana, no ocaso do Império e o começo da República. Dentro deste último livro encontrei uma carta de João Mendes a Cristiano Cartaxo, datada de 15 de junho de 1965, na qual ele comenta as novidades e acrescenta:
“No mundo intelectual, houve o lançamento do livro “A Palavra e o Tempo”, do eminente José Américo de Almeida, que contém os seus principais discursos proferidos desde 1937, quando pleiteava sua eleição à presidência da República. Creio que o senhor já o tenha lido, razão por que não o envio.”
Sete anos depois, o mesmo João Mendes remeteu a meu pai as três novelas de José Américo, (“Reflexões de uma Cabra”, “Coiteiros” e “O Boqueirão”), editadas em 1971 pelo MEC em convênio com a Editora Leitura S A, contendo, ainda, longos ensaios assinados por vários autores a respeito da obra de um dos precursores da ficção regional brasileira, que tem em “A Bagaceira” um ponto de inflexão.
O cajazeirense João Mendes da Cunha nasceu no sítio Montes. Já homem feito mudou-se para Campina Grande, aí pelos anos de 1950, onde exerceu com rigor ético e competência a profissão de Contador. Quando eu era adolescente, presenciei longas conversas dele com meu pai no terraço do casarão onde nasci. Hoje, aposentado, João Mendes continua na Rainha da Borborema, lúcido, com quase noventa anos de idade, cultivando o eterno amor a Cajazeiras, dividido com a família e amigos como o seu contemporâneo José Epaminondas Braga.
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